O mês de outubro é data marcante para os profitentes da doutrina espírita, porque, sabem os estudiosos que a promessa do Cristo de Deus de que não deixaria seus irmãos menores órfãos e que rogaria ao Pai Celestial que enviasse outro consolador para amparar seus irmãos menores, na travessia do mar bravio das provas e expiações, se cumpriu no dia 18.04.1857.
Foi nessa data que na livraria do sr. Dantu, no Palais Royal, na Galeria DOrleans, foi exposto ao mundo a primeira edição de O livro dos Espíritos, com a segunda edição em 1860, formato que permanece até os dias atuais, os ditados dos venerandos espíritos, escritos pelo ínclito codificador, fornecendo autêntico entendimento ao espírita sobre a importância da excelência do trabalho de Allan Kardec, suas notas e da missão do Espiritismo no mundo.
Cabe anotar, como relata a história, que o emérito professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, cognominado de Allan Kardec, diante do mergulho desse espírito, naquela ensancha, na vestimenta do corpo físico, como um sacerdote druida, na Gália, hoje, França, recebeu essa homenagem que lhe prestou o educador ao druida dantanho encarnado sob esse nome, e, pelos seus méritos de incomum bom senso e reto proceder, veio a ser o encarregado da nobre missão e promessa do Cristo de Deus.
Desta feita ele, nasceu em Lyon na França, em 3 de outubro de 1804, recebendo o nome de batismo de Hippolyte Léon Denizard Rivail e iniciou seus estudos na escola de Pestalozzi, onde recebeu esmerada educação transmitida pelo pedagogo em exame, o que imprimiu marcas profundas em sua vida sobre a ética, a moral e o valor da educação no aprendizado e na formação do caráter das criaturas.
Convencido pelas lições recebidas, tornou-se educador e entusiasta do ensino, vindo a ser convidado por Pestalozzi para assumir a direção da escola, e, na sua ausência, durante 30 anos, décadas que vão de 1824 até 1854, dedicou-se inteiramente ao ensino, colaborando com a educação e entre essas tarefas, escreveu várias obras didáticas, que em muito auxiliaram o progresso de educação, naqueles tempos e com a sua pátria, advindo seus alfarrábios, oportunamente a serem adotados pelo Ministério da Educação e cultura de sua pátria.
Aconteceu que em 1855, o prof. Rivail se deparou pela primeira vez com o fenômeno das mesas que giravam, saltavam e corriam, em condições tais que não deixavam lugar para qualquer dúvida, sobre a existência desses fenômenos em voga na ocasião, além dos motivos incontáveis de especulações sobre o assunto em comento.
Espírito destemido e interessado na fenomenologia, dedicou-se a examinar estas ocorrências, pesquisando com zelo incomparável os acontecimentos, e, graças ao seu caráter investigativo e a sua tenacidade, sem preconceito dedicou-se intensamente em entender as causas das ocorrências até então não explicadas.
Como mestre escola, tinha intimidade com a ciência da observação e aplicou esse princípio aos curiosos fenômenos para estabelecer seus efeitos, consciente de que dos efeitos, remonta-se as causas para reconhecer-se a autenticidade dos fatos. Destarte, diante da comprovação que convencia à saciedade, persuadiu-se também da existência dos espíritos e de sua comunicação com os homens, fato que lhe ocasionou enorme transformação em sua vida, convicto de sua condição de espírito encarnado.
Denominado “o bom senso encarnado” pelo célebre astrônomo Camille Flammarion, O mestre Lionês, desencarnou com 65 anos, em 31 de março de 1869, presentemente, celebrando 213 anos do seu nascimento. Nesse arrazoado, sem contradita, “O Evangelho Segundo O Espiritismo” é a obra da codificação espírita que contém a “explicação das máximas morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida”.
É esse Codex que oferece, em seu conjunto, os princípios que norteiam a justiça, a bondade e a misericórdia divina através da fé raciocinada, da reencarnação, dos fatos da vida presente em relação ao passado e ao futuro da Humanidade. Com lastro nesses princípios, bem se vê que há neles, muito mais do que imagina a rasa filosofia, pois é para além, muito além dos fenômenos que agradam os curiosos, que obviamente seus efeitos obedecem a três comandos de reflexão, ou em outras palavras têm três efeitos práticos.
O primeiro efeito é o de que até mesmo aqueles que, sem serem materialistas, mostrem-se indiferentes às coisas espirituais, ainda que para esses irmãos ditos agnósticos, resulte uma indignação pela morte, certamente esse não é o seu desejo, e, contrário senso, o espírita defenderá sempre a vida como Deus concedeu.
Anote-se, entretanto, que nos agnósticos há uma indiferença que lhe fará aceitar a morte sem queixas, sem pesar, como consequência natural e inevitável, porquanto trata-se de um acontecimento antes feliz do que temível, em virtude da certeza do estado que lhe sobrevirá, a vida além da vida.
Em segundo lugar, é a resignação que se impõe por força da natureza das coisas, em face das vicissitudes da vida. O espiritismo faz os profitentes verem os acontecimentos de tão elevado conceito que a vida terrena diminui a sua importância, ainda que mantenha o seu propósito nobre e educativo, permanece o fato de que a criatura em provas e expiações, não mais se perturbam tanto com as atribulações do caminho.
Sob a luz dessa cognição, adquire-se mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos, induzindo também o afastamento do tresloucado anseio de abreviar a vida, porque a ciência espirita ensina que, pelo suicídio, perde-se sempre o que se pretendia ganhar. É a certeza de um futuro personalíssimo que depende de cada criatura escolher para se tornar feliz; nesse gesto, reside a possibilidade de estabelecer relações com os seres queridos que já partiram, proporcionando aos espíritas uma suprema consolação, que amplia o seu horizonte até o infinito, pela visão continua da vida do além do sepulcro, e na qual se pode sondar as misteriosas profundidades transcendentais.
O terceiro comando ou motivo, é a causa da filosofia espírita, despertar a indulgência para com os defeitos alheios, impondo-se a necessidade de dizer que é no princípio do egoísmo e tudo o que dele decorre o que mais perturba o homem, e por consequência é o vício mais difícil de se desenraizar, já que é notório se fazer sacrifícios voluntários, contanto que nada custe e de nada privem o benfeitor.
O dinheiro também exerce sobre incontáveis criaturas, uma atração irresistível, induzindo muitos a perderem o sentido da palavra supérfluo, máxime quando se trata de confrontar as próprias necessidades: o mundo de valor é individual, onde viceja a regra do “venha a nós o vosso reino e para o outro nada”.
Nesse sentido, a abnegação de si mesmo, é sempre regra de boa conduta, que perfuma o espírito com a essência do amor e se constitui em efetivo sinal de progresso, por tratar-se de uma vitória personalíssima, simbolizando a reforma íntima da criatura para chancelar o passaporte para os esplendores celestes.
Em síntese apertada, em nome da doutrina que os espíritas abraçam com sentida emoção, diga-se que chegado os tempos do cumprimento da promessa do messias, pairava na psicosfera cultural do mundo e em especial na França, um “feeling” respeitável que fazia pressentir a ocorrência de algo incomum que estava por acontecer, e que iria alterar por definitivo a conduta religiosa que se debatia nos estertores da obstinação medieval, diante dos prenúncios da chegada do Espiritismo em nome da nova era.
Era, portanto, chegado o momento da razão se libertar dos grilhões da severa vigilância existente na literatura, impostas às publicações transatas, que permitiam somente aquilo que estivesse sob os ditames da revisão religiosa autorizada pelo Imprimatur da Igreja, a mesma igreja que perdia força e poder; foi o momento do panfletismo e as impressões desautorizadas agitavam as mentes e os corações que aspiravam pela liberdade, abrindo os horizontes da fé para as novas conceituações da vida.
Diante dessa nova realidade, vem a lume O Livro dos Espíritos, publicado pela coragem moral e cultural de Allan Kardec, graças ao compromisso estabelecido com o Sr. Dentu e mantido pela sua viúva Sra. Mèlanie, que lhe honrou a memória, ensejando a revisão e reestudo da doutrina de Jesus sob a óptica da Razão e da Ciência.
Sob essa bandeira, consolidou-se a indestrutibilidade do Espírito, a sua comunicabilidade com os seres humanos, a reencarnação, e apresentava a ética moral que se alastrava do Seu Evangelho e que até então se estava mergulhada nas profundezas abissais da ignorância e dos interesses subalternos, mas, agora enfrentava as novas incursões filosóficas na interpretação dos textos de Jesus e dos Seus discípulos.
Com esses pensamentos, depositamos o ósculo da fraternidade nos corações dos amigos, com a oblata da amizade sincera em nome de Jesus de Nazaré, com votos de um final de semana feliz.
Do amigo fraterno de sempre.