Uma das questões que assombram a consciência dos que têm sede de conhecimento é saber se a predestinação existe, ou em outras palavras, se existem seres predestinados ou se estamos todos sujeitos aos acontecimentos da vida, de sorte que, tudo o que nos acontece no trânsito de nossa existência por esse planeta de provas e expiações, pode ser atribuído à predestinação. Lançando um olhar atento sobre os acontecimentos inditosos do dia a dia e hora a hora, verbi e gratia, na área da segurança pública, da saúde, da educação, mesmo os apolíticos, observam de um lado o bandidismo enfraquecendo a sociedade civil. Na saúde, os postos médicos e hospitais sem prestarem o atendimento mínimo necessário àqueles que sofrem e padecem dos males físicos. A educação por seu turno está relegada ao abandono e ao ostracismo, tudo oportunizando um porvir obnubilado, preparando tormentas inimagináveis na prática da ignomínia contra o dever e o encargo de depositário dos bens públicos.
Sem contradita são ocorrências que ferem de morte, os filhos da Potestade que desejam manter os projetos para seguir o reto proceder, máxime quando se deparam com os conchavos, quase sempre presente na política, causando nas criaturas o estarrecimento na vida bela, colorida e consentida, ao conviverem com essa pintura de horror estiolando os mais puros sentimentos de solidariedade, ao adotarem conduta que resulta nas guerras de todo jaez, notadamente a da Síria, país dominado pelo terror, simbolizado na imagem do menino sírio-curdo de três anos, Aylan Kurdi, que consternou o mundo de Deus, provocando forte comoção nos viajores desse planeta Terra, na atitude contrária as memoráveis lições do Divino Pastor. Por essas constatações e acontecimentos da vida, sob a luz da dialética, estariam todos os personagens envolvidos nessas ocorrências, predestinados a enfrentarem esses momentos de dor, ou poderiam eles, caso as circunstâncias pretéritas cobrassem dessa forma as dívidas transatas, modificarem os acontecimentos?
A resposta, sob o ponto de vista subjetivo e da lógica, é afirmativa, pois ainda que comprometidos com o passado delituoso das criaturas em provas e expiações, sempre se pode utilizar do instrumento do perdão e se libertar das algemas que prendem aos atos inditosos do passado comprometedor, tendo em mente que o Perdão é instrumento de amor que gera frutos saborosos para quem o concede. Nesse sentido reside a convicção de que nenhum dos filhos de Deus está predestinado a suportar dores excruciantes ou obedecer a um programa de vida como se fosse uma máquina ou um computador. Em verdade, o ser humano, filho de Deus, tem o livre arbítrio para decidir o rumo de sua vida, optando pelo que fazer, como realizar os projetos que seu coração anela, o tempo, o modo e o lugar para se materializar esses ideais, e, por consequência, não abrir espaço para a ignomínia da guerra, do mau caráter, do abuso no gerenciamento dos bens sob a tutela do cargo de depositário, ou entesourando os recursos que a todos pertencem e deve gerar prosperidade e progresso as criaturas da Providência Divina.
Afinal é Deus quem oferece a oportunidade rediviva da escolha do caminho a seguir. Se, a opção for pela porta larga, certamente cria-se oportunidades de furtar a outrem, roubar, matar, fazer guerras, violar os direitos do próximo, resultando a escolha das veredas eleitas produtoras de acúleos e dores das mais pungentes. Se a escolha for a porta estreita, não será reprochável afirmar que se realiza reformas interiores que possibilitam o abandono das guerras, do tabagismo, do álcool, do falar mal do vizinho, do governo, dos amigos de trabalho, dos maus procedimentos, abandonando a infidelidade de qualquer natureza.
Em casos dessa natureza, inicia-se de imediato a prática do perdão das ofensas, torna a criatura mansa e pacífica como ensinou o Homem de Nazaré ao exercitar a caridade em toda a sua contextura, virtude que aproxima as criaturas ao seu Criador. Os herdeiros do universo, representam a soma das suas decisões, e, em verdade, elegem até para se reencarnarem, atendidas as honrosas exceções das reencarnações compulsórias, são as criaturas quem escolhem os pais e o lugar que necessitam nascer para haurir a possibilidade de vida que melhor se ajuste ao seu progresso e caminhar em direção aos páramos celestiais.
Sob o pálio dessas considerações, a verdade é que a predestinação, chamada de destino nada tem a ver com os acontecimentos descritos nessa epístola, porque desde pequenos se aprende que, ao fazer uma opção, descarta-se a outra. Se a preferência for pela porta larga da vida, dos vícios e dos desalinhos com os compromissos nobres da existência, certamente se passará ao largo da porta estreita que convida os viajores para o bem proceder, a dignidade de bem viver em família, na sociedade e em paz com o repositório das leis do Senhor da Vida, a consciência. As criaturas são os arquitetos de suas vidas e é nessa condição que se tece os ramos da árvore existencial que se convencionou chamar de "minha vida", razão da lógica assegurar que isso não é fácil, mas também é certo que ninguém deu garantia de que esse planeta seja de veraneio, mas ao que se sabe é um planeta de provas e expiações, o que atende com exatidão os objetivos do Criador.
Sob esses cânones, no momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será impossível se conciliar com a arquitetura. Alguns escolhem o exercício de missionários do Senhor do Universo. Abandonará a oportunidade de constituir uma família, viver a alegria do lar com os filhos e as bênçãos de uma família em provas e expiações, mas em compensação terá um universo de famílias para cuidar e pastorear.
São propostas de vida para a escolha dos filhos de Deus, oferecendo incontáveis caminhos que podem levar, dependendo da escolha que se faça para o lugar de paz e progresso do ser humano em direção aos altiplanos celestiais. No amor, a mesma coisa: Namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances, até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando paixões e deixando-as quando os hormônios arrefecem, ou se casar para viver o amor em plenitude, e através do matrimônio instalar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades.
Ao buscar no túnel do tempo as memórias dos alegres e saudosos tempos dos bancos acadêmicos, vem à lembrança as incomparáveis lições de Washington de Barros Monteiro, conceituando o casamento como a perda de metade da liberdade com o compromisso do dobro da responsabilidade. Assim, as escolhas que se faz sempre terão prós e contras: Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses. Ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana. Ter filhos quando se está bem-disposto e não os ter quando se está cansado.
Por isso é tão importante o autoconhecimento. Oxalá a consciência do justo, não atribua a auto escolha a designação de predestinação, como se alguém fosse o preferido do Pai Celestial e estivesse dotado de poderes especiais para prever o futuro e os acontecimentos, senão aqueles que são produtos do livre arbítrio das criaturas, razão porque colhem o que se planta e assim também sãos as lições do Divino Jardineiro aos viandantes em provas e expiações pelo belíssimo Planeta Terra. Para se adquirir o autoconhecimento será necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, como dizem os jovens. Prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. As escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que somos, de onde viemos e qual o destino dos viandantes. Lógico que se deve reavaliar decisões e trocar de caminho, quando se percebe o engano, máxime porque ninguém será o mesmo para sempre, diante da lei de Progresso.
Nesse caso, é o instrumento da reforma íntima quem convida a mudança de comportamento. A estrada é longa e o tempo convida a reflexão. Não é de bom alvitre deixar de realizar sonhos, fazer o que se queira, mas há que se ter o senso da responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações. Jamais esquecer que a escolha é sempre do autor dos acontecimentos, e jamais de uma predestinação, porque o exercício do livre arbítrio estará em ação, segundo o grau de evolução do espírito, realizando os projetos e desejos inscritos nos recônditos d’alma do ser imortal e não uma programação previamente estabelecida. Se fosse facultado prever o futuro, é verdade que se evitaria erros, mas, a vida perderia a graça, pois é justamente na imponderabilidade da existência que reside o verdadeiro aprendizado e a emoção da jornada. Da mesma forma, se ao nascer para as provas, se soubesse tudo o que iria acontecer, ficar-se-ia sentados “vendo a banda passar” e sem sentido prático as lições do Divino Jardineiro.
Evidente que se as criaturas fossem predestinadas, manter-se-ia distância das figuras soturnas que cruzaram os caminhos das existências, e com isso se perderia a oportunidade de crescimento, pois é na dificuldade que se alavanca para o progresso, ou sob outra dicção, é exatamente no empeço que a vida oferece que nascem a oportunidade de avaliação da jornada. Vale dizer, é a oportunidade para exercer e treinar o discernimento, e a capacidade de análise, em cima de erros cometidos, formando assim a base de dados para evitar os equívocos no futuro. Que não se engane a vã filosofia, o discurso não é apologia do erro como forma de viver, mas aceitação de sua existência como elemento pedagógico da vida para o progresso dos filhos de Deus em direção aos altiplanos celestiais. Assim, diga-se “an, passant", que não é fácil perceber ou sentir o que se passa no interior dos irmãos de caminhada, pois a capacidade de julgamento das criaturas está longe da infalibilidade, por mais que se tente ficar alerta, sempre se há margem para erros de julgamentos, daí a recomendação do Homem de Nazaré para não se julgar.
É verdade que não raras vezes, as criaturas se deixam levar pela emoção ou pela amizade, porque jamais se é capaz de saber quais as reais intenções daqueles que nos cercam. As escolhas que se faz na vida, ao permitir a aproximação de pessoas em busca de oportunidades, demonstrando o seu persona de "anjo", podem não condizer com a sua personalidade, mas isso servirá de base de dados para o nosso progresso e o aprendizado das lições do Divino Galileu. Por isso, as lições que a vida oferece, provocando o exercício do discernimento para aproveitar essas experiências, são métodos eternos, testes de valoração aos filhos da Providência Divina destinados ao progresso.
O mais importante é nunca se deixar abater pelas vicissitudes da vida, pois se companheiros ingratos existem, quantos outros irmãos caminham na mesma direção que o Senhor da vida colocou em nossa jornada, merecedores dos mais nobres encômios. Estão eles vestidos na indumentária carnal, como nossos familiares, parentes, amigos, nosso anjo da guarda ou protetor espiritual que nos ajudam na travessia do mar bravio do mundo de provas e expiações.
Ponto finalizando, recebam os amigos fraternos, o ósculo em seus corações, em nome da oblata da fraternidade, com votos de um ótimo final de semana em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli.