Todos os filhos da Divindade, de uma forma ou outra sentem a presença de Deus dentro de sua alma. Alguns mais sensíveis podem sentir Deus no ar que respiramos, no perfume das flores, autógrafo do Senhor da Vida, colocado no altar da natureza para presentear seus filhos em viagem pelo planeta de provas e expiações. Essas preocupações também tomaram conta dos sentimentos mais íntimos da alma do preclaro codificador, “o bom senso” naquela ensanchas encarnado, Hippolyte Léon Denizard Rivail, razão porque na questão número quatro de “O Livro dos Espíritos” indaga do Espírito da Verdade, onde se pode encontrar a prova da existência de Deus.
A resposta serena do venerando Espírito vem vazada “ipsis verbis” no seguinte texto: “Num axioma que aplicais as vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá”.
Nesse sentir ele concita à saciedade a refletir que, para crer, ver e sentir a presença do Pai Celestial, como Jesus nos ensinou a chamá-lo, basta lançar os olhos sobre as obras da Criação. Se o Universo existe é porque ele tem uma causa. Duvidar da existência de Deus ou não O sentir no silêncio da alma equivale a negar o que admite a lógica da ciência de que todo efeito tem uma causa. Por isso, essa razão, em nome da lógica e da boa reflexão, ser inadmissível que o nada tenha o poder de realizar alguma coisa.
Com essas considerações, conquanto possa parecer uma utopia o silêncio produzir algum som, é inegável o fato de que o silêncio guarda no segredo d’alma, o sentimento mais puro do amor e, doce é o seu som acalentando os corações com a canção do Espírito. Trata-se de som, no silêncio da alma e pode ser ouvido na oração ou no trabalho, quando não na contemplação tranquila, quando se alcança a maestria do bem viver. Nesses instantes, toda a vida se transforma em meditação na qual se pode contemplar o Divino vivendo em seus filhos, como asseverou Paulo o apóstolo ao externar no silêncio de sua alma, “Já não sou eu quem vive, mas o Cristo que vive em mim”.
Vivendo dessa forma apreende-se que tudo na vida é benção, máxime porque não há luta sem dor e nem preocupação sem trabalho, sobejando a experiência como modo de transitar pelas provas e expiações. A fórmula do bom caminho é respirar em cada flor, voar com cada pássaro, encontrar a beleza e sabedoria em tudo que está construído nessa vida bela, colorida e consentida. Afinal, a beleza está presente em todas as formas, em todas as partes e não há como deixar de contemplá-la. Quando se age com os sentimentos d’alma tudo se transforma e o que se realiza em meditação é um dom de oferta do teu coração para tua alma e de tua alma para o Criador.
Bem por isso, no reduto do lar abençoado, lavando os pratos, sentes o frescor da água que acaricia tuas mãos, e ao preparar a ceia sentes o amor do universo que, te trouxe o alimento, cabendo no silêncio d’alma, derramar nela todo o teu amor, pois é a hora de respirar suave, longa e profundamente na doce simplicidade da vida que estua em tua alma.
É a essência do amor o que respiras nesse solilóquio. Com esse respirar profundo, poderá sentir Deus em sua alma e esse amor fará a alegria se expandir por saber ser herdeiro do dono do Mundo, pois tudo no Universo também é teu. Assim, pode-se de todos os acontecimentos e ocorrências fazer uma meditação, seja caminhando, seja na vigília, move-se com perfeição, não se detendo em culpa ou recriminação. No silêncio d’alma há que se viver no esplendor permanente, com a certeza de que és filho amado, sempre bem-vindo a casa do Pai.
Não se olvide, os viajores do Planeta Terra que, incontáveis criaturas, tem como metáfora o sentimento de que o silêncio é uma prece, e, em vários estabelecimentos de ensino, hospitais e repartições públicas expõe-se esse adágio. A verdade é que nada obstante trate-se de um nobre ideal, o silêncio exterior pode induzir a reflexão de que a pessoa se encontra conectado em rogativa ao Senhor da Vida, enquanto inúmeros pensamentos desalinhados, furtos e roubos, assassinatos e toda sorte de crimes são engendrados na calada da noite justamente no momento do silêncio.
A utilização do silêncio, com certeza, é prece quando se entrega de corpo e alma em solilóquio com O Senhor do Universo, conectando-se os pensamentos mais íntimos do ser a nobreza das virtudes, ao purificar a alma e colocar-se como autêntico filho de Deus em busca do seu aprimoramento e elevação espiritual, seja através de um pedido, do louvor ou da gratidão. Ao contrário, na balbúrdia do mundo exterior, não é de bom alvitre que os caminheiros se permitam perderem o tom do equilíbrio, seja nas conversações, seja nos momentos de júbilo, ou nas comunicações fraternais.
Lamenta-se, que na sociedade moderna muitas pessoas, gritam, elevando o tom da voz, quando deveriam apenas falar suavemente, a exemplo de Jesus que em sua mansuetude orientava com absoluta compostura. Não há necessidade de competição de ruídos e vozes ensurdecedoras que perturbam o discernimento, retirando a harmonia que deve prevalecer no âmbito daqueles que viajam pelas veredas do planeta Terra em provas e expiações. O mesmo se diga das músicas que deixam, vez que outra de serem harmônicas, se apresentando ruidosas, sem nenhum sentido estético, expressando os conflitos e as desordens emocionais dos seus autores e ouvintes. Há um predomínio da violência em tudo, nos sentimentos, nas conversações, nas atividades do dia a dia, tudo atormentando a paz das criaturas.
A ninguém será lícito olvidar que a voz é instrumento delicado e de magna importância na existência humana, e como o homem é o único animal que consegue articular as palavras para se fazer entender, óbvio que o ser humano deve se utilizar do aparelho fônico na condição de joia preciosa, utilizando palavras que enobrecem em detrimento as palavras chulas e de baixo calão, porque, do seu uso terá que dar contas à consciência cósmica que lhe concedeu o admirável tesouro.
Jesus, o Sublime Comunicador, cuja dúlcida voz inebriava de harmonia as multidões, viveu cercado sempre pelas massas. Compadeceu-se delas, mas não se deixou aturdir pela sua insânia e necessidade. Logo depois de as atender, recolhia-se ao silêncio d’alma, fugindo do bulício, a fim de penetrar-se mais pelo amor do Pai, renovando os sentimentos de misericórdia e de compreensão. Procedia dessa forma, a fim de que o cansaço, que surge no bom combate, não lhe retirasse a ternura das palavras e das ações.
É notório que todos na caminhada evolutiva necessitam do silêncio, mas o silêncio interior, para refletir, meditar e orar, máxime expor a gratidão as bênçãos recebidas, distribuídas a mancheia pelo Senhor do Universo aos seus filhos em viagem pelo Planeta Terra, de maneira que o silêncio execute programações dignificantes em qualquer área do comportamento por onde mourejam as criaturas.
É elegante aprender a calar e a meditar, harmonizando sem perder a seriedade diante da multidão desarvorada e falante. É crível se compreender que as criaturas com os espíritos já iluminados pela luz do amor, saibam silenciar, mas o fazem em oração perante as necessidades do outro. Silenciam também, em respeito ao sofrimento alheio, acolhendo no coração a justiça de Deus, sem o acusar das fatalidades. São também capazes de calar em silêncio tumular em consideração às ideias divergentes e, da mesma sorte são generosos no silêncio que merece a vingança diante dos males recebidos de outrem.
É no mundo do silêncio que construímos as palavras edificantes que sairão de nossa boca. É no mundo sem voz que elaboramos o canto que logo mais irá encantar ouvintes numa sala de concertos. É no mundo do silêncio que embalamos nossos amores, que pensamos em melhorar, reformar e transformar.
Ponto finalizando, depositamos o ósculo da fraternidade em seus corações, com a oblata do amor, em nome do Divino Pastor, desejando um ótimo fim de semana com muita paz.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli