Nas memoráveis lições exaradas pelo Messias, há a recomendação para não se julgar. É o que anota a boa nova, segundo Mateus, VII: 1-2, ipsis verbis no texto evangélico: “Não julgueis para não serdes julgados. Aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”. Decorridos mais de dois milênios da passagem física do rabi da galileia por esse orbe, lamentavelmente, os viajores ainda se apressam em julgar os acontecimentos, os fatos, as atitudes e as decisões dos que caminham pela estrada das provas e expiações, para se alcançar a elevação espiritual sob os cânones do progresso.
Incontáveis viandantes em provas e expiações, costumeiramente apontam o dedo em riste para acusar a outrem, quando não dizem em alto e bom som: oh! Deus me livre, não é meu desejo julgar. Todavia, esse acontecimento merece a reprimenda da sociedade, dos poderes constituídos, quando não se aponta os desalinhos entre as pessoas onde se moureja, se não em casa, nos ambientes de trabalho, de passeio ou nas ocorrências da existência, sempre trazendo nos lábios e pensamentos as críticas acerbas para anotar os defeitos de outrem.
Nesse caso, é evidente que se faz letra morta da advertência de Jesus, porque Ele mesmo apesar do seu espírito Crístico e de ser o ser o maior que veio à Terra sob o pálio da questão 625 de “O Livro dos Espíritos”, portanto em condições de exercer qualquer espécie de julgamento, foi inciso e absolutamente não concordou em desempenhar o papel de juiz quando exarou o seu sentimento a respeito do assunto, dizendo em resposta ao questionamento dantanho: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança”. Jesus respondeu-lhe: “ Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós? ”.
Não há dúvida, apontar os desacertos, desalinhos, más escolhas e opções pela porta larga da facilidade e dos erros dos irmãos de caminhada é sempre fácil. Muito mais fácil e mais cômodo é o “roto falar do rasgado”, fazendo vista grossa às próprias imperfeições, ou sob outra dicção, às próprias desventuras, aquelas que resultam prejuízos para a elevação do espírito em provas; desajustes esses que prejudicam e faz sofrer o espírito, colocando-o em situação de descompasso perante as leis espirituais e longe da bem-aventurança.
Que pena esse proceder, porque se não bastasse a demonstração da inferioridade dos candidatos à felicidade, em busca da elevação da criatura, esses mesmos viandantes estão prontos a julgar aquele que de uma maneira ou de outra, comete erros, ferramenta educativa para o aprendizado da existência.
Os que acusam ou têm a palavra amarga, julgam-se sempre certos e “imbatíveis” em seus pontos de vistas, e, dificilmente, muito dificilmente entregam a mão à palmatória, porque julgam-se estarem sempre certos e os adversos sempre errados. Nesse sentir, fazem letra morta a lição do Divino Jardineiro, “Não julgueis, a fim de que não sejais julgados, contida em Mateus – Cap. VII; 1 e 2.
Oh! Meu Deus! Quanta insensatez. Olha-se para as pessoas, e, na tela mental no mesmo instante apontam os erros, os defeitos, fulminando-os pelos olhares acusadores, que os radiografam e julgam instantaneamente como juízes de plantão, cargo que Jesus de Nazaré repeliu com energia; todavia, o mau vezo dos julgadores dos atos dos outros, como se fossem as criaturas mais perfeitas da Terra estão a postos para o decreto de desamor.
Sem contradita, o caminho em busca da perfeição como convidou o Divino Rabi da galileia as criaturas, exige uma nova postura, um trabalho de renovação interior, reflexão sobre ensinamentos e situações morais, principalmente de conscientização dos erros, das imperfeições de qualquer jaez; sem esses exercícios a demora espiritual continuará, sempre em prejuízo do candidato aos páramos celestiais. O filósofo dantanho foi incisivo: Conhece-te a ti mesmo, afirmou Sócrates. Não é lícito se imaginar ser a melhor criatura do mundo, e por conta desse conceito equivocado, olvidar do argueiro no olho.
Ao dar público conhecimento dos erros dos outros, o mensageiro se torna maledicente e como sempre não se pode esquecer do amigo Jesus, alertando que sempre será usado da mesma medida com que se mede a outrem. A maledicência é uma imperfeição da alma. Quem a pratica é maldoso. Não é boa conduta esmiuçar a vida daqueles companheiros de viajem, sujeitos as mesmas tempestades, abrolhos e acúleos do caminho.
O grau de adiantamento em que as criaturas se encontre, determina o modo de agir, e não raras vezes, os mais adiantados na escola da vida lamentam-se não têm a exata compreensão dos erros e das necessidades dos irmãos em desalinho; por essa razão, a prudência recomenda agir com caridade e deixar que o necessitado, através do seu amadurecimento espiritual, enxergue o adequado comportamento, corrigindo-o pelos resultados obtidos sob o fluxo da lei divina de causa efeito.
Evidente que essa reflexão não significa apologia, cumplicidade ou conivência com os erros, oh! Meu Deus, isso não. O mal deve ser combatido em todo tempo, modo e lugar, mas o que se propõe é não evidenciar a inferioridade transitória dos outros, porque a lição relembra aos cobradores que aquele que não tiver nenhum pecado que atire a primeira pedra. De fato, aquele que erra, pelos resultados colhidos, mais tarde terá que refletir, tomar nova postura, e, humildemente, corrigir os erros praticados.
Arvorar-se ou elevar-se a julgar é um ato de maldade, mas não será reprochável afirmar que quase todos os dias, inadvertidamente se comete esse deslize e se cai nessa esparrela, porque é natural a inferioridade para aqueles que estão em desenvolvimento espiritual; nada obstante, a postura a ser adotada não é de desânimo, mas de luta, luta a propósito como recomendou Paulo o apostolo, lutar o bom combate contra as tendências inferiores.
Será de bom alvitre para saber se uma pessoa está subindo os degraus da bondade, procurar se inteirar de sua capacidade de perdoar, máxime porque a colheita será inevitável. O rol também da mudança interior pode ser acrescido da atitude gentil, amorosa, no falar de forma a dulcificar as expressões utilizadas, porque a boa palavra edifica e falar o que é alvissareiro evita a impaciência, e as agressões verbais; não censurar e ter cuidado com as respostas é uma boa medida. Vale recordar que o se fizer aos outros, será usado de medida ao agente na avaliação da espiritualidade, pela anotação constante no livro da vida. “Perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”
É inegável ser mais fácil condenar do que ser solícito, a indulgência é o que mais precisamos, é uma necessidade, condenemos o mal, vivemos juntos daqueles que erram e erram, como nós. Mais cedo ou mais tarde precisaremos do perdão e da compreensão, porque a reprovação pode cair sobre nós. Quando censuramos desacreditamos a pessoa, fazemos o mal e não reprimimos o mal como seria certo e justo. Jesus legou inúmeros exemplos de compreensão e perdão. A passagem da mulher adúltera diz: “Quando os fariseus e escribas acusaram a mulher adúltera, exigindo seu apedrejamento, o Mestre disse: “Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra”.
A retórica permite, sob o manto do relato contido na Redação do Momento Espírita de 28.3.2016, diante das armadilhas que os viajantes do planeta Terra, descuidado da proposta de elevação espiritual, se permitem fazer julgamentos precipitados dos irmãos de caminhadas, companheiros que buscam os mesmos objetivos para se chegar aos esplendores celestes.
Com essas considerações, sob a emoção e a verve do articulista, conta-se que o final do ano permite a realização de reuniões para comemorar o Natal e celebrar a amizade. A troca de presentes na brincadeira conhecida como amigo secreto é uma dessas. Naquele escritório, o grupo de trabalho se reuniu.
Cada um levou um presente para oferecer. Os pacotes foram colocados numa mesa e cada participante sorteou um número para si. Carla viu uma pequena sacola de uma chocolataria famosa e muito cara. Seus olhos brilharam. Não tinha possibilidade de comprar aqueles chocolates tão finos e desejou, ardentemente, ser a felizarda que os ganharia.
Os cúmplices da brincadeira, para tornar o enigma diferente, estabeleceram que o número sorteado deveria ir até a mesa e escolher um pacote. No entanto, se alguém desejasse, na sua vez de escolher, optasse por outro que já havia sido escolhido, poderia reivindicá-lo. Carla não tirava os olhos da sacolinha vermelha e sonhava com o sabor daquele chocolate. Era muito caro para seu orçamento tão apertado.
Para sua alegria, ninguém escolhia os doces. As pessoas preferiam as sacolas grandes, mais vistosas. Quando chegou sua vez, mal podia acreditar: finalmente, poderia saborear o chocolate tão sonhado! No entanto, um par de olhos a observava há um bom tempo. A gerente percebera a atenção de Carla para a sacola. Foi a última a ser sorteada, e não quis pegar o presente disponível. Deu um giro pela sala, gracejando dos colegas que tentavam esconder seus presentes e, finalmente, encaminhou-se para Carla, pedindo os chocolates.
Alguns colegas riram. Outros suspiraram aliviados. Os que conheciam Carla e sabiam de suas dificuldades, haviam presenciado sua alegria ao pegar a sacola e ficaram perplexos. A gerente nem gostava de chocolate e, mesmo que gostasse, tinha condições de adquirir. Por que fazia aquilo? Carla ficou triste, mas sabia que a brincadeira era daquela forma.
Entregou a sacola e pegou o presente que sobrara sobre a mesa. Era um jogo de canecas para café. A gerente se foi, sem olhar para trás. Ninguém tivera coragem de falar abertamente o que pensava. Afinal, era a chefe! Depois que ela foi embora, no entanto, começou o falatório. Alguns se revoltaram. Aquela brincadeira desvirtuava o espírito natalino, fomentava o egoísmo e estimulava a cobiça. Outros defendiam que era apenas uma brincadeira e acusavam as pessoas de não saberem brincar.
Houve quem retrucasse que é nas brincadeiras que se revela a verdadeira essência. A discussão ia longe, com muitos ataques e poucas defesas. Carla, inicialmente, não quis entrar na discussão. Mas acabou por se considerar vítima e foi embora chateada.
Na segunda-feira, ao chegar ao trabalho, encontrou sobre sua mesa uma grande sacola vermelha, repleta com os mais finos chocolates. Junto, havia um cartão: Você merecia mais do que aquela sacolinha. Feliz Natal.
Moral da história. A mulher que todos haviam julgado implacavelmente, apenas desejava fazer um agrado para Carla, e sem perceber, com seu gesto acabara ensinando uma valiosa lição sobre a inconveniência de julgamentos apressados.
Assim sob o fluxo desse ideário, segue votos de uma semana de muita paz, depositando um beijo em seus corações em nome do Divino Jardineiro.
Do amigo fraterno de sempre.