No curso das existências, nas viagens pelo planeta de provas e expiações, saindo das mãos do Criador, as criaturas a partir dessa gênese convivem com inúmeros obstáculos destinados ao aprendizado para avançar sob a égide da Lei do Progresso e em direção aos páramos celestiais. Nesse caminhar, atavicamente a vaidade é um dos entraves a alavanca poderosa que deve nortear os passos daqueles que buscam a alegria de servir, sob a tutela de que esse é o meio que conduz os caminheiros à felicidade.
Aqueles que alcançam a apoteose de serem virtuosos nem mesmo se apercebem que estão voando em céu de brigadeiro sob os ditames do caridoso procedimento a favor dos desvalidos e combalidos na jornada da vida, razão de se registrar nessa epístola a figura magnânima de São Francisco de Assis, Antoine de Saint-Exupéry, Henry Ford, Francisco Candido Xavier, Dr. Bezerra de Menezes, Caibar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, entre tantos outros abnegados trabalhadores do bem no completo anonimato.
O valor daquilo que se faz a outrem merece ser sempre realizado no silêncio do coração, sem que ninguém saiba, exceção honrosa aos registros celestiais no livro da vida, porque todo benefício lançado no rosto tem o equivalente a uma ofensa e contrário senso, quando a mão esquerda não diz à direita o que faz, o benefício silencioso advogará a favor de seu benfeitor no porvir.
Nesse sentido, colhe-se na lição nº 14, pelo espírito Meimei na psicografia de Francisco Cândido Xavier, a melodia do silêncio que serve de metáfora ao objetivo dessa epístola, quando convida os filhos do Senhor da Vida, abstraírem-se do barulho que assedia as mentes em descompasso e reparar no silêncio das criações Divinas, pois no Céu é tudo harmonia sem ostentação de força.
É o sol que brilha sem cessar e sem ruído e os mundos em movimento sem desordem, mesmo quando as constelações resplandecem sem ofuscar os que com ela compõe a sinfonia da vida. Oh! Meu Deus. Na Terra tudo assinala a música do silêncio, exaltando o amor infinito do Criador, germinando a semente sem bulício e a árvore ferida preparando sem revolta o fruto que alimenta os que tem fome, quando a água se oculta no coração da fonte, para dessedentar os viajores sedentos. Que não se quebre a melodia do silêncio na natureza, bela, colorida e consentida sob pena da violação soar em desacordo com a Lei de Amor que governa os caminhos dos que buscam a felicidade.
Ao contrário, é de bom alvitre admirar cada estrela na luz que lhe é própria, aproveitar cada ribeiro em seu nível e estender os braços a cada criatura dentro da verdade que lhe corresponda à compreensão, e, sempre dialogar aprendendo, porque há o lhanozo desejo de se instruir sem ferir, razão de falar auxiliando, sem jamais se antecipar ao juízo de valor, veiculando o verbo à maneira do azorrague inconsciente e impiedoso.
Em verdade, que não saiba tua mão esquerda o que realiza a tua mão direita, é lição do Divino Jardineiro para todo o sempre, e, é cláusula pétrea para auxiliar sem barulho pelos caminhos onde transitas, em nome da ilimitada paciência do Pai Celestial para com as falhas de todas as suas criaturas, motivo porque para se alcançar a virtuose, é indispensável o dever de ajudar sem alarde ao companheiro da romagem terrestre que aguarda o socorro de nosso silêncio, a fim de elevar-se à comunhão com Deus.
Da exegese que se extrai das palavras do Mestre de Nazaré, colhidas pelo Apóstolo Mateus e inseridas no capítulo XIII de “O Evangelho Segundo O Espiritismo”. (S. Mateus, cap. VI. v. de 1 a 4), não será reprochável deduzir que esses ensinamentos foram seguidos fielmente por aquele homem muito rico que distribuía benefícios tendo como ícone o anonimato.
“Conta-se que certa vez, ao chegar em uma pequena cidade, a negócios, entrou em uma lanchonete para um rápido lanche. Observou que entre os garotos que brincavam na rua, um mancava por causa de um dos pés deformado. Chamando-o, lhe perguntou se o pé o incomodava, ao que o menino respondeu que não podia correr, como os demais. Também falou que precisava cortar um pedaço do sapato para poder pisar melhor.
Você gostaria de ter seu pé curado? – Perguntou o homem. É claro! Respondeu o garoto, com os olhos brilhando. Pois eu vou providenciar que seu pé fique normal. – Prometeu o estranho. Em seguida, pediu ao seu motorista que descobrisse o endereço do menino Jimmy, de oito anos.
Depois, que falasse com os seus pais, conseguindo autorização para a realização da cirurgia. Não foi tarefa difícil ao empregado, pois todos conheciam o garoto do pé defeituoso. Ele encontrou uma casa muito pobre, com vestidos remendados e algumas camisas velhas no varal. Foi preciso conversar muito para convencer os pais que tudo não passava de armação. Afinal, disse a mãe, ninguém dá nada de graça. Mas o meu patrão, afirmou o motorista, costuma fazer isso sempre. Jimmy foi para uma clínica especializada e submeteu-se a cinco cirurgias. Tornou-se o xodó da enfermagem. O fiel motorista acompanhou tudo, a pedido de seu empregador, providenciando o que fosse preciso. Finalmente, chegou o dia de voltar para casa. Sapatos novos foram providenciados. Jimmy não cabia em si de contentamento e ansiedade. Quando o luxuoso carro parou na porta da sua casa, ele disse: Espere! Quero entrar sozinho. Os pais e os irmãos vieram à porta. E um menino de pés sem defeitos, calçando sapatos novos, desceu do automóvel e andou, sorridente, de braços abertos, ao encontro deles. Naquele Natal, o empresário ainda providenciou que toda a família fosse levada a uma grande loja da cidade, para que cada um deles escolhesse um par de sapatos. Jimmy se tornou um bem-sucedido homem de negócios, e jamais soube o nome do seu benfeitor. Tudo porque seu benfeitor, Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística americana, sempre dizia que é mais divertido fazer algo pelas pessoas quando elas não sabem quem lhes fez o bem”. (Texto colhido da Redação do Momento Espírita, com base no cap. O benfeitor secreto, do livro Histórias para aquecer o coração dos pais, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jeff Aubery, Mark & Chrissy Donnelly,ed. Sextante e no cap. XIII, item 3, de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. Em 05.10.2015
É fato sem contradita, aquecer o coração, tomar como arrimo as vivências dos virtuosos para iluminar os caminhos daqueles que anseiam com sofreguidão para ter puro os corações, atentos em fazer o bem sem ostentação, ocultando a mão que oferece a quem necessita, pois em todos os lugares do planeta existe, como o Cristo asseverou, aos discípulos, quando Maria levara seus pés com a essência de nardo. Pobre vocês os terá sempre.
São esses os necessitados que Deus coloca nas vidas dos virtuosos para que se possa exercitar a solidariedade e o amor em plenitude. Sem eles o exercício do amor ficaria sem sentido. Sem dúvida, nesse proceder, há a marca de superioridade moral, porque renuncia à satisfação do aplauso dos homens. Os que assim agem, provam sua real modéstia e se enquadram exatamente no ensino evangélico: Não saber a mão esquerda o que dá a mão direita.
Nesse sentir d’alma, segue nossos votos de um final de semana de muita paz, depositando um ósculo em seus corações com as blandícias do Divino Jardineiro.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli