A expressão solidão tem sua gênese no latim com a manifestação do termo “solitas”, significando a falta de companhia, assim entendida como carência no sentido afetivo, seja voluntária quando a pessoa decide estar sozinha, o caso dos misantropos ou involuntária, quando a criatura se encontra solitária por circunstâncias alheia à sua vontade; em um ou noutro caso, trata-se de sentimento subjetivo, sendo de bom alvitre anotar que a solidão absoluta não existe.
De fato, o isolamento absoluto não existe, porque sempre há alguém com quem se mantenha uma certa proximidade física ou emocional, ensejando ainda o tema em apreço em termos transcendentais, a retórica de Paulo Apóstolo, advertindo que há uma influência dos espíritos bons ou ruins, de acordo com o pensamento e atitude daquele que o produz, criando-se uma intensa atração entre o emissor e o recebedor das ondas mentais, razão do arauto do bem lecionar: “Cuideis, pois, há uma nuvem de testemunhas que vos observam”.
Com o devido respeito as recomendações do apóstolo, e sem se aprisionar a letra, mas preservando o espírito da recomendação em exame, conscientes de que de acordo com os pensamentos emitidos pela poderosa antena da qual os viajores da felicidade são portadores, cabe esclarecer que a solidão em certos casos é valorizada por incontáveis profitentes da viagem de aprendizado, considerando o isolamento imprescindível para descansar ou se concentrar, circunstância que é aceita pela lógica e o bom senso.
Não se olvide, entretanto, que atendidas as diferenças pessoais, a solidão durante períodos extensos é considerada como agente de dor, podendo levar o indivíduo a apatia e a depressão, síndrome de pânico e outras anomalias psíquicas, razão pela qual as pessoas tendem a procurar o contato social, através de reuniões, clubes, associações de classes, passeios e incontáveis formas para viverem em comunidade.
Anote-se no caso em exame, que entre os monges de algumas congregações há os que decidem viver na solidão absoluta para se ligarem ao seu mundo interior, não obstante viverem em grupo. De outro lado, se vê no seio da sociedade civil organizada expressões que estiolam o sentido que em certas ocasiões a solidão pode proporcionar àqueles que anelam um solilóquio com a Divindade, máxime quando dizem em alto e bom som:
Oh! Meu Deus. “Acabo de me divorciar, depois perdi o emprego, não fosse suficiente os reveses nos meus projetos, oh! Vida ingrata; por isso desejo viver em solidão para quem sabe reorganizar a vida”. Oh! Quem disse que o isolamento é o caminho para expurgar os erros dantanhos e os delitos que ficaram na retaguarda das provas destinadas ao crescimento espiritual e à colação de grau na academia da existência. Sem receio de reproche, assevere-se que esse não é o proceder que a consciência aplaude, porquanto a vida é construída nos sonhos e concretizada no amor, sendo notório o conhecimento de que um pequeno grão de alegria e esperança no coração, tudo pode transformar, dispensando a solidão sem direito a aviso prévio.
Sem contradita, cada novo dia o Criador oferece às suas criaturas uma página em branco, destinada aos registros de mais um capítulo das viagens de provas e expiações, oportunizando-se relegar ao esquecimento o isolamento e olhar as oportunidades e inovações oferecidas pela nova página, como ocasião de minutar com os olhos do amor e o pincel da esperança, a pintura da vida sempre bela e colorida.
Ora, é certo que tudo na vida muda de aspecto, tonalidade e cor, quando encarado com otimismo. Deus permite aos seus filhos, enquanto na Terra, dias de sol e outros de chuva. Momentos de alegria e descontração para se revigorar, e tempos de dores e lágrimas, para o aprendizado. Também permite acender as luzes interiores, mesmo frente às borrascas morais, causa porque o Divino Pastor recomendou: “Que brilhe a vossa luz”.
Sem dúvida é o Pai Celestial quem conforta as suas criaturas quando estão tristes, porém, a escolha do rumo é personalíssima para se pensar positivo, ou mergulhar nas lamúrias; proferir palavras de ânimo e esperança, ou falar de maneira a abrir feridas na alma de quem ouve. É por essa razão, motivo e causa, que hoje, aqui e agora é oportunidade da reforma íntima para sentir, pensar e falar, desfraldando a bandeira da felicidade, oferecendo a solidão o niilismo como moeda de troca, para em seu lugar, aproximar daqueles que precisam de atenção especial, recebendo um carinho, um sorriso com simpatia, levando a esperança como o norte que faz brilhar a estrada dos viajores, deixando pegadas luminosas para aqueles que vêm na retaguarda, ensejando aos que praticam a virtude da caridade, a graça do crescimento espiritual carimbando na alfândega da vida o passaporte para os páramos celestiais.
Com fulcro nesse sentimento d’alma, é nobre e de bom alvitre, quando a tristeza invadir os corações dos herdeiros do universo, levantar os olhos para o infinito para alcançar o espetáculo do sol ou da chuva estimulando os viajantes que anseiam pela felicidade, reconhecerem o momento ditoso que se vive nas provas e expiações, destinadas a marcar o passaporte para os candidatos a elevação espiritual e o ingresso nos altiplanos celestiais.
Sem dúvida, no lugar da tristeza e dos desaires que compõe a cesta básica das provas, substitua-os com a força dos pensamentos. Ouça o canto da passarada que desde os primeiros cicios da manhã, despertam e louvam a Deus com seus gorjeios. Contemple o orvalho que beija as flores, segredando-lhes notícias do dia que se espreguiça, despertando em plenitude no novo dia, como a dizer em alto e bom som:
Chequei, trago novas oportunidades, novas esperanças, novas chances, sorria, há mais de mil razões para olhar a vida sempre bela, colorida e consentida, escrevendo um novo capítulo de sua história. Ora, mesmo que o coração esteja enlutado pela ausência de um amor, pela partida de um ser querido, pelo ultraje sofrido, a natureza diz que é tempo de se abdicar das dores, porque o sol é mensageiro de vida, com seus raios de luz, dizendo às trevas que é hora de seu recolhimento.
É assim que a chuva generosa penetra a terra e se pode ouvi-la sendo sorvida, com sofreguidão, com cada dia entregando as criaturas uma mensagem de renascimento, e, a cada despertar há um esmero do Criador para ser diferente do anterior, porque Deus é sem dúvida insuperável, jamais se repete em suas obras, jamais reprisa as cores da madrugada e muito menos envia as mesmas gotas de chuva para saciar a sede das matas. Em verdade, tudo é novo a cada dia para que seus filhos possam absorver a mensagem de revigoramento, vivendo agora, sem a dor que se experimentou nos testes a que se submeteram os candidatos ao diploma de amor à vida em todo o seu esplendor no transcorrer dos dias, dos meses e de toda a eternidade.
Sob o manto dessa reflexão, em tempo algum se permita que a solidão abrace os sonhos, máxime porque é tempo de viver, de conquistar virtudes, de aprender algo mais, de usufruir das amizades que os novos dias trazem e a oferecem generosas. Em síntese apertada, não permita que a solidão se instale em sua vida, perdendo a chance de viver mais um dia de oportunidades, sobre o bendito planeta azul sob o comando de Jesus. Não te entregues. Não te permitas a hora da invigilância e não te aconchegues nos braços da tristeza. Não concedas forças ao mal que te deseja fraco e dominado. Pensa que a borrasca que te alcança na solidão tem por escopo maior testar as tuas resistências morais. Lembra que é nos combates mais difíceis que se forjam os líderes e se formam os heróis.
Foi na solidão dos meses e anos de prisão que Nelson Mandela, prêmio Nobel da paz em 1993, preso por 27 anos refletiu e criou coragem para os embates da vida, tal como a então adolescente Joanna d´Arc também teceu os fios da coragem e do destemor, que lhes permitiram enfrentarem os julgamentos arbitrários e as condenações injustas.
Tenha-se em mente que são as más circunstâncias, que envolvem as provas da vida, permitem as criaturas avaliarem, com precisão a elevação espiritual que são alcançadas. Nesse sentido, não olvides que, os erros são lições preciosas, não para os aplausos da sandice, mas para colaborar no soerguimento moral. Recorde-se que o Celeste Amigo está zelando permanentemente pelas suas ovelhas, confiante na força que se investe na vitória. Assim, recorda-O e evoca-O nas horas amargas, porque tudo é passageiro no mundo e os panoramas se modificam, em minutos e em segundos.
Oh! Meu Deus. Que a rasa filosofia não obscureça a mente dos viandantes e permita que os raios das estrelas brilhem a todos que têm os olhos abertos, para que não sejam obnubilados pelas chuvas torrenciais da amargura incontida, como recomendou Jesus. Jamais apagues do semblante a serenidade que informa, aos que passam, que a confiança é o teu escudo e o Divino Amigo segue contigo. Nasceste para crescer, renasceste neste mundo para vencer. Sempre. Abandone a solidão. Substitua-a pela prece. É o solilóquio como Senhor da vida e tudo se resolverá. Com Jesus e por Jesus, segue em frente, hoje, amanhã e sempre e estará afastada a solidão em nome da verdade, o caminho e a vida sempre bela, colorida e consentida.
Com esse ideário, recebam os amigos de sempre, o ósculo em seus corações, com a oblata da fraternidade, com votos de um ótimo final de semana me nome do Divino Galileu.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli -