Há um dogma na igreja católica prescrevendo que fora da igreja não há salvação. Por tempo que se perde na memória se professou esse conceito, criando nos filhos de Deus a sensação de que o traje, os gestos, paramentos, as orações repetidas infindáveis vezes, enfim, os dogmas, poderiam conduzir os filhos da Providência Divina aos páramos celestiais.
O Cristo de Deus, todavia, asseverou que não nos deixaria órfãos. Quando fosse o momento, obviamente, quando nosso intelecto estivesse evoluído e o espírito desperto para as realidades da vida, para bem compreender suas prédicas ele rogaria ao Pai que nos mandaria outro Consolador.
Foi o que ocorreu nos idos tempos do século XVIII, no inesquecível dia 18 de abril de 1857, manhã radiosa de primavera com as flores emoldurando naquele sábado o Champs-Élysées, situado na famosa Avenida em Paris, capital de França, na Galeria Orleans, no Palais Royal, na livraria do Monsieur Dante vinha a lume, “O livro dos Espíritos” cumprindo a promessa do Divino Galileu.
No Pentateuco, mais especificamente no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, a imensa reforma íntima que os filhos da Divindade carecem fazer para alcançar os altiplanos celestiais.
O marco inaugural é a caridade, pois fora da caridade é que não existe salvação. Não há mais dúvida. Não há mais engano. Não há mais estradas ou veredas a percorrer. O caminho e a direção certeira é a PRÁTICA DA CARIDADE, em todo gênero, número e grau.
Com fulcro nessas considerações, podemos conceber a grande viagem da vida, servindo de metáfora para melhor compreender o nosso percurso por essa existência.
É
uma viagem de trem onde podemos observar uma grande diversidade de situações, pessoas, objetos e coisas ao longo do percurso.
E a nossa existência terrena, comparada a uma dessas viagens. Ela é cheia de embarques. São os nossos filhos, netos, parentes e amigos que tomam a condução da vida para realizar as provas e expiações.
Acontecem também os desembarques: aqueles que já cumpriram a missão a que se inscreveram na pátria espiritual e voltam para prestar as contas ao Senhor da Vida.
Durante o trajeto, ocorrem acidentes. Muitos perdem a visão, um braço, uma perna em cumprimento à lei de causa e efeito, pois nada acontece no mundo do Senhor do Universo por acaso, mas por uma causa.
Muitas surpresas agradáveis em alguns embarques na grande viagem da vida. São as pessoas a quem temos afinidades e nos encontramos no trajeto. A esposa ou marido que se reúnem em nome do amor para vivenciarem o seu programa de vida e resgatarem os desacertos do passado.
Encontramos amigos fraternos, pessoas que nos dão imensa alegria em compartilharmos a existência e nos ajudarmos mutuamente. Trabalhamos na prática da caridade, prestando serviços sociais, oferecemos nosso contributo nas quermesses, nos hospitais, nos centros espíritas.
Há tantas oportunidades de fazer a caridade: estender a mão ao necessitado. Ouvir aqueles que estão entibiados em seus sentimentos oferecendo o ombro amigo. Ajudar os caídos, os que vêm na retaguarda.
Os idosos nos asilos. Oh, Meu Deus! Quantas oportunidades, quantas bênçãos são colocadas em nossas vidas nessa viagem para os esplendores celestes em nome da nossa salvação.
T
ristezas também fazem parte do pacote da viagem. Há momentos em que a desesperança toma conta de nossos corações dando-nos a sensação de que tudo está perdido.
Será a hora de evocarmos o escólio do Divino Jardineiro:
“Vinde a mim todos vós que sofreis e que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomais o meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas; porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve”.
Compõem a nossa viagem de provas e expiações em trânsito pela vida, as tristezas com algumas partidas. Na poesia cabocla se dizem daqueles parentes, amigos, pais, mães ou filhos que partem “antes da hora combinada”
Por essa razão, quando nascemos e entramos no trem da vida, nos deparamos com algumas pessoas que desejamos, estejam sempre conosco, entretanto, em alguma estação eles descerão e nos deixarão órfãos dos seus carinhos, amizade e companhia insubstituíveis. Nada, contudo, impede que durante a viagem outras pessoas especiais embarquem para seguir viagem conosco e lá vêm os amigos, irmãos, amores e filhos.
Algumas pessoas circularão pelo trem da vida, prontas para ajudar a quem necessite. Mohandas Karamchand Gandhi, Hippolyte Léon Denizard Rival, Madre Teresa, em Calcutá, Irmã Dulce, Dr. Bezerra de Menezes, e Eurípedes Barsanulfo no Brasil, Pátria do Evangelho e Coração do Mundo, na poesia memorável do Espírito Humberto de Campos.
Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, Joana de Ângelis, Martin Luther King Jr., nos EE.UU., Tales de Mileto e Sócrates na Grécia antiga, entre tantos outros espíritos luminares que o Cristo de Deus envia constantemente à Terra para nos dar o exemplo de que a caridade é a senha e o passaporte para a nossa salvação.
C
urioso é constatar que alguns passageiros, que nos são caros, se acomodam em vagões distantes do nosso, o que não impede, é claro, que durante o percurso nos aproximemos deles e os abracemos em nome do amor fraterno e da caridade, da amizade e da solidariedade.
A grande viagem da vida em nome da caridade, senha da salvação é cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas. O importante, mesmo, é que façamos nossa viagem com a viva recordação de que o Cristo teve de vida pública apenas três anos e nos legou lições imorredouras para toda eternidade para seguirmos seus passos.
Na cesta básica da vida, o principal produto sem dúvida serão as lições do Homem de Nazaré e a caridade, combustível indispensável da nossa viagem por esse planeta de provas e expiações.
Não nos esqueçamos que em algum momento do trajeto podemos fraquejar e, provavelmente, precisaremos da ajuda de nossos irmãos caridosos estendendo-nos as mãos como Jesus ensinou.
Viver em paz, procurando praticar a caridade em todo o seu colorido é a grande pedida, já que no trem da vida, jamais saberemos em qual parada teremos que descer e muito menos em que estação descerão nossos amores, nossos filhos, netos e nem mesmo aquele que está sentado ao nosso lado.
É possível que quando tivermos que desembarcar, a saudade venha nos fazer companhia. Porque não é fácil nos separar dos amigos, nem deixar que os filhos sigam viagem sem a nossa presença física. Com certeza será muito triste. No entanto, em algum lugar, há uma estação principal para onde todos seguirão.
E, quando chegar a hora do reencontro, viveremos grandes emoções ao poder abraçar nossos entes queridos, matar a saudade em nome da família universal.
O
s nossos anelos são de que a nossa caridade, virtude que nos abre as portas da felicidade na grande viagem da vida seja uma imensa oportunidade de aprender e ensinar, entender e atender aqueles que viajam ao nosso lado, porque não foi o acaso que os colocou ali, mas as bênçãos do Pai Celestial.
Tomara que aprendamos a amar e a servir, compreender e perdoar, abandonar as armas, as guerras os desentendimentos, pois não sabemos quanto tempo ainda nos resta até a estação onde teremos que deixar o trem.
Se porventura nossa viagem não estiver acontecendo como planejamos, renove as esperanças, Jesus nos exortava a termos bom ânimo, por isso dê a viagem presente, uma nova direção. Mude de vagão.
Observe a paisagem maravilhosa com que DEUS enfeitou todo trajeto. Busque uma maneira de dar utilidade às horas. Preocupe-se com aqueles que seguem viagem ao seu lado. Deixe de lado as queixas e faça algo para que sua estrada fique marcada com rastros de luz.
Tenha uma viagem feliz em nome do grande amor do Pai por seus filhos, pois sendo Onipotente, Onipresente e Onisciente, pode habitar em qualquer lugar do universo, mas escolheu por amor habitar em nossos corações.
Nesse estado d’alma, segue nosso ósculo depositado em seus corações com oblata da fraternidade, desejando um ótimo final de semana em nome do Mestre Jesus.
Do amigo de sempre.
Jaime Facioli.