Incontáveis criaturas, filhas da Consciência Cósmica tem como metáfora o sentimento de que o silêncio é uma prece, e, em vários estabelecimentos de ensino, hospitais e repartições públicas expõe-se esse adágio. Conquanto seja nobre esse ideal, que não se engane a vã filosofia, porque ainda que o silêncio exterior possa induzir a reflexão de que a pessoa encontra-se conectado em rogativa ao Senhor da Vida, a verdade é que inúmeros pensamentos desalinhados, furtos e roubos, assassinatos e toda sorte de crimes são engendrados na calada da noite justamente no momento do silêncio.
A utilização do silêncio, com certeza, é prece quando se entrega de corpo e alma em solilóquio com O Senhor do Universo, conectando-se os pensamentos mais íntimos do ser a nobreza das virtudes, ao purificar a alma e coloca-se como autêntico filho de Deus em busca do seu aprimoramento e elevação espiritual, seja através de um pedido, do louvor ou da gratidão. Ao contrário, na balbúrdia do mundo exterior, não é de bom alvitre que os caminheiros se permitam perderem o tom do equilíbrio, seja nas conversações, seja nos momentos de júbilo, ou nas comunicações fraternais.
Lamenta-se e não há dúvida que na sociedade moderna muitas pessoas, gritam, elevando o tom da voz, quando deveriam apenas falar suavemente, a exemplo de Jesus que em sua mansuetude orientava com absoluta compostura. Não há necessidade de competição de ruídos e vozes ensurdecedoras que perturbam o discernimento, retirando a harmonia que deve prevalecer no âmbito daqueles que viajam pelas veredas do planeta Terra em provas e expiações.
O mesmo se diga das músicas que deixam, vez que outra de serem harmônicas, se apresentando ruidosas, sem nenhum sentido estético, expressando os conflitos e as desordens emocionais dos seus autores e ouvintes. Há um predomínio da violência em tudo, nos sentimentos, nas conversações, nas atividades do dia a dia, tudo atormentando a paz das criaturas.
A ninguém será licito olvidar que a voz é instrumento delicado e de magna importância na existência humana, e como o homem é o único animal que consegue articular as palavras para se fazer entender, óbvio que o ser humano deve se utilizar do aparelho fônico na condição de jóia preciosa, utilizando palavras que enobrecem em detrimento as palavras chulas e de baixo calão, porque, do seu uso terá que dar contas à consciência cósmica que lhe concedeu o admirável tesouro.
Jesus, o Sublime Comunicador, cuja dúlcida voz inebriava de harmonia as multidões, viveu cercado sempre pelas massas. Sofreu-as, compadeceu-se delas, mas não se deixou aturdir pela sua insânia e necessidade. Logo depois de as atender, recolhia-se ao silêncio, fugindo do bulício, a fim de penetrar-se mais pelo amor do Pai, renovando os sentimentos de misericórdia e de compreensão. Procedia dessa forma, a fim de que o cansaço, que surge no bom combate, não lhe retirasse a ternura das palavras e das ações.
É notório que todos na caminhada evolutiva necessitam do silêncio, mas o silêncio interior, para refletir, meditar e orar, máxime expor a gratidão as bênçãos recebidas, distribuídas a mancheia pelo Senhor do Universo aos seus filhos em viagem pelo planeta terra, de maneira que o silêncio execute programações dignificantes em qualquer área do comportamento por onde mourejam as criaturas.
É elegante aprender a calar e a meditar, harmonizando sem perder a seriedade diante da multidão desarvorada e falante. É crível se compreender que as criaturas com os espíritos já iluminados pela luz do amor, saibam silenciar, mas o fazem em oração perante as necessidades do outro. Silenciam também em respeito ao sofrimento alheio, acolhendo no coração a justiça de Deus, sem o acusar das fatalidades. São também capazes de calar em silêncio tumular em consideração às ideias divergentes e da mesma sorte são generosos no silêncio que merece a vingança diante dos males recebidos de outrem.
É no mundo do silêncio que construímos as palavras edificantes que sairão de nossa boca. É no mundo sem voz que elaboramos o canto que logo mais irá encantar ouvintes numa sala de concertos. É no mundo do silêncio que embalamos nossos amores, que pensamos em melhorar, reformar e transformar. Com esses sentimentos d’alma, sempre será oportuno saber dosar o silêncio em nossas vidas, evitando a algaravia e a loucura de se instalar em nossos espíritos.
A voz é para ser usada com cuidado, e a cada pronuncia da palavra, há de imitar a tarefa de um concertista na interpretação de uma ópera, pois a música elevada tem a cor da vida, composta de som e do silêncio, segundo se colhe em essência no livro Jesus e vida, pelo Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. LEAL.
Com esses considerandos, vemos a importância do silêncio da alma, pois todos os filhos da Divindade, de uma forma ou de outra sentem a presença de Deus dentro de sua alma. Alguns mais sensíveis podem ver Deus na natureza, no ar que respiramos, no perfume das flores, autógrafo do Senhor da Vida, colocado no altar da natureza para presentear seus filhos em viagem pelo planeta de provas e expiações.
Essas preocupações também tomaram conta dos sentimentos mais íntimos da alma do preclaro codificador, Hippolyte Léon Denizard Rivail, na questão número quatro de “O Livro dos Espíritos” quando ele indaga do Espírito da Verdade, onde se pode encontrar a prova da existência de Deus. A resposta serena do venerando espírito vem vazada “ipsis verbis” no seguinte texto: “Num axioma que aplicais as vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá”. Nesse sentir ele nos concita a refletir que para crer, ver e sentir a presença do Pai Celestial, como Jesus nos ensinou a chamá-lo, basta lançar os olhos sobre as obras da criação. Se o Universo existe é porque ele tem uma causa.
Duvidar da existência de Deus ou não senti-lo no silencio de sua alma equivale a negar o que admite a lógica da ciência de que todo efeito tem uma causa. Por essa razão, em nome da lógica e da boa reflexão, não se admite que o nada tenha o poder de realizar alguma coisa.
Sob outro díptico, o silêncio mantém o segredo, e é a canção da alma. Alguns escutam o silêncio na oração, outros cantam a canção em seu trabalho, alguns procuram os segredos na contemplação tranquila. Quando se alcança a maestria, os sons do mundo se apagam e as distrações se aquietam. Toda a vida se transforma em meditação na qual se pode contemplar o Divino, sabendo que tudo na vida é benção. Já não há luta, nem dor, nem preocupação. Só a experiência.
Respira em cada flor, voa em cada pássaro, encontra beleza e sabedoria em tudo, já que a sabedoria está em todos os lugares onde se forma a beleza. E a beleza se forma em todas as partes. Quando ages, neste estado transforma tudo o que fazes numa meditação e assim, num dom, num oferecimento de ti para tua alma e de tua alma para o Todo. Ao lavar os pratos desfruta do calor da água que acaricia tuas mãos. Ao preparar a ceia sinta o amor do universo que te trouxe o alimento e como um presente teu ao preparar a comida, derrama nela todo o amor do teu ser.
Ao respirar, respira longa e profundamente, respira suavemente na simplicidade da vida tão plena de energia e de amor. É o amor de Deus que está respirando. Respira profundamente e poderá senti-lo e esse amor fará chorar de alegria por ser filho da Potestade. É nesse silêncio que se encontra a verdadeira prece.
Jaime Facioli.