Refletindo sobre o verbo amar é, no mínimo, curioso observar os enganos que se comete em nome desse tema, a começar pelo entendimento que se dá ao verbo tomando-o na acepção da palavra, as juras que fazem os enamorados, poetizando a beleza da eleita (o), com as tintas multicoloridas inspiradas nos arco-íris, com as cores tracejadas no pincel com que a Potestade autografa a sua obra na natureza.
Sabe-se entretanto que transcorrido o tempo, elemento que consolida o amor verdadeiro, muito dos amores arrebatadores, deixam-se levar pelas dificuldades sem conta, ou na linguagem de Paulo, o apóstolo dos corintos, “a luta do bom combate”, em provas e expiações e abandonam o reduto sagrado do lar, alçando voo em busca de novas paisagens, abandonando o santuário do lar e os filhos sob o manto do paradoxo da sorte, quando não em extremis assassinam a companheira de viagem, sob o pretexto de “que a amava perdidamente e se ela não pode ser dele, também não será de ninguém”. Oh! Meu Deus. Que amor é esse e que confusão se faz com o verbo amar. O amor não é egoísta, muito menos sentimento de ocasião para ser aproveitado nos prazeres e volúpias momentânea, ou “gerador” de crianças. Não se trata de atração baseada no desejo sexual através da natural afeição e ternura sentida por amantes na relação amorosa, fato que se dá também na atração sexual natural entre as outras espécies animais.
O amor na excelência da palavra é uma força com fulcro na afeição arrimada na admiração, benevolência, na calorosa amizade e na forte afinidade. Sob outra dicção, o amor é um poder robusto, agregador e protetivo que cria laços de autentica coesão com a pessoa admirada. Por isso não será sensato confundir-se o sexo com o amor em plenitude, uma vez que o sexo tem finalidade mais nobre, do que aquela vulgarmente empregada nas relações amorosas. In veritas, o sexo está destinado, apesar de prazeroso, a fornecer corpos às criaturas de Deus para progredirem exercitando as provas e resgatando os comprometimentos do passado e o amor é entrega, abnegação, responsabilidade, compreensão, entendimento enfim, todas as virtudes lecionadas pelo Divino Pastor.
Com essas considerações e objetivando que os enganos das criaturas de Deus, quando ocorrerem na conjugação do verbo amar, possa resultar no verdadeiro e autêntico amor, fiel ao princípio de que todas as dádivas recebidas devem ser distribuídas a mancheia, divide-se a metáfora colhida no santuário da vida sobre uma história chinesa, com o seguinte discurso:
Conta-se que Lin casara-se com juras de amor, anelando ser feliz, não fosse um pequeno obstáculo que lhe obnubilava a existência, através de sua sogra, o que é até comum nos relacionamentos humanos no exercício da paciência e do bem viver. Em verdade Lin amava seu marido, mas por Deus, não esperava ter aquela sogra, uma cascavel segundo seus conceitos e o pior dessa pedra no caminho da sua felicidade, ela era obrigada a obedecer a tradição chinesa, segundo o que, a nora deve servir a sogra. Assim os meses foram se dobrando uns sobre os outros, célere como uma tempestade, nada obstante o desconforto do início, com a obediência a essa tradição, essa postura se transformou em um terrível sentimento de antipatia, ao ponto de odiar a sogra e não suportava mais servi-la, ano após ano, na soma cadenciada dos dias.
O que fazer diante desse empecilho? Arquitetou baseada nesse sentimento de ódio, um plano para desimpedir os caminhos da felicidade em nome do amor que tinha por seu consorte. Assim, procurou um velho sábio e lhe disse que precisava de ajuda para se livrar da sua sogra, uma pedra no caminho que buscava. O sábio escutou, com a paciência daqueles que têm puro o coração e ao depois, atendendo a sua consulente providenciou algumas ervas e as entregou à jovem esposa, com as seguintes recomendações: Essas ervas – explicou – são venenosas. Elas devem ser deixadas em infusão e servidas, uma vez ao dia, todos os dias sem exceção. E o que acontecerá? – Perguntou ansiosa a consulente. Ora, ao cabo de seis meses, sua sogra morrerá. No entanto, muito cuidado deve ser tomado a fim de que as desconfianças a respeito da morte não venham a cair sobre você. Por isso, para evitar evidências sobre sua pessoa, a partir de agora, procure tratar sua sogra muito bem, indo além do dever da tradição e quando ela morrer, chore bastante para não levantar suspeita.
A jovem e amorosa esposa foi feliz para casa e, no dia imediato, começou o “tratamento” na velha, servindo o chá com aquelas ervas para a sogra e de doze em doze o veneno mortal era aplicado, conforme previamente orientada, passando a tratar a sua “rival” no amor muito bem. Os dias foram se dobrando na ampulheta do tempo e três depois, Lin se deu conta que a sogra estava diferente. Ela não era mais tão complicada, nem chata, nem arrogante e ainda por cima tinha a aparência mais saudável.
O que será que estaria acontecendo? Começou a se inquietar com a transformação da “vítima”, e quando estava para se completar os fatídicos seis meses previsto pelo sábio para a morte da sogra indesejada, um grande pavor tomou conta de Lin. Como se fosse um passe de mágica, ela não queria mais que a sogra morresse, pois afinal a “velha” se transformara numa mãe para ela, seja pelo carinho, pela atenção e pela absoluta confiança nela depositada e no mais comezinho acontecimento no sagrado lar.
Oh! Meu Deus. O que ela tinha feito? Aproximava-se a hora da partida da sogra com o tal veneno que ela vinha aplicando assiduamente e com sofreguidão daqueles que em nome do amor, buscam facilidades e alternativas para a “felicidade de fantasia”. E agora, o que fazer? Lin pensou, pensou e resolveu se aconselhar novamente com o sábio e com rapidez diante da urgência que o caso ensejava. Uma vez em consulta, contou o que acontecera nesses meses e falou de seu lhanozo arrependimento, vertendo pulcras lágrimas pelo seu comportamento enganoso em nome do amor pelo filho daquela que ela outrora considerava uma concorrente.
Novamente, o sábio a escutou, com calma e para surpresa da consulente ele lhe disse que, em verdade, não fora a sogra que mudara o seu procedimento, mas ela mesma dera causa à transformação e fora o objeto das modificações em sua vida, porque ao se casar, seu olhar para a sogra era de uma rival, alguém a quem seu marido pertencera e continuava pertencendo. Tomara-se de raiva por ter que servi-la e passou a projetar em seu coração o ódio que a si própria se permitia consumir, mas, a partir do momento que decidira tratá-la bem, tudo isso se evaporara e as nuvens que obnubilava os seus caminhos, transformaram-se em céu de brigadeiro para a felicidade do casal.
No entanto, diante da realidade dos acontecimentos e a proximidade do desenlace da outrora indesejada personagem, como proceder nesse momento de angústia em que seu coração lhe dizia que ela envenenara a mãe de seu marido, ao longo daqueles meses? Para sua surpresa maior, o ancião a tranquilizou dizendo: Não eram ervas venenosas as que lhe entreguei, ao contrário, as ervas contém um extraordinário poder vitamínico. Por isso, agora em paz com o seu amor transformado, pode continuar a servi-las no chá. E a nora, tranquila, retornou ao seu lar, para prosseguir a viver em paz, usufruindo do amor daquela que se transformara em mãe atenciosa.
Cabe nesse sentido, anotar que nada é mais destrutivo, para si e para aqueles que compõem o clã que serve de espeque à vida, do que o ódio que a criatura conserva e alimenta no coração, diante da poderosa força que vibra nos filhos de Deus, segundo os conceitos do Divino Jardineiro, ao esclarecer que as criaturas criadas pelo Pai são Deuses, cabendo a cada um deles o exercício do amor em plenitude. Nesse sentido, Francisco de Assis, bem compreendendo o campo psíquico de tormenta e de loucura, na trajetória da vida, bela, colorida e consentida, firmava-se na proposta do amor, ao dizer na sua prece poema: “Onde houver ódio, consenti que eu semeie amor”.
Ponto finalizando, sob Ideário colhido na Redação do Momento Espírita de 07.01.2016, com base em palestra do orador espírita Divaldo Pereira Franco recebam os amigos fraternos, nosso ósculo depositado em seus corações, em nome da oblata da fraternidade, com votos de um ótimo final de semana em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli -