O mundo moderno exige senha para quase todas as atividades da vida, seja para a conta bancária, para o cartão de crédito, para os e-mails, a internet, enfim, tudo, absolutamente tudo, requer uma senha que autorize o interessado a abrir as portas do caminho que o conduz a atingir o objetivo desejado. Nesse introito, é crível a reflexão sobre a senha da felicidade, aquela que abre as portas para a escada de ascensão para que de degrau a degrau, sem sofreguidão, no aprendizado da vida, eleve-se o espírito às culminâncias do amor até se chegar à única fatalidade das criaturas, os páramos celestiais.
Em se tratando de senha, código para qualquer atividade do dia a dia e da hora a hora, não se cedem os números e códigos a terceiros e se guarda com extremo zelo o segredo que permite a intimidade dos negócios e dos cofres, onde se guardam as espórtulas ou as escrituras das propriedades privadas. Do outro lado, por incrível que possa parecer, a mais preciosa senha existente no mundo de provas e expiações, aquela que nos mais recônditos d’almas, todas as criaturas em trânsito pelo belíssimo planeta onde mourejam os candidatos a felicidade, não guarda segredo a sete chaves e é encontrada na mais bela das florações da elevação do espírito e seu nome é caridade.
Sabe-se que a caridade é a senha para a felicidade, mas ainda assim, não se estranhe que muitas pessoas se caroneiem quando o tema em apreço, se aprofunde em busca do verdadeiro entendimento dessa virtude. Não raro, pensa-se tratar de recursos financeiros e por conta desse sentimento, vem logo à mente a oferta da cesta básica. Que não se ofusquem os profitentes da matéria em exame, porque, apesar de ser verdade que os recursos financeiros são importantes, indispensáveis e necessários, não são os únicos a vestirem a indumentária da mais bela virtude a ser trabalhada pelos viajores do planeta Terra.
Oh! Meu Deus. Que não se embacem os livres pensadores em rasa filosofia a respeito das espórtulas, porque, apesar de seu relevo, não é por eles com exclusividade, que se abrem as portas dos céus, e nem por eles que se consegue a senha para a pacificação dos espíritos em evolução. É a caridade a mais elevada expressão de amor. Por isso, está colocada na frente da fé e da própria esperança. Sem contradita, sabe-se que a fé é quem alforria a confiança no futuro do além-túmulo, asseverando aos acadêmicos da vida, que a Justiça de Deus aguarda suas criaturas segundo as obras de cada um, tranquilizando os corações dos viajores na certeza de que tudo tem um propósito.
A senha, caridade, ensina que a esperança é a virtude que garante a importância do dia a dia, da hora a hora, para o enfrentamento do bom combate, máxime quando a mãe se deixa abater em desesperança ao ver seu filho combalido por uma doença grave, ou se alegre ao vê-lo formado, após longa peregrinação pelos bancos acadêmicos. Sob a luz desse discurso, não resta dúvida de que sem a esperança, a consciência, vaso sagrado onde estão depositadas as leis de Deus, ficaria em desalinho e os sentimentos pulcros perderiam a sintonia com excelência da vida.
Nesse sentir, não será reprochável afiançar que a Caridade é a mais nobre das virtudes, razão porque Paulo na epístola aos coríntios faz dessa virtude um ícone da bem-aventurança, conforme está inserto em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, na pág. 200 ipsis verbis:
"Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um bronze sonante, e um címbalo retumbante; e quando eu tivesse o dom de profecia, penetrasse todos os mistérios, e tivesse uma perfeita ciência de todas as coisas; quando tivesse ainda toda a fé possível, até transportar as montanhas, se não tivesse a caridade eu nada seria. E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada".
A caridade é benfazeja, paciente, doce, não se alimenta da inveja, não tem caráter de temeridade, não se precipita, não desdenha, não tem orgulho, não se melindra e não se irrita com nada, em verdade tudo suporta, tudo crê, tudo espera e tudo sofre. Entre as três virtudes: A fé, a esperança e a caridade, permanecem, mas entre elas, mais excelente é a caridade. (São Paulo, 1ª Epístola aos Coríntios, cap. XIII, v. de 1 a 7 e 13).
Compreende-se, assim, porque a caridade é a mais nobre das virtudes, trazendo em si a senha para a felicidade, conscientes os filhos da consciência cósmica, que a caridade é a virtude que não busca raça, credo ou cor podendo e devendo ser exercitada por todos, indistintamente, ou sob outra dicção, deve ser praticada desde homem mais rico do planeta ao mais humilde ou mais pobre dos seres desse orbe. Não se pode negar a evidência de que incontáveis irmãos de caminhada, diariamente, abrem seus corações para falar com aqueles que sabem ouvir e falam de suas dificuldades, de seus problemas, de seus desânimos, desesperanças, dos sofrimentos que experimentam e somente encontram ouvidos moucos.
O mister de ouvir os irmãos de jornada, com a senha do amor, filho legítimo da caridade, é o proceder digno de respeito, porque de um modo ou doutro, consolida a ajuda que os irmãos em desalinho necessitam, habilitando os arautos do bem a auxiliares de Jesus, porque, todos indistintamente necessitam desabafar, aliviar a tensão das dúvidas e questionamentos, encontrando no Divino Jardineiro, o maior psicólogo da humanidade, sob a vertente de São Mateus 11. V. 28/30, dizendo:
“Vinde a mim todos vós que sofreis e estais sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas; porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”.
Para ser auxiliar de Jesus, será indispensável vestir-se com a toga da caridade, senha da felicidade, diante da persistência de que no mundo há escassez de psicólogos para atender a todos os que experimentam a dor dos sofrimentos como instrumento de elevação. Sob esse díptico, o Senhor do Universo, permite que os espíritos entre si, no exercício da caridade, identifiquem-se, valendo dizer que é no exato instante em que o próximo, desabafa e declara seus problemas, oportuniza aos detentores da senha da felicidade comungarem a autêntica caridade.
Com fulcro nesse mágico instante da prova, é de bom alvitre oferecer o ombro amigo, ouvir com atenção, não apressar a manifestação do pensamento do próximo. Nem todos gozam dos mesmos recursos culturais para se expressarem. Por isso aconselhar, dizer uma palavra de conforto. Meu Deus! As criaturas julgam-se tão eruditas. Discutem política, economia, questões jurídicas com temas de expressivo significado social. Dizem-se catedráticas, mas na hora de pôr à prova os conhecimentos da vida, evangélicos ou sociais, parecem que lhes faltam as palavras certas.
Ora, ora, .... Parece que ninguém deseja saber das cizânias alheias, afastando-se dos irmãos em desalinho para “ bem viver”, o que é um paradoxo, não sendo de estranhar que para se viver em paz é condição sine qua non, auxiliar o próximo, seja em qualquer posição em que o candidato à felicidade esteja colocado nessa existência, seja como juízes, advogados, médicos, Desembargadores, Ministros, servidores públicos, fâmulos, seja qual for o ofício, a verdade é que se deve florescer onde se foi plantado, máxime porque Deus sabe o que faz e nada acontece por acaso, mas por uma causa.
A causa é levar o amor na excelência da palavra, o carinho, a estima e elevada consideração a todos que jornadeiam nas provas que levam aos esplendores celestes, pela prática constante da caridade, estrada para encontrar a senha da felicidade. Com esse sentimento n’alma, será oportuno, a Mensagem do Homem Triste da lavra do espírito Meimei, para aqueles que não a conhecem a professora Irene, quando declama:
"Passaste por mim com simpatia, mas quando me viste os olhos parados, indagaste em silêncio porque vagueio na rua. Talvez por isso estugaste o passo e, embora te quisesse chamar, a palavra esmoreceu-me na boca. É possível que tenhas suposto que desisti do trabalho, no entanto, ainda hoje, bati, em vão, de oficina a oficina ... muitos disseram que ultrapassei a idade para ganhar dignamente o meu pão, como se a madureza do corpo fosse condenação à inutilidade, e outros, desconhecendo que vendi minha roupa melhor para aliviar a esposa doente, despediram-me apressados, acreditando-me vagabundo sem profissão.
Não sei se notaste quando o guarda me arrancou à contemplação da vitrine, a gritar-me palavras duras, qual se eu fosse vulgar malfeitor ... Crê, porém que nem de leve me passou pela mente a ideia de furto, apenas admirava os bolos expostos, recordando os filhinhos a me abraçarem com fome, quando retorno à casa. Ignoro se observaste as pessoas que me endereçavam gracejos, imaginando-me embriagado, porque eu tremesse encostado ao poste; afastaram-se todas, com manifesto desprezo, contudo, não tive coragem de explicar-lhes que não tomo qualquer alimento, há três dias...
A ti, porém, que me fitaste sem medo, ouso rogar apoio e cooperação. Agradeço a dádiva que me estendas, no entanto, acima de tudo, em nome do Cristo que dizemos amar, peço me restituas a esperança, a fim de que eu possa honrar, com alegria o dom de viver. Para isso, basta que te aproximes de mim, sem asco, para que eu saiba, apesar de todo o meu infortúnio que ainda sou teu irmão".
Assim amigos, sob o influxo dessa poesia de amor, convite de Meimei para abrirmos nossos corações, utilizando-se a senha da felicidade que, o Senhor da Vida colocou em suas criaturas para que pudessem amar-se uns aos outros, como propõe luminosa lição do Divino Jardineiro, para todo o sempre, refletindo todo o conhecimento, adquirido ao longo da jornada de provas e expiações existenciais, realizando por aqueles que estão no leito de dor, ou na rua ou na solidão a mais pura e sacrossanta caridade, fazendo brilhar a senha da felicidade, abrindo as portas de nossos corações e deixando um letreiro luminoso na porta. Entre sem bater.
Sejam bem-vindos aqueles que sentem fome, ou o frio do desamor. Podem entrar os que tem sede de carinho, pois vamos repartir com eles a nossa vida, nosso tempo, nossa atenção, nosso ombro amigo, nossa fraternidade, que vale mais que todo o dinheiro do mundo. As portas de nossos corações permanecerão abertas 24,00 horas por dia, para os enjeitados, os desiludidos, os que jamais tiveram sorrisos em seus lábios, porque as lágrimas sempre chegaram primeiro entrando pelos cantos de suas bocas, para diluir com o sal o doce da alegria.
Praticando assim a caridade viveremos em plenitude a senha da felicidade, porque a surpresa que nos aguarda pelo acolhimento em nossos corações desses rostos tristes, emudecidos, estiolados, identificam-se com o sorriso do Homem de Nazaré dizendo na metáfora: Tudo o que você fez para estes desfavorecidos foi a mim que o fizestes, por isso, agora é a sua vez: Entre você também, pode entrar sem bater, a casa é sua, o céu é todo seu.
Sejamos, pois, um raio de luz na vida do nosso próximo. O mundo precisa urgentemente de amor. Há pessoas em todos os lugares, em todos os rincões, em todas as profissões, em todos os cantos, sedentos de amor. Sejamos os seus benfeitores. Não dispute a honra de ser servido. Lute pela alegria de servir.
Com esses conceitos, remetemos aos amigos fraternos, votos de um final de semana com muita paz em nome de Jesus.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli