Sem contradita, incontáveis são os filhos da Providência Divina que se limitam a exercerem suas funções, dando-se por satisfeitos quando o caminho eleito é o da nobreza da conduta, pautando o procedimento do dia a dia e hora a hora, no rumo da porta estreita da vida. No caso, trata-se da porta estreita que leva os viajores a carimbarem o passaporte para os esplendores celestes, razão de merecerem os encômios de todos aqueles que exercitam a pureza dos corações como recomendou o Pastor das almas, no memorável sermão do monte, também conhecido pela retórica da bem-aventuranças.
Nesse sentido, é de todo correto declarar que os viajores do tempo em trânsito pelo belíssimo planeta de provas e expiações, arrostam-se obviamente além dos compromissos inerentes ao bom combate, no dizer de Paulo o Apóstolo dos Gentios, também com os deveres sociais que clamam pela misericórdia, pela solidariedade e fraternidade das criaturas no exercício da caridade. Essas são ações destinadas aos que amam o Homem de Nazaré, e Ele os incumbe na honra de exercerem o múnus da bondade, ofertando o seu Plus de trabalho na condição de outorgado pelo Divino Jardineiro, para aliviar a dor e o padecimento dos aflitos, em seu nome, conscientes de que todo e qualquer benefício realizado no presente, advogará a favor do seu feitor no porvir, eis que anotado no livro da vida, o bônus hora para a caminhada da felicidade.
Para dar cabimento aos serviços além do dever, algumas tarefas surgem devido a posição que se ocupa na sociedade por onde se moureja, seja nos fóruns da vida por onde se transita, seja na oficina do trabalho conhecida como lar, seja no grupo social a que se pertence, verbi e gratia, o Rotary Club, o Lions Club, na quermesse da Igreja que atende aos ditames dos corações generosos e ou nas incontáveis sociedades beneficentes espalhadas pelo mundo de Deus, vocacionadas para a realização do Plus da Vida.
De outro lado, no Plus da Vida, não são poucas as tarefas que nascem pelas características ou natureza da atividade profissional, sem se olvidar que tantas outras atividades em nome das provas de avaliação a que as criaturas estão submetidas. Nesse sentido os candidatos à felicidade são chamados a colaborarem na vida e com a vida que estua, ofertando um pouco mais de seu tempo e de seu amor em nome da solidariedade, elo que une todos os irmãos no projeto chamado de paz, porque todos são iguais perante a lei de Deus.
Com essas reflexões, não será reprochável asseverar que há muitos chamados em nome do amor que resultam das leis e dos cânones impostos pela sociedade em que vivemos, direcionando as obrigações sociais ao ofertarem oportunidades de se realizar o Plus da Vida. Sob esse díptico, o funcionário que honra a empresa que lhe oportuniza um trabalho honesto, realizando seus deveres com zelo, cumpre apenas seu dever. Evidente que se o empregador confia o cargo e paga o salário, a contraprestação dos serviços é um dever que cabe ao obreiro.
O Plus, todavia, se realiza quando aquele que entrega as tarefas pelas quais recebe as espórtulas, trabalha com prazer, alegria, e atenção, procurando sempre fazer um pouco a mais, seja no capricho com que realiza as tarefas, ou nos minutos que ultrapassa a sua jornada de atividades para concluir algo urgente sem reclamar.
Da mesma sorte observa-se o Plus, nas relações cotidianas com qualquer pessoa que cruze os caminhos dos viajores, desde daquele que varre a rua mantendo limpa a cidade, ou a empregada doméstica que zela pelo ambiente familiar, devida também a mesma consideração aos serventuários da justiça, aos magistrados, aos médicos e àqueles que cuidam da assepsia das salas cirúrgicas. Em verdade, cumprimentar o vizinho ou o porteiro do prédio, dar bom dia ao jardineiro, é educação, pois todos são importantes na sociedade e para a sociedade, e ser educados com eles é apenas um dever e uma obrigação social com que se defronta diariamente no exercício de vida.
No outro pólo, aquele que busca temperar essa saudação com um sorriso amável, ou ajuntar a ela sua preocupação com o outro com uma pergunta sincera de um “como está?”, oferecendo ao interlocutor um breve tempo para responder à pergunta, não há dúvida de que faz um pouco a mais no trato social e demonstra solidariedade. Assim também, nas relações com os subordinados se espera respeito, tratamento digno e condições de trabalho adequadas, consoante previsão das normas trabalhistas.
Contudo, o empregador que não se limita a esse proceder, mas se preocupa com o bem-estar dos seus funcionários, compreende circunstâncias difíceis, acomodando situações para as consultas médicas, microcirurgias e flexibiliza jornadas, contornando limitações momentâneas, realiza um pouco a mais, o Plus do amor ao próximo. Por isso, também, não deixar ao abandono os idosos, amparando-os em suas necessidades quando as limitações físicas lhes chegam, é obrigação prevista em estatuto próprio. Mas se, ao fazer isso, se somar paciência, compreensão pelas suas histórias incontáveis vezes repetidas, amor e ternura, obviamente que essa atitude será o algo a mais desejado dos que procuram ter puro os corações como dispõe o sermão do monte.
Em síntese apertada, esses considerandos querem dizer que muitas ações do homem, senão a quase totalidade de atitudes daqueles que vivem em sociedade, não estão expressas nos códigos ou diplomas das cláusulas pétreas, mas servem de ensaio para o reto proceder. Todavia, as atitudes de gentileza, docilidade e amor que acompanham os ensinamentos do doce rabi da galileia, contidos no Plus da Vida, ainda que não inseridos nos cânones estabelecidos pela sociedade civil organizada como um dever, não obstante não estarem previstos em estatutos sociais ou sofrerem coerção da lei pelo seu descumprimento, são eles a chave que abrem os pórticos da estrada da bem-aventurança acendendo setas luminosas para se chegar aos páramos celestiais., verbi gratia, porque são procedimentos que vão além do dever e extrapolam a obrigação fazendo a diferença.
A gentileza e a compreensão não estão estabelecidas nos deveres para essa ou aquela ocorrência, entretanto essas e outras tantas virtudes com que se pode dar sabor as ações benfazejas, extrapolam o campo da obrigação. Esse pouco a mais que se pode oferecer é o que denomina de generosidade. Que não se engane a vã filosofia dos viandantes, na medida em que não se nega que muitos dos irmãos de caminhada ainda creem que um simples favor a outrem traz o peso de um holocausto, debatendo-se até mesmo para cumprir um dever, fazendo ouvidos moucos, quando Jesus convoca os candidatos a felicidade a andar dois mil passos, quando alguém nos pedir para andar mil, ou quando exorta aos irmãos menores para oferecerem a capa se alguém nos tirar a túnica, a toda prova são lições que oferecem o tom e o sabor da virtude da generosidade.
Sob esse espeque, em homenagem ao Plus da Vida, valendo-nos da oportunidade depositamos nosso ósculo em seus corações, anelando que possamos ter um ótimo fim de semana na paz e em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli