A vida na concepção de Carlos Drummond de Andrade, é sem dúvida uma sucessão de acontecimentos, sentido que deu alma, entre incontáveis poemas de sua lavra, a poesia da “pedra no meio do caminho”, exortando os estudiosos da vida a nunca se esquecerem dos acontecimentos transatos, exibidos como um filme pelas retinias cansadas e fatigadas que a todas as ocorrências assistiram com destemor pela vida bela, colorida e consentida, levando o poeta a externar que:
“Não basta o que a vida ensina ... O fundamental consiste em que cada um aprenda como as coisas são. Nesse aprendizado, sucessão de atos de coragem e dureza, principalmente coragem de fechar as portas ao erro, ... encontra-se a justificativa mais ilustre da existência humana”.
Sob a bandeira dessa consideração, é inegável que é preciso renovar, hoje, agora e sempre, porque se a primavera é uma explosão de flores e perfumes, a estação outonal é a dos coloridos mais exuberantes. A impressão que se tem é de que algumas árvores disputam entre si qual se vestirá com a cor mais exótica. Olhando-se para a renovação das flores e das folhas será difícil afirmar qual é cor verdadeira, já que seus tons se mostram variados entre o laranja, amarelo e vermelho. De fato, algumas apresentam uma mistura de cobre e cinza, levando o admirador ao êxtase ao contemplá-las.
E, assim ficarão trocando os tons, surpreendendo a vida a cada dia, durante os meses em que se preparam para vestirem a indumentária do inverno. Outras simplesmente vão, suavemente se deitando no chão, uma a uma, como num desfalecimento constante, despindo os galhos e formando arabescos e tapetes pelas calçadas, praças e ruas. No caso em exame, a metáfora merece consideração, porque em cada existência dos filhos da Consciência Cósmica, nas estações dos tempos, também se apresentam para se exibirem no palco da vida.
Não se sabe ao certo, qual é o gatilho que dispara nos viajantes, mas é certo que é no outono da idade que incontáveis viandantes optam, lamentavelmente, por desistirem do grande e maravilhoso espetáculo oferecido pela natureza, para apreciar a beleza que Deus colocou na Sua obra, para enfeitar as provas e expiações de seus filhos, amenizando os acúleos e colorindo a estrada da vida, mas o certo é que os que se deixam conduzirem por esses desalinhos, olham o rosto com as linhas modeladas pelo tempo e imaginam estarem no fim da jornada pelo decréscimo do tônus vital.
Nesse descompasso com a realidade, não consideram os frutos das experiências adquiridas ao longo do tempo das provas e os propósitos da Divindade, máxime os ensinamentos contidos no esclarecedor livro da lavra de Leon Denis, “O problema do ser do destino e da dor”. Por isso, em razão desse insólito pensamento, julgam já ter passado o entusiasmo e a alegria de viver, considerando que os sonhos teriam ficados na ribalta para todo o sempre, quando não se chega ao tresloucado ato de interromper as provas e expiações.
Incontáveis vezes, alimentados por desilusão chega-se ao extremo pensarem, que o que resta nessa estação do ano, é somente aguardar a visita da “morte”, como um descanso para entregar o corpo nos braços de Morfeu o Deus do sono da mitologia grega, ou ainda sob a luz da filosofia Budista, entregar o espirito nas mãos da “nirvana”.
Há, contudo, uma vacina poderosa para imunizar esse estado d’alma em desarranjo. É se incentivar para aproveitar as horas de que se disponha, com leituras, estudos, ver o nascer e o pôr do sol, ouvir uma melodia, algo que ilustre o intelecto; trabalhar nas obras de filantropia, deitar o olhar no autografo de Deus depositado no altar da natureza e ver a beleza do arco-íris, tudo isso e muito mais, é medicamento poderoso para deixar-se na poeira do tempo os lapsos da memória, ou as dificuldades de armazenar as novas informações.
A caridade é instrumento de amor que elimina todos os maus pensamentos, seja através do atendimento ao próximo, seja colaborando nos asilos, nas creches, auxiliando nos serviços de benemerência, e, aqueles que tem recursos amoedados, entreguem o óbolo aos movimentos como os médicos sem fronteiras, pois tudo isso é contributo, tudo isso e muito mais, soma na saúde metal e, tudo, mais tudo mesmo, que se faz em nome do amor fraterno e dos ensinamentos do enviado do Pai Celestial, realizando para o próximo aquilo que gostaria de receber, elimina os espaços da desesperança, com a prática da caridade e do amor na excelência da palavra.
Nesse sentido, no declínio e no anoitecer das provas e das expiações, quando os cabelos ficam enluarados, em razão da grande viagem do aprendizado, quando se cumpre retamente as tarefas propostas para se alcançar os páramos celestiais, aprende-se com a natureza.
Sem contradita, é a obra de Deus, indicando o artista que elaborou a pintura do mais belo quadro da natureza, onde a primavera é a estação das flores, dos dias amenos, dos frutos em abundância a se esparramar pelos pomares.
No verão, as cores quentes se apresentam com toda força e os arbustos com sua perenidade se vestem de um verde mais intenso, e, nos canteiros, as flores se revezam em cores e perfumes. Obedecendo ao cronograma do artista, quando chega o inverno, ela se deixa despir pelos ventos gélidos, pelas chuvas insistentes, pela geada que se estende branca e fria.
Permite-se adormecer no sono dos justos, para descansar da grande viagem, consciente de que o retorno ao lar espiritual, é como se fosse uma reclusão, pois logo mais se despertará para a eternidade da vida que continua além da vida, abrindo os olhos, como a natureza gloriosa aos beijos da primavera que se permite reprisar em beleza e cores.
Por essa mesma razão, o outono são aqueles dias lentos, do sol que se apresenta morno e preguiçoso, das folhas que caem, ensinando as criaturas a viverem, assim considerando a infância como a primavera, tempo de aproveitar todos os folguedos, os dias de despreocupação e abastança de horas. Depois, na maturidade do verão, é exibir as realizações, distinguindo a viagem do viandante pelo planeta Terra, máxime porque no outono, virá a nova oportunidade de demonstrar todas as peculiaridades das conquistas no decorrer das primeiras estações.
Sob outra dicção, exibir essa habilidade como profissional, aquele que atravessou os anos, vencendo os abrolhos, as tempestades e os vendavais das provas, sempre se esmerando na qualificação, é sem dúvida alguma dizer; que o ser humano vivenciou dias conturbados, experimentou a alegria, a dor e a tristeza, presenciou o progresso chegar e se ajustou aos novos tempos, demonstrando sua qualidade de cumplice das coisas belas, que se debruça nas horas para contemplar os dias de luz.
Com essas reflexões, há um profundo sentimento d’alma para que todas as criaturas deem carta de alforria ao seu coração para que floresça em suas vidas, em cada dia novo a esperança e fé, como o sol que brilha as primeiras horas da manhã enquanto uma imensa plateia dorme, sem se aperceber dos quadros maravilhosos que são desenhados nos céus da esperança, pelo autor da vida, para que seus filhos se sintam bem-aventurados por saberem serem herdeiros do universo.
Ponto finalizando, segue o ósculo e a hóstia fraterna depositada em seus corações, em nome da fraternidade universal, união ao amor do Cristo de Deus, com votos de um fim de semana com muita paz em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.