Estamos nos aproximando do Natal. O ilustre aniversariante do mês de dezembro parece que balsamiza o planeta, convidando-nos a refletir sobre os propósitos nobres da vida. Lentamente começam a se acender aqui e ali, pequenas luzes como a iluminar a escuridão que grassa nossa alma. Primeiro as casas, depois os bairros e as cidades vão espargindo a luz luminífera de suas intenções pulcras para comemorar o nascimento do Divino Galileu. Logo mais uma cidade atrás da outra, se associam nos mesmos propósitos e todas as nações do mundo de Deus, entram em clima de festa. Entretanto muitas das criaturas ainda inadvertidamente se colocam em situação de estiolamento dos sentimentos mais puro da alma e se deixa arrastar pelos preconceitos, como se a Divindade tivesse uma casta de filhos diferenciados entre si, uns recebendo DEle, mais que os outros, segundo o conceito da Doutrina da Graça, onde alguns são abençoados e outros são amaldiçoados.
O Senhor da Vida, não faz diferença entre seus filhos, professem eles a religião que for. Não há distinção de raça, cor ou credo. Existem mais de 4.000 religiões nesse universo da Consciência Cósmica. A verdade é que acima das nuvens não existem diferenças e somos todos iguais, na qualidade de filhos de Deus à luz das questões 115, 133 e 804 de “O Livro dos Espíritos”. Com esse sentimento d’alma, pode-se abrir a porta do passado, para conhecer a história de Nicolau nos tempos de Herodes. Herodes era o Rei da Judéia nos tempos de Jesus, a quem no dia fatídico foi enviado como joguete para o decreto de sua morte. Naqueles tempos também havia um escriba de nome Nicolau. Tratava-se de um homem justo e irrepreensível na obediência dos preceitos do Senhor, seu Deus.
Sucedeu ser Nicolau possuidor de uma modesta quantia de bens, o que lhe proporcionava um viver simples, porém confortável. Apesar disso, não havia felicidade em seu coração. As preces de Nicolau dirigidas ao Senhor da Vida, não eram de agradecimentos, mas de súplicas e de lamentos. Abnegado e servidor, porém nunca reconhecido por suas contribuições, dedicava Nicolau todo o seu tempo a implorar que o Senhor dele fizesse o instrumento de alguma obra notável, pois não desejava terminar seus dias na vala comum dos esquecidos. Por essa razão, todas as noites, após o pôr do Sol, permanecia Nicolau em sua janela, jejuando e flagelando-se, fazendo orações sem fim e interrogando ao infinito, quanto aos benefícios pleiteados. O tempo ia se escoando e nenhum sinal da vontade do Senhor.
Uma manhã veio acordá-lo Sara sua mulher. Surpreendido pelo cansaço, Nicolau havia adormecido à janela. Era à hora undécimo de um dia claro. “Viste Nicolau, a estrela que por toda a noite clareou os céus? ”, indagou Sara. Respondeu-lhe Nicolau: “Não, eu não vi! Fui interrompido em minhas preces por um viajante que passava, e logo adormeci”. Novamente perguntou-lhe Sara: “Quem seria o tal viajante? Por acaso eu o conheço? ”. “Não”, replicou fatigado Nicolau, “era apenas um carpinteiro de Nazaré, da Galileia e sua mulher grávida. Vieram para o recenseamento; atirei lhes algum dinheiro e ordenei que seguissem. Creio que disseram algo como pernoitar no estábulo, mas não lhes dei atenção”.
Nicolau agradeceu a Deus por tê-lo poupado da inconveniência de que aquela mulher desconhecida viesse dar à luz justamente em sua casa. E voltou a suplicar aos céus pelo milagre que o faria um homem famoso por todo o sempre. É a vida dos espíritos íncubos. Os preconceitos. A fé particular de cada um. A inveja. A intolerância. Não gostamos de ser incomodados pelos aflitos que nos procuram e deixamos passar as festividades do natal que é todo dia. Ausência de perdão e o egoísmo ainda fazem morada em nossos corações. Mas, apesar disso, o ilustre aniversariante do mês, todo ano renova seu cálice de amor, para que o mundo estenda sua mão em busca do lenitivo que cura as feridas da alma e cicatriza as dores do espírito, para que as festividades do natal sejam autênticas, irmanando num só sentimento de fraternidade e de amor a família universal. Por isso, a festa de Jesus que se aproxima, nos tempos das vitrines enfeitadas convida as pessoas a se lembrarem da época dos presentes. É necessário provar aos parentes e amigos que pensamos neles. Cercados de presentes, diante de iguarias, o ser humano não está feliz, como Nicolau.
Há uma inquietude em nossos corações como se alguém estivesse faltando. Lá fora, na noite, noutras casas onde a luz escasseia e a mesa é pobre também se ouve: Feliz Natal! Lá e aqui a Noite Feliz parece não significar quase nada, a não ser o estranho paradoxo de se Ter que aparentar felicidade porque assim é estabelecido. A exata compreensão do Natal sugere uma averiguação histórica quanto à data do nascimento de Jesus. Os pesquisadores não são unânimes em afirmar que ocorreu em dezembro, porque, na história do Cristianismo primitivo, os primeiros cristãos não tinham o hábito de celebrar o Natal, por considerarem a comemoração um costume pagão.
As primeiras observações acerca do nascimento do Mestre Jesus, aparecem por volta do ano 200 dC. O dia 25 de dezembro foi mencionado em 336 dC, o que não impedia que em outras datas também ocorressem festejos, como, por exemplo, no dia 06 de janeiro, até hoje mantido pelas igrejas ortodoxas Orientais. Com o passar dos séculos, o Natal foi deixando de ser uma festa de cunho religioso e ganhou novos contornos, originários de culturas anteriores ao Cristianismo.
No ocidente, a celebração do Natal, anteriormente ligada ao nascimento de Jesus, aos poucos foi sendo modificada. A figura do Papai Noel, o bom velhinho, tornou-se um atrativo para as crianças e para os adultos. As festas natalinas assumiram um caráter notadamente comercial, onde se estimula o consumismo desenfreado sob o pretexto de que esta é a época de se presentear os amigos e parentes. Com tudo isso, Jesus foi sendo gradualmente substituído, de motivo central da festividade a elemento secundário na preferência popular. Ele, porém, dissera com convicção – “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito. Vou preparar-vos o lugar”. Ao fazer tal afirmação, o Cristo garantiu que há lugar para todos, que a Ele cabe preparar.
Mas, e Ele? Que lugar ocupa no mundo atual? Nos nossos corações? Numa escala de valores, está em primeiro lugar? Na civilização ocidental rotulada como cristã, todavia, é muito difícil encontrarmos o Cristo no Cristianismo presente. Parece que os homens o baniram, substituindo-o por outros modelos de heróis. Cultuam-se ídolos que se sobressaem pela força de seus músculos, pelas conquistas amorosas, pela adoção deliberada de extravagantes atitudes eróticas para a venda milionária de discos e livros.
Longe está o modelo do herói cristão, que traz à memória as figuras de M. Gandhi, Albert Schweitzer, Madre Tereza de Calcutá, Dr. Bezerra de Menezes, Chico Xavier, Caibar Schutel, Eurípedes Barsanulfo, Martim Luther King Junior, Allan Kardec, entre outros. Por isso o Natal se distancia cada vez mais do seu real significado. O preclaro aniversariante, por certo, não se importa de ser presenteado. Um dia uma mulher pecadora rendeu-lhe homenagens perfumando os seus pés com essência de nardo, diante dos fariseus estupefatos e dos apóstolos um tanto constrangidos. O Mestre aceitou a oferenda porque sabia da atitude que a impulsionava.
Todavia, quão distante este esse gesto de humildade, respeito e amor da comercialização desenfreada que ocorre em nossos dias! Onde está Jesus neste Natal? Ele nos prepara o lugar. E que lugar lhe damos em nossa vida? No momento em que nossa cultura comemora esta data, vale à pena guardar na memória e no sentimento uma certeza: Essa região, que o Mestre prepara para nós, começa no território do coração, e só com muito trabalho e comprometimento com o amor genuíno é que ampliamos horizontes seguros de nossa paz. Na verdade, o Natal não significa somente o nascimento do Cristo na consciência renovada do Homem Integral, em qualquer dia, a qualquer hora. As antigas e primitivas civilizações viviam quase que exclusivamente da caça e da pesca para sobrevivência. O instinto sobrepujava a razão e a vida em coletividade propicia certamente grandes reuniões em torno da comida caçada, seja para festejar a vitória do homem sobre o animal, para saciar a fome ou pelo prazer de estarem juntos.
O progresso da humanidade pela utilização da inteligência proveu ao homem sua casa, sua roupa, suas armas, até a invenção das letras e registro escrito das ideias, mas o senso de coletividade, da vida em sociedade, descrito no Livro dos Espíritos sempre existiram e as reuniões sempre foram acompanhadas de farta alimentação, não raro informar a condição social do grupo. Este hábito milenar não mudou. Pequenas e singelas reuniões espíritas também são acompanhadas do tradicional chazinho, bolinho, bolachinha e outros humildes “inhos”, reflexo das fortes impressões secularmente marcadas em nosso espírito. Daí, para entendermos a razão de comemorarmos o Natal com banquetes deslumbrantes, bebidas alcoólicas e demais desatinos não será necessário muito exercício de raciocínio. O fato predominante é que não podemos fugir da convenção de 25 de dezembro como sendo a comemoração do nascimento de Jesus.
Por essa mesma razão, não podemos nos esconder no porão da casa para fugir ao consumismo comercial provocado pela euforia da troca de presentes. Os espíritas devem se envolver mais profundamente com seu significado maior, lembrando aos frequentadores das Casas Espíritas que Jesus, em nenhuma hipótese espera que comemoremos seu aniversário empanturrados de comida ou bêbados, pois Ele veio nos ensinar a viver em paz, amar os semelhantes e compreender Deus como Pai bondoso.
Os espíritas devem ter presente em suas vidas que a data é propicia para as famílias realizarem reuniões de estudos do Evangelho no Lar, oferecerem neste dia aos demais familiares a oportunidade de comemorar o Natal sem os exageros conhecidos. Participar da vida social normalmente, até das conhecidas brincadeiras de amigo secreto, almoço de confraternização nas empresas também faz parte do nosso dia-a-dia terreno, porém, tendo sempre em mente a condição espírita: O Natal é uma alusão ao Nascimento do Cristo e em nenhuma hipótese os exageros devem fazer parte de nossa vida, pois o nosso exemplo junto aos não espíritas será uma útil fonte para reflexões.
Nesse sentir, vamos nos envolver no silêncio de nossos corações as nossas amarguras como Ele mesmo o fez. Vamos guardar na alma e no coração confiante, a alegria de ser Filhos de Deus. A fonte gentil vence a lama do fundo, para atender ao sedento que lhe roga linfa cristalina. Vence as dificuldades onde quer que as encontres, e atravessa o sítio lodacento em que te demoras.
Não apresentes queixas à cordialidade dos amigos que te buscam. Não te animarias a oferecer àquelas a quem amas, borralho e cinza nos vasos da afeição, nem vinagre ou fel na taça da amizade. A queixa cria pessimismo e estimula a ociosidade. Ajusta o espírito à disciplina que corrige, para que a espontaneidade enfloresça os teus atos. Honra os teus amigos com a esperança mediante um sorriso confiante. Estende a palavra afável a quem te cerca de afeição, porquanto, embora esse coração amigo te pareça um bom ouvinte, abastecido de força e coragem, é possivelmente, alguém lutando consigo mesmo, à cata da quem lhe oferte o lenitivo que parece possuir, para a dor do coração que se encontra em chaga aberta. Esse é o natal verdadeiro, do coração amoroso e fraterno. Esse o presente que agrada ao Divino Rabi da Galileia.
Com os sentimentos sobre as blandícias do amor do Cristo De Deus, segue o ósculo da fraternidade depositado em seus corações com a oblata das festividades natalinas e desejos de um feliz natal em nome do ilustre aniversariante do mês, o Divino Jardineiro.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli