O Papa renunciou às tarefas a que estava incumbido. Oxalá esteja em paz com os seus propósitos, pois a ninguém será lícito julgá-lo em sua escolha. O fato significativo é que estamos vivendo a semana considerada santa. Nessa oportunidade a Igreja Católica cobre os santos, simbolizando o luto dos episódios transatos na história da humanidade de cuja memória nenhum de nós pode se orgulhar.
O luto do Cristo de Deus na matéria. Apesar desse fato histórico inditoso, todos os anos se renovam às festividades da páscoa, não antes sem a tradição de malhar o Judas. Que loucura! Que falta de caridade! A utilização do instrumento do perdão, então, nem pensar. Por outro lado, a tradição nos ensina a conservar muitas coisas, mesmo àquelas que não têm mais propósitos na nossa vida. É o caso dos hábitos alimentares. Nada de comer carne na semana santa. Os peixes e os crustáceos serão a bola da vez.
É uma penitência sem sentido. Se a carne não faz bem para o organismo e não é mesmo a melhor opção alimentar, que seja abolida definitivamente ou substituída por uma alimentação frugal. Abster-se dessa alimentação por penitência não convence a lógica existencial. Se não se deve comê-la na semana santa, também não se deve dela servir no resto do ano, porque seria passar atestado de alforria para que não pecássemos apenas nessa semana e o resto do ano estaríamos desalgemados para as ilicitudes.
Por isso dizer que a tradição, muitas vezes nos faz esquecer as dádivas que o homem de Nazaré nos trouxe como luz ao mundo, para aclarar nossa mente, nosso espírito e nossa alma, dando-nos as coordenadas para a felicidade.
Bem por isso, anote-se que a páscoa tradicional nos convidar a deglutir os deliciosos ovos de páscoa sem ter apenas esse propósito. Ela em verdade representa muito mais em nossas vidas. Como se sabe, a páscoa é a passagem que representou nos proscênios da história da humanidade o trânsito do povo Hebreu da escravidão para a liberdade existencial, abandonando o jugo dos despóticos e insensatos.
A páscoa significa a passagem que nos faz recordar o que o homem de Nazaré sofreu para nos recuperar para a vida eterna, em nome do Pai Celestial que nos ama a todos e que na imensidão de seu amor nos enviou o Celeste Amigo para oferecer-nos o caminho, a luz e paz que todos os corações anelam com sofreguidão.
A cada ano a história se repete. Jesus caminha entre a multidão. Delirantemente o aplaudem com ramos de palma, exclamando Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do senhor, Rei de Israel.
Acompanham-no os discípulos. Afinal, era preciso testemunhar um Cristo que cura os cegos, levanta os coxos, perdoa as Madalenas da vida e fez ressuscitar Lázaro, de quem todos fugiam pelas suas chagas, pelo seu aspecto repugnante de um ser contaminado pela lepra, como ainda hoje fazemos quando nos deparamos com um doente em estado avançado de enfermidade.
A páscoa é Jesus passando pelas criaturas, tal como fez naquela época, hoje também, deixando marcas profundas dos milagres que realizava e realiza no presente para àqueles que conseguem se elevar em sua fé as culminâncias de seu amor, no seio da família, no ambiente de trabalho, nas cidades onde mourejamos, ou nos serviços de benemerência a que nos propomos, em nome da caridade, senha de nossa elevação às plenitudes existenciais.
Quem é esse homem nos perguntamos, que o fazem rei do mundo, apesar de não morar em castelos e não se sentar nos tronos da vida, e não obstante, não ter espaço no Palácio do Planalto, ou nas Excelsas Cortes da Nação, e que em verdade, para o seu nascimento haveria de ter uma manjedoura como berço e humildes pastores como primeiros visitantes?
Quem é esse homem que multiplicou os pães e os peixes, que transformou água em vinho, que anda sobre as ondas, e a quem os peixes ouvem e que represa o mar para dar passagem ao seu povo? E a lição de vida se concretiza com a sua morte no madeiro infame. Jesus, o Cristo de Deus, sem nada dever esteve na Cruz entre dois ladrões.
No último suspiro, uma mulher que chora em lúgubre silêncio ouve a palavra a João, O discípulo amado, quando o vê junto a ela: Mulher, eis aí teu filho. Panos aromatizados cobrem o corpo dilacerado de Jesus, sem ter qualquer um de seus ossos quebrados.
José de Arimatéia e Nicodemos mais uma vez, se fazem presentes nos últimos instantes do seu calvário para enterrar, em lugar desconhecido, o Divino Mestre, que negado três vezes por Pedro, traído por Judas, ainda, entre dores cruciantes, conversava com o Pai diante da turba: “Perdoa-lhes Pai, eles não sabem o que fazem,”
E Jesus ressurge das pedras do sepulcro para abrigar-se, por inteiro, na dimensão do infinito, passando a morar dentro de cada um de nós, seus irmãos aflitos, convidando-nos a ir até ele, quando nos encontrarmos aflitos e cansados, para que ele nos alivie a canga, se tomarmos sobre nós o seu jugo, para aprender com ele, pois o seu fardo é leve e seu jugo é suave.
Na páscoa é indispensável é relembrar os fatos ocorridos na poeira do tempo e aprender com ele a vencer todas as dificuldades que a vida oferece àqueles que são candidatos à felicidade. Não importa o que nos tenha acontecido no passado, ou que esteja hoje a nos atormentar ou mesmo as preocupações com o porvir.
O que conta é que nessa semana, mais uma vez estamos renovando as esperanças de um porvir melhor, mais fraterno, de amor sincero, quando nos recordamos e renovamos as esperanças de que o Divino Galileu não padeceu em vão, ou por acaso, mais por uma causa; a causa de nossa salvação. Dessa maneira, seguir a sua trilha, o seu modelo e os seus exemplos é passaporte para a felicidade na Páscoa da renovação.
A sexta feira da paixão é o símbolo de que Ele passou a morar dentro de cada um de nós. Busquemo-Lo nessa passagem da páscoa, busquemo-Lo todos os dias de nossa existência, pois, a sua figura, por Excelência, está sempre de braços abertos para nos receber. É ele que faculta as oportunidades de observarmos os Pilatos da vida, lavando as mãos com o sangue dos “inocentes”, em qualquer rincão onde imperam os insensatos, os despóticos que olvidam a justiça da Providência Divina, ou mesmo quando nos trocam pelos Barrabás da atualidade, nas oportunidades em que os interesses de uns são maiores que a dignidade de outrem.
Não tem importância, as sombras do mundo, se nossa postura e convicção forem de que a sexta feira santa e a páscoa tragam do imo de nossa alma a realidade da passagem do Divino Pastor por esse planeta de Provas e Expiações, com o propósito de pacificar os corações em aflição.
Nada tem importância maior em nossas vidas, se estivermos certos de que sua história e prédicas se constituem no acalentamento de nossas almas, na pacificação de nossos espíritos e no asserenamento de nossos corações sofridos, balsamizando nossos espíritos na jornada terrena.
Nesse díptico, é ensejo para fazer dessa Páscoa, uma festa de amor junto à família, aos filhos, aos parentes, a nossa comunidade, a nossa igreja, à nossa congregação, ao nosso centro espírita, em qualquer lugar onde tenhamos sido colocados pela Divindade, celebremos a efeméride como uma grande festa de amor, a festa do Homem de Nazaré, renovando as esperanças em nome do Cristo de Deus, de tal sorte que possamos ter sempre à nossa frente, não a via crucis na estrada de Jericó, mas a presença do Celeste Amigo à nossa frente, não só como o Salvador de nossas almas, mas, acima de tudo, como o modelo e guia a ser seguido por todos àqueles que têm sede de justiça.
Com esse ideário, anelando que a nossa festa de Páscoa não se perca nas delicias dos chocolates, comemoremos também a efeméride do amor no Cristo de Deus com o amor em plenitude em seu nome. Neste estado d’alma, segue nosso ósculo em seus corações com hóstia da fraternidade desejando um ótimo fim de semana em nome do Divino Pastor.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli.