A Palavra é um termo, um vocábulo e uma expressão, e, é sem dúvida uma manifestação verbal ou escrita formada por um grupo de fonemas com uma significação, destinada a expressar as ideias, reflexos dos pensamentos e sentimentos, com poder tanto para agradar, quanto para ferir. Lamentavelmente, na sociedade moderna, incontáveis vezes, não se mede o impacto que as palavras podem ter no interlocutor. Na ausência da vigilância se diz coisas ou narra-se fatos sem o mínimo cuidado.
Por conta desse procedimento sem vigilância dos sentimentos, fere-se e ofende a outrem resultando na criação de uma cizânia nos relacionamentos e no bem-estar e na convivência social. Desse modo, para não tornar as palavras armas destrutivas é preciso transformar as expressões de forma conscientes, dominar a ira e desenvolver o autocontrole. Na verdade, não é o que se diz que constrange, mas como se diz. Evidentemente, não se trata de reprimir os sentimentos nem mesmo deixar de expressar as opiniões, mas usar as palavras com respeito. O que determina que uma crítica seja construtiva ou destrutiva é a maneira como ela é dita, o tom da voz, o verbo utilizado e os gestos que o acompanham. Dessa forma, também é importante saber identificar os momentos mais oportunos para se fazer as considerações a respeito do assunto a ser tratado.
Sem contradita, a palavra articulada serve para transmitir os pensamentos do mundo imaterial para o mundo material, demonstrando os pensamentos que se deseja transmitir e não raras vezes, escondem as intenções nas entrelinhas de discursos de uma beleza lirial. Pronunciada a palavra, e, no sentido lato, também o pensamento, não há maneira de fazer com que ela ou ele retorne à origem, máxime porque, coloca-se fora do controle da fonte emissora e de seu raio de ação.
É indispensável pensar e pesar muito bem antes de se pronunciar a respeito de um tema, uma situação ou um fato, pois é evidente que não se podendo fazer com que a palavra volte à fonte emissora do pensamento, ou se seja, retroceder as ondas vibratórias gravitacionais, a contrapartida é um fato consumado que atende a lei de causa e efeito, impondo à fonte emissora responder pela ação praticada. A propósito do tema em apreço, ainda que contada sob a verve e os sentimentos do articulista, há uma história de lirial aplicação a essa retórica que não se pode olvidar, para bem sedimentar o entendimento e aplicação da palavra na vida dos candidatos a felicidades e viajores em trânsito pelo planeta de provas e expiações.
Conta-se que certo dia um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou–o numa carta rude e malcriada e mandou-a para seu chefe da oficina de onde fora despedido. O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. E quando o diretor do serviço leu as frases ingratas que o expressava, acolheu-o desprevenidamente, no próprio coração, e tornou–se furioso sem saber porque.
Encontrou, quase de imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo. Foi a vez do subchefe tornar-se neurastênico, sem dar o motivo. Abrigou a projeção maléfica no sentimento, permaneceu amuado várias horas e, no instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível.
Tão só por ver um sapato imperfeitamente engraxado, proferiu dezenas de palavras chulas; sentiu-se aliviado e a mulher passou a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e desabafou. Com palavras indesejáveis inoculou-lhe no coração o estilete invisível.
Agora era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do enorme débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão, dorminhoco e paciente, e transferiu-lhe o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções.
O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera, e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública. Era a senhora de um proprietário vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu instantaneamente e passou a abrigar em seu coração a vibração amaldiçoada, possuída pela força maléfica.
Em gritaria desesperada, foi conduzida a certa farmácia; entretanto, deu-se pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração amaldiçoada. Crivou-o de xingamentos e esbofeteou-lhe o rosto.
Rapaz muito prestativo, de calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para a residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde.
Chegou e descarregou sobre ela toda a ira de que era portador.
__ estou farto! __ bradou __ a senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem! Não suporto mais esta vida infeliz! Fuja de minha frente! Com esse procedimento, fez mau uso da palavra e pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou colérico, qual louco. A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com naturalidade e brandura:
__ venha cá, meu filho! Você está cansado e doente! Sei a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo! Lembremo-nos de Jesus! O uso que O Divino Jardineiro fez das palavras dulcificadas. Afinal, tudo passa na Terra. Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou.
Abraçou-o, comovida, e afogou-lhe os cabelos. O filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia tanto carinho materno, tanto perdão em suas palavras e tanto entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas.
Nesse momento, houve então entre os dois uma explosão de íntimas alegrias. Jantaram felizes e oraram em sinal de reconhecimento a Deus. A projeção destrutiva do ódio morrera, ali, dentro do lar humilde, diante da força infalível do sublime amor.
Com esses sentimentos d’alma, segue nosso ósculo depositado em seus corações, com a oblata da fraternidade, anelando possamos utilizar da virtude da resignação com os reveses da vida e tenhamos um ótimo fim de semana em nome do Homem de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli