A MESMA MEDIDA
Os filhos de Deus, no caminho de sua evolução, na disputa pela existência, na vida social, comunitária ou no exercício da cidadania, andam experimentam inauditas dificuldades para o seu progresso e aperfeiçoamento.
Não por outra razão, estamos freqüentemente avaliando os outros. Geralmente sem conhecermos os fatos de forma completa, ousamos fazer julgamento dos atos da vida de outrem.
Basta um comentário informal na “roda de amigos” ou no seio familiar e o estopim da maldade explode e cada um dos participantes da confraria, faz o papel do promotor acusando a sua “vítima”, e em seguida julga impiedosamente, valendo-se da oportunidade para também condenar a penas amargas.
Via de regra, têm também conselhos a oferecer a inditosa reunião ou conferência, dizendo: Bem feito. “Fulano deveria fazer ou ter feito como eu faço”. Acho hilário esse proceder.
As pessoas não são iguais. Deus me livre se todos gostassem da cor azul. O mundo seria insuportável. O que seria do amarelo, do branco, do verde, do vermelho. A propósito é conhecido o axioma de que os iguais estagnam-se e os divergentes crescem.
Abomina-se os misantropos ou eremitas. Eles não são sábios porque se afastam da sociedade. São, respeitosamente, praticantes do egoísmo. Juntos, vivendo em sociedade, excitando a solidariedade, apreendemos uns com os outros e nos ajudamos mutuamente cumprindo a lei de progresso. É essa uma das 10 Leis que a Divindade estabeleceu para suas criaturas encontrarem o caminho dos altiplanos celestiais.
É verdade que sob os auspícios da questão número 133 de “O Livro dos Espíritos” fomos criados todos simples e ignorantes pelo Senhor do Universo. Mas não se segue daí que tenhamos sido criados ao mesmo tempo. Parodiano Jesus de Nazaré poderemos evocar sua prédica. O Pai trabalha até hoje e eu também.
Logo, é crível concluir que as pessoas têm o direito de serem diferentes. Desiguais. Elas têm valores subjetivos próprios. Sua elevação espiritual tem tonalidades mil que não imagina a nossa vã filosofia.
É sempre conveniente não apressar a tua raiva ou seu comentário sarcástico, pois temos que dar um tempo para esse procedimento inditoso diluir nas águas mansas de nossa consciência.
Da mesma forma não podemos apressar o nosso próximo, pois ele tem o seu próprio tempo para amadurecer, crescer e evoluir espiritualmente florescendo aos olhos do Criador. Não devemos apressarmo-nos, pois também nós carecemos de tempo para sentir a nossa própria elevação espiritual.
Bem por essa razão, o Divino Jardineiro, em conhecida passagem evangélica, afirma que cada um será medido com a medida que aplicar aos outros. Encontra-se nesse conceito o princípio de justiça, já revelado no comando de amar ao próximo como a si mesmo. Pelo mandamento do amor, surge o dever de tratar o semelhante como se gostaria de ser tratado, se estivesse em seu lugar.
A idéia básica é uma igualdade essencial entre todos os homens. Embora diferentes pelas posições que ocupam na vida em sociedade, nenhum possui essência apartada da dos demais. Evidentemente, há criaturas mais adiantadas, cuja bondade e sabedoria causam admiração.
Entretanto, na origem e no fim todos se aproximam. Saídos da mais absoluta simplicidade chegarão à plenitude das virtudes angélicas. Enquanto percorrem a longa jornada, devem se auxiliar mutuamente. A lição cristã cinge-se basicamente à fraternidade.
É possível sofisticar o pensamento e encontrar nuanças preciosas nos ensinamentos do Cristo. Mas é preciso cuidado para não esquecer o básico, nessa busca de detalhes, por valiosos que sejam. O essencial reside em aprender a olhar o próximo como semelhante, um irmão de caminhada.
Se porventura o nosso próximo se apresenta vicioso e de convívio pouco atrativo, nem por isso deixa de ser uma preciosa criatura de Deus. Por essa mesma razão, o maior pedagogo da história da humanidade lecionou: Quando fossemos fazer nossa oferta ao Senhor da Vida, se recordássemos de alguma cizânia com alguém, ou se albergássemos em nosso coração mágoa, rancor, ódio.
Qualquer sentimento que nos rebaixe a categoria de filhos de Deus, deveremos depositar nos pés do altar nossa oferenda e ir primeiro reconciliar com o adversário. Ele também é filho da Providência Divina e essa será a oferta que melhor agrada a Consciência Cósmica.
É justamente perante os equivocados do mundo que o Homem de Nazaré veio. Não para os sadios. Mas para curar as chagas daqueles que estão em desalinho, ou na consciência do sono. Evitar em rodas de amigos, em casa ou no nosso trabalho o na sociedade por onde mourejamos, falar mal do próximo é caridade e um ótimo exercício de virtude.
Somente os Espíritos puros estão isentos de cometerem deslizes, pois já percorreram todos os degraus da escala da evolução. Todos os demais cometem erros. Mesmo homens bem intencionados por vezes erram.
Por que então medir-se a outrem olvidando a lição do Mestre passada a Pedro no momento de ser aprisionado, mandando Pedro guardar a espada, porque com a mesma arma que tu feres serás ferido.
Não se trata de uma tragédia o erro. Por essa razão, não devemos condenar a ninguém, sequer em pensamento. A vida propicia meios de reparar os estragos e seguir em frente.
Uma visão estreita da Divindade pode levar à concepção de que Ela sempre está a postos para punir suas criaturas. Entretanto, não é assim. As Leis Divinas encontram-se escritas na consciência de cada Espírito, segundo a questão numero 621 do codex mencionado.
Elas visam à educação e à evolução dos seres, não a sua punição. O rebote do desconforto que a violação da lei provoca destina-se a incentivar a retomada do caminho correto.
É possível ignorar os protestos da própria consciência um tempo, mas não indefinidamente. Sempre surge o momento em que ela fala alto e atrai as experiências retificadoras do mal cometido.
Ocorre que o mesmo homem que encontra desculpas para seus equívocos, por vezes, é severo crítico do semelhante. Ao assim agir, molda em seu íntimo um juiz implacável. Quando chegar a sua hora de prestar contas dos próprios atos à eterna justiça, as medidas desse juiz severo é que lhe serão aplicadas.
Ciente disso convém treinar um olhar indulgente para as falhas alheias. Não se trata de tentar burlar a incidência da justiça divina, sempre perfeita.
Mas de não valorizar em excesso a sombra e a dor e de compreender a falibilidade natural do ser humano. Esses conceitos, leis da vida e ensinamentos que enaltecem o coração, podem também ser encontrados na Redação do Momento Espírita de 16.04.2009, nos concitando a correta medida de nosso procedimento.
Com esses sentimentos d’alma, segue nosso ósculo depositado em seus corações, com a oblata da fraternidade universal, com votos de um ótimo final de semana em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli