Os seres humanos, na busca da reforma íntima, trilham caminhos ignotos e incontáveis vezes abandonam a misericórdia que deve orientar os procedimentos daqueles que anelam terem puros os corações, consoante o sermão do monte ditado pelo Pastor das Almas. Diante das provas a que são submetidas as criaturas, seja pela ofensa de outrem, seja pelos contratempos do dia a dia, ou em outra dicção, por palavras amargas, violências físicas ou supressão aos direitos e às prerrogativas individuais, estabelece-se o momento em que os viajores estiolam seus sentimentos de fraternidade e partem em fúria incontrolável contra aqueles a quem julgam os agressores.
Nesse proceder, abandonam o sentimento da misericórdia, com vista ao objetivo espúrio da vingança, dando o troco nos desafetos, e por consequência regridem para os tempos imemoriais da Lei de Talião. Oh! Meu Deus. É bem por isso que ocorrem as dissidências, os assassinatos os crimes de todo jaez e as guerras, presentemente em voga contra o Estado Islâmico, guerras essas onde buscam dar o troco, passando antes de atingirem o objeto anelado, a odiar o agressor e albergando no coração o ácido que corrói os mais puros propósitos d’alma. No momento da ira e do desalinho dos viajores do tempo, a pergunta que não se cala jamais, é aonde estará o legado de amor do Messias, para que se ame, ao seu próximo como a si mesmo?
Que não se esqueça a vã filosofia dos profitentes; naquela época esclarece a Boa Nova, Capítulo XV de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, que os Fariseus, tendo conhecimento de que o Divino Pastor fizera calar essas dissidências mostrando aos Saduceus como proceder, reuniram-se os que desejam tentá-lo e provocando-o nos seus conceitos, perguntaram ao Mestre, qual era a maior lei que existia. Nesse sentido, não é novidade que naquela ensanchas o homem de Nazaré explicitou a resposta “ipsis verbis”:
“Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda a vossa alma e de todo o vosso espírito. Eis aí o maior e o primeiro mandamento. Eis o segundo, que é semelhante a este: Amareis vosso próximo como a vós mesmo. Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos”. (São Mateus, cap. XXII, v. 34 a 40)
Diante dessa realidade, como proceder para vencer a violência que ainda grassa na humanidade por todos os rincões que se tem notícias, nada obstante, tratar-se de um contingente diminuto de agressores em relação à população desse orbe terrestre que abriga, segundo as estatísticas da ONU, mais de sete bilhões de seres encarnados, fazendo provas e resgatando o passado delituoso assumido pelas próprias escolhas. Sem contradita, só o amor será capaz de vencer o ódio. Por essa razão não será lícito às criaturas alegarem ignorância à Lei Sublime trazida pelo Divino Messias com objetivo de Edificar nesse reino de Deus, a Lei de Caridade, de Justiça e Amor. Nessa reflexão, a Paz sem contradita é o caminho.
Cabe anotar nesses considerandos que no momento em que aviões de guerra atacam cidades sírias, visando aniquilar redutos e fortalezas do grupo radical Estado Islâmico, uma voz se levanta conclamando as nações à paz. É a voz que nasce no coração de Antoine Leiris, jornalista do France Fleu, que correu esse mundo de Deus por sua missiva intitulada: “Vocês não terão o meu ódio”.
Inapagável na historiografia mundial, o fato de que na sexta-feira 13 de novembro de 2015, o mundo assistiu, estarrecido, aos atentados na cidade de Paris, na França as cenas do Bataclan e os demais locais atacados pelos “cobradores”, dando o “troco” em nome do chamado Estado Islâmico, que assume os atentados de barbárie, alegando serem “mulçumanos”, como se todos que professam essa fé fizessem parte da mesma confraria, e o resultado foi de cenas dantescas que pareciam irreais, tal a violência e a crueldade. Centenas de vítimas, encontravam em lugares de lazer, reunidos em confraternização com amigos, familiares, colegas, sem esperar que a traição aos princípios do amor do Divino Jardineiro, ali mesmo no coração da capital francesa, se pudesse desenrolar drama de tal barbárie e atavismo.
Oh! Meu Deus. O saldo foi de lágrimas, de desespero, uma nação enlutada, chorando seus filhos, e sentindo a dor inconsolável, como a do jornalista Antoine Leiris, cuja esposa foi uma das vítimas da barbárie. Na dor da partida brusca da esposa querida, se soube que a humanidade não está perdida, porque essa alma amorosa foi capaz de verter seu pranto, declarando em alto e bom som seu sofrimento, redigindo uma carta aos seus agressores, sem revanche ao dizer aos terroristas, “ ipsis verbis”:
“Na noite de sexta-feira, vocês roubaram a vida de uma pessoa excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho. Mas vocês não terão o meu ódio. Não sei quem vocês são e não desejo saber. São almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à Sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher foi uma ferida no Seu coração. Por isso, eu não odiarei vocês. Porque responder ao ódio com raiva seria ceder à mesma ignorância dos agressores. Vocês pretendem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com olhar desconfiado, que sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. O mesmo jogador continua a jogar. Eu vi minha esposa somente nesta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira. Tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor. Concedo a vocês esta pequena vitória. Mas será de curta duração porque sei que minha esposa vai me acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no paraíso das almas livres. Nós dois, meu filho e eu, vamos ser mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Não vou lhes dar do meu tempo. Quero juntar-me a Melvil, que acorda da sua sesta. Ele só tem dezessete meses. Vai comer como todos os dias. Depois vamos brincar como fazemos todos os dias e, durante toda a sua vida, esse garoto vai fazer a afronta de ser feliz e livre. Tudo isso porque vocês nunca terão o seu ódio”. (Redação – M. Espírita. Carta redigida por Antoine Leiris.)
Com esse pulsar da lei de amor nos corações, constatamos que o mundo não está perdido e que cabe a cada viandante pelo planeta de provas e expiações, agir e reagir com amor diante das ofensas, das guerras, sem revanche, no bom combate como anota Paulo, Apóstolo, quando diante das dificuldades e dos empeços da existência, sempre retomar a vida e dar o exemplo de um comportamento probo e amoroso.
É preciso ser nobre de sentimentos não se auto permitindo o envolvimento pela indignação ante a onda de violência que grassa aqueles que vêm na retaguarda da existência, porque eles também um dia verão que a vida é bela, colorida e consentida. É a nobreza d’alma que não se deixa contaminar pelo desejo de vingança. A doutrina rediviva do Mestre Jesus, dá a certeza de que ninguém morre, e que a vida pode ser interrompida pela brutalidade dos criminosos, mas os laços do amor não são destruídos pela ausência física, levantando e soerguendo-se o espírito para prosseguir na jornada da existência em direção aos páramos celestiais.
Com esse ideário, segue nossos votos de um final se semana de muita paz em nome de Jesus de Nazaré, acompanhado do nosso ósculo depositado em seus corações anelando que os viajores do Mundo de Deus jamais recebam nosso ódio, sejam quais forem as provas que a Providência Divina nos outorgar.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli