Na jornada que se propõe os que procuram com intrepidez a felicidade, inexiste um estudioso que não se depare com as dores do corpo físico ou da alma submetida as provas e as expiações, caminho que leva ao progresso e pelo qual nenhum viajor está isento de percorrer. Na senda traçada na pátria espiritual para dar o start nos anelos do coração, não se negue que quando se está no auge da alegria, quando os planos traçados são incontáveis, e no turbilhão de tantos desejos e de frente com a ansiedade, imagina-se que muitos dos sonhos, intimamente não se espera sejam alcançados.
Oh! Meu Deus. Por que será, ou para que será que tantos empecilhos chegam com sofreguidão entrando pelas portas do coração, ceifando e derrubando as muralhas dos sonhos, destronando os prazeres idealizados dantanho, deixando como rastros a dor como permanecia, como se fosse vitalícia nos refolhos dos sentimentos, máxime quando da partida de um ser querido, sol da vida daqueles que são sonhadores e perderam o endereço da Divindade.
A resposta a questão que não se cala, sem dúvida é de que a dor é o instrumento pedagógico da existência, de todos que transitam pelo belíssimo planeta Terra e constitui ferramenta destinada ao atendimento do jugo proposto pelo Divino Galileu, aos tormentos das provas e expiações, diante das escolhas do livre arbítrio, que estabelece o vínculo de submissão e obediência as lições de Jesus. A propósito das dores, análogas ao relógio do tempo, cuja temporalidade marca o fim do sofrimento, o Evangelho Segundo o Espiritismo, trata a questão no capítulo V, item 18, relatando a metáfora do Cristo sobre as bem-aventuranças dos aflitos, dizendo: “Bem-aventurados os aflitos que deles é o reino dos céus”.
As dores podem ser físicas e da alma, sempre ensejando a reflexão para responder a curiosidade do porquê uns sofrem mais que os outros, enquanto criaturas há que nascem em ambientes de extrema miséria e outros nascem na riqueza, com oportunidades a mancheias. Não obstante àqueles que se esforçam para o sucesso, outros existem que nada conseguem em idêntica situação. Nem se conte, aqueloutros, os afortunados, que parece que a vida lhes sorri, e, como na historiografia do Rei Midas, tudo em que tocam vira ouro. Nesse sentido, sem contradita, uma das grandes questões existenciais, sempre foi o desejo dos viandantes, compreenderem o porquê do sofrimento, máxime sob a égide de que Deus é justo, é bom, e misericordioso, então, qual a razão das diferenças tão marcantes.
Vênia concessa, sob o ponto de vista subjetivo, afirma-se que incontáveis criaturas desconhecem as causas dessas disparidades, ou perderam o endereço da Inteligência Suprema, Causa Primeira de Todas as Coisas, senão, sob outra dicção, pela falta de compreensão da Divindade, onipotente, onisciente, onipresente, que muito filhos se desalinham e se revoltam com as ocorrências desditosas das provas; entram em depressão e vivem sob o império do medo, com sentimentos negativos de todo jaez.
Com essa retórica, as palavras do homem de Nazaré esclarecem serem Bem-Aventurados os aflitos, porque serão consolados, indicando o Divino Jardineiro, a compensação que espera àqueles que sofrem com resignação, sabendo-se que essa virtude abençoa o sofrimento como prelúdio da cura no relógio do tempo. É assim, que no caso em apreço, as dores do mundo em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, as misérias humanas são efeitos que devem ter uma causa e, sendo inegável que Deus é justo, a causa é sempre justa. Óbvio que a causa antecedendo o efeito, se a dor não tiver sua gênese na vida atual, é incontestável que o sofrimento tem sua causa no pródromo da caminhada de aprendizado, ou sua origem está numa existência anterior.
Para sedimentar o discurso em apreço, ainda que sob a ótica e a verve do articulista, coloca-se à mercê de fatos transatos, no relato colhido na Redação do Momento Espírita, com base no artigo “Desencarnação de um ente querido”, de José Couto Ferraz, da Revista Presença Espírita nº 317, de novembro/dezembro 2016, revelando em síntese apertada que:
A atriz Helen Hayes inconformada com a morte de sua filha, de apenas dezenove anos de idade, levada por um ataque de poliomielite se questionava o porquê de tanta desdita? Revoltado seu espirito gritava inconformado, sustentando de si, para consigo mesma. Minha filha era jovem e inocente, por que razão ser levada na flor da idade, às vésperas de sua estreia na carreira teatral, em nova Iorque? Oh! Meu Deus. Que desventura.
Inconformada com esse designo, envolta em profundo luto, abandonou a carreira artística, porquanto julgava-se incapaz de representar a beleza da vida nos palcos, uma vez que estava morta por dentro. Passou a recusar os compromissos sociais, vivendo uma vida no ostracismo, sem sentido e sem propósito. Nesse solilóquio, tentou encontrar Deus, na literatura. Instruiu-se sobre as preciosas lições de São Tomás de Aquino. Não olvidou de estudar a vida e a obra de Mohandas Karamchand Gandhi.
O arauto do bem que seguiu as pegadas de Jesus, praticando a não violência, e sob a bandeira desse propósito, libertou sua pátria, a Índia do julgo dos ingleses sem derramar uma gota de sangue de sua parte. A personagem em causa, também se inteirou sobre o livro sagrado conhecido como a Bíblia. Mas, apesar desse esforço, nada parecia fazer sentido para aplacar sua imensa dor que continuava sem lenitivo. A realidade é que sua filha estava morta, razão porque seu olhar somente via sombras obnubiladas no seu trajeto.
No outro lado, ainda que esses sentimentos de revolta fizessem morada em seu coração, a verdade é que apesar dos viandantes desprovidos momentaneamente do endereço da Divindade, o Senhor da vida tem formas eficientes para esclarecer seus filhos da Sua existência e oferecer-lhes seus préstimos. Foi nesse sentido que um tal Isaac Frantz começou a telefonar para Helen, diariamente, sem sucesso. Diante da insistência das chamadas ela concordou em recebê-lo.
Ao chegar a visita com sua esposa, no início do diálogo a atriz logo percebeu o motivo dos visitantes; a espontaneidade com que os visitantes falavam do seu filho desencarnado há pouco tempo, vítima de paralisia infantil. Foi nesse instante que Helen inesperadamente percebeu que ela mesma estava mencionando o nome de sua filha, até então guardado no sepulcro de seu coração, aprisionado desde a sua morte, e ao reviver esses momentos, deu-se conta da catarse que realizara, porque isso aliviara o seu coração, trazendo alento e esperança para o porvir.
Nessa estase, o que mais a impressionou foi ouvir uma voz ao longe, trazendo à realidade, ao escutar os visitantes lhes descreverem que tinham a intenção de adotar um órfão de Israel e a senhora Frantz dizendo-lhe, delicadamente; a senhora deve estar pensando que esse órfão irá tomar o lugar do meu filho. Meu Deus, não. Isso jamais poderá acontecer. Entretanto, ainda há amor no meu coração e não desejo que esse sentimento se perca por falta de uso. Não posso me permitir morrer, emocionalmente, porque meu filho morreu biologicamente.
Não devo amar menos por ter desaparecido fisicamente o afeto do coração. Devo amar ainda mais, porque o meu coração conhece o sofrimento dos que perderam o seu ente querido. Concluída a visita, Helen compreendeu porque não encontrara Deus em sua sofreguidão nas páginas dos livros e concluiu que o Pai Celestial é o Deus-amor que reside nos corações humano e que a ninguém privilegia, sejam filhos famosos ou ignotos, todos são iguais, perante o Seu amor e a Sua justiça.
Nesse sentir, é evidente que nas horas amargas, o instrumento da resignação será a dinâmica e da busca de Deus que poderá aplacar a dor e estabelecer novas diretrizes para a continuidade da vida, bela, colorida e consentida, máxime porque a aurora é extraordinária, explode em cores e tonalidades mil a cada dia, a cada hora, convidando os candidatos a felicidade a amar e não se permitirem que esse sentimento de amor se perca nos refolhos d’alma.
Com essas emoções d’alma, segue o ósculo depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando tenham os amigos de todo o sempre, um ótimo final de semana em nome do Divino Pastor.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli