Uma das questões que assombram a consciência dos que têm sede de conhecimento é saber se a predestinação existe, ou em outras palavras, se existem seres predestinados ou se estão todos os viandantes sujeitos aos acontecimentos da vida, as chamadas fatalidades, as desditas acontecendo por obra do “acaso”, e por conta dessas fatalidades, todos os acontecimentos no trânsito da existência de provas e expiações, por esse planeta podem ser atribuídos à predestinação. Aqueles que professam essa ignota teoria, surreal, não encontram explicações plausíveis para a realidade da existência.
Nesse caso, haveria que se conceber que qualquer fatalidade ou as questões denominadas de infelicidade, como por exemplo, a partida de um ser querido, o fogão sem lume, a idiotia, a síndrome de down, a esquizofrenia, a riqueza material ou desenvolvida pela inteligência das admiráveis propostas dos gênios da humanidade como Albert Einstein, responsável pela teoria da relatividade e Isaac Newton, com a famosa terceira lei da física, a lei de ação e reação, explicando que toda força aplicada de um objeto para outro objeto, existirá outra força de mesmo módulo, mesma direção e sentido oposto.
Com todas as vênias dos que professam entendimento contrário a essa realidade, pesa a logística de que não existe o “acaso”, mas tudo acontece por uma causa atendendo os cânones da lei de causa e efeito, lei da Consciência Cósmica, onde todos são responsáveis por seus atos no palco da vida, motivo pelo qual são criaturas personalíssimas que escolhem o caminho, a direção e os projetos a serem edificados, aproveitando a viagem de provas e expiações para resgatar também, pelo instrumento do amor, o passado delituoso.
Sem contradita, a verdade é que a predestinação seria destinar e antecipar qualquer acontecimento ou escolha dos destinos das criaturas, caso em que o Criador passaria a ter preferência por esse ou aquele e sua justiça não teria sentido, e nem mesmo se poderia conceber a sua onipotência, onisciência e onipresença. Nesse caso, onde estaria a sua justiça, quando se vê tantas desigualdades nas pessoas e nos acontecimentos do dia a dia e hora a hora, e onde ficariam nesses conceitos as informações dos venerandos arautos do bem, informando na boa nova que o Senhor da Vida criou todos seus filhos simples e ignorantes, à luz das questões 115, 133 e 804 de “O Livro dos Espíritos”, cumprindo-se destarte a promessa de Jesus?
Oh! Meu Deus. Seria o caos total se os acontecimentos nefastos da vida estivessem predestinados, e por conta disso, as criaturas tivessem que enfrentar todos os acúleos, os abrolhos, pedras do caminho, doenças e deformidades do trajeto, momentos de dor sem causa que justificasse, em razão do “acaso” e não por uma causa com origem em seu livre arbítrio, como aceitar, como se conformar com tais desgraças e injustiças?
É sem dúvida na Lei Divina de causa e efeito que se encontra o lenitivo para as dores das criaturas em trânsito pelo mundo de provas e expiações, pois na lei da natureza se pode, resgatar as circunstâncias dantanho quando cobram as dívidas transatas e os comprometimentos do passado delituoso, feito por escolhas infelizes e por consequência equilibrarem o Universo da Potestade, razão para parafrasear as palavras do Cristo de Deus, que “não cai uma folha da árvore se não for pela vontade do Pai.”
Nesse sentido, com as vênias devidas, a resposta as indagações lançadas no frontispício dessa retórica, sem dúvida é negativa. Não existe a predestinação. Bem por isso, sob a luz dos pensamentos exarados pelo erudito escritor Antoine Jean-Baptiste Marie Roger Foscolombe, o Conde de Saint-Exupéry, disse textualmente que: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. ”.
Com esse sentimento d’alma, a verdade é que os filhos de Deus, ainda que comprometidos com o passado delituoso, na Lei Divina podem sempre utilizar do instrumento do perdão e se libertarem das algemas que os prendem aos atos inditosos do pretérito comprometedor, pela virtude do perdão, sempre bom para aquele que o concede porque liberta-se da canga pesada que carrega, enquanto que o agressor resgatará pela lei divina em tempo oportuno a compensação destinada a equilibrar o Universo de Deus.
Esse o espeque da convicção de que nenhum dos filhos de Deus está predestinado a suportar sem causa as dores excruciantes ou obedecer a um programa de vida como se fosse uma máquina ou um computador, deixando ao niilismo o livre arbítrio. A realidade é que o ser humano, tem o livre arbítrio para decidir o rumo de sua vida e, uma vez elegendo o percurso de suas ações, para realizar os projetos que seus desejos anseiam no tempo, no modo e no lugar realizar esses sonhos, e a consequência será no dizer do conde Exupéry, o responsável pelo que cativou, sentimento esse que se arrima na lirial metáfora atribuída a doutrina do Cristo de Deus de que plantar não é obrigatório mas a colheita será a obra de cada um, expressando a lei de ação e reação, referida no antigo e no novo testamento, mas, ainda assim, bem se aplica ao caso.
A Providência Divina, oferece sempre a oportunidade rediviva de escolha do caminho a seguir. Se, pela porta larga, cria-se ocasião de furtar, roubar, matar, violar os direitos do próximo, enfim escolher os caminhos que causarão acúleos e dores das mais pungentes. Se a opção for a direção da porta estreita, certamente dará azo para realizar as reformas interiores que possibilitem o abandono do tabagismo, do álcool, dos maus procedimentos, falar mal do vizinho, do governo, dos amigos de trabalho e abandonar a infidelidade de qualquer natureza.
Iniciar-se de imediato na prática do perdão das ofensas, ser manso e pacífico, atentos as puras lições do Sermão do Monte, nas bem-aventuranças, como ensinou o Homem de Nazaré, exercitar a caridade em toda a sua contextura, são virtudes que aproximam os filhos em desalinho ao Pai Misericordioso.
O ser humano é, sem contradita, a soma das decisões tomadas no pretérito e a predestinação, chamada de destino em nada, absolutamente, em nada influencia o resultado das escolhas. Em verdade, se escolhe até para se reencarnar, com honrosas exceções das reencarnações compulsórias, são as criaturas quem escolhem os pais, o lugar e as provas que desejam realizar para lograr êxito em haurir a possibilidade de vida que melhor se ajuste ao seu progresso.
Por isso é tão importante o autoconhecimento, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. As escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o se é, reavaliar decisões e trocar de caminho se necessário, pois ninguém será o mesmo para sempre. É a reforma íntima quem convida a mudança de comportamento. A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha o bom senso da responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
Anote-se com ênfase, a escolha será sempre opção e jamais de uma predestinação. É o exercício do livre arbítrio em ação, segundo o grau de evolução do espírito, realizando os desejos inscritos nos recônditos do ser imortal e não uma programação previamente estabelecida. Imagine ... Se fosse facultado prever o futuro, é verdade que se evitaria erros, mas, não há ilusão, a vida perderia sua graça, pois é justamente na imponderabilidade da existência que reside o verdadeiro aprendizado e a emoção da vida. Se ao nascer se soubesse exatamente tudo o que iria acontecer, ficar-se-iam sentados, para “ver a banda passar”, sem sentido prático para as lições do Divino Jardineiro.
Se existissem predestinados, na expressão pura da palavra, manter-se-ia distância de certas figuras soturnas que cruzaram os caminhos dos aprendizes à felicidade, e com isso perder-se-ia a oportunidade de crescimento, pois é na dificuldade que se alavanca para o progresso. Sob outra dicção, é exatamente no empeço que a vida oferece que nascem às oportunidades de avaliação dos erros e desacertos.
Em outras palavras, é a oportunidade que se tem para exercer e treinar o discernimento, a capacidade de análise dos erros cometidos, para constituir a base de dados, aprendendo a evitá-los no futuro. Que não se engane a vã filosofia, não há aqui nenhuma apologia para o erro, simplesmente é a aceitação dos enganos cometidos, abrigando a sua existência como elemento pedagógico da vida para o progresso dos filhos de Deus em direção aos altiplanos celestiais. São lições que a vida oferece, esclarecendo o discernimento para se aproveitar as experiências, método dos eternos testes de valoração aos filhos da Providência Divina destinados ao progresso. Com essas considerações, reflitamos sobre as bênçãos da Divindade ao afastar das provas e expiações a predestinação, contudo concedendo o exercício do livre arbítrio, meio de escolha própria para traçar a estrada do progresso em direção aos páramos celestiais.
Ponto finalizando, recebam os amigos fraternos, nosso ósculo depositado em seus corações, em nome da oblata da fraternidade, com votos de um ótimo final de semana em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.