Indiscutivelmente, sabe-se que a maioria das criaturas da Potestade, ainda que conheçam a realidade espiritual de que a vida continua além da vida, persiste em se auto permitirem o descontrole emocional como se tivesse foro de intimidade com a vesânia como norte de suas experiências para o seu progresso.
Irritam-se com os aflitos que batem à porta, seja no lar, seja no ambiente de trabalho ou por onde se moureja em busca do reto proceder; há sempre aqueles que insistem em solicitar algo no sinaleiro, na calçada, cruzando e atrapalhando a sofreguidão com que se movimentam as criaturas, muitas vezes em busca de nada menos do que o niilismo.
É comum julgar aqueles que pedem e estendem a mão aguardando as moedas, fazendo da esmola a fonte de sobrevivência. Aqueles que estão de posse de melhores condições, fazem análise rápida e chegam à conclusão para rotular os que estão na miséria como criaturas indesejáveis e ‘vagabundos’, e, assim atiram no fundo do poço do esquecimento a lição do Divino Pastor, estabelecendo que todas as vezes que acolherem a um desses sofredores é a Ele que se faz. Oh! Meu Deus, quão poucas vezes se reflete sobre esses ‘miseráveis’ na situação de mendicância. Por isso, Francisco Cândido Xavier, convidou a se meditar em que posição se gostaria de estar: ’daquele que pede ou daquele que pode dar’.
A verdade é que raríssimas vezes os bem aquinhoados se colocam no lugar dos aflitos para desenvolverem a compreensão e exercitar o amor fraterno com os companheiros de viagem desarrimados pelas dívidas contraídas no passado remoto, ora em resgate.
Medite-se que algumas dessas almas em sofrimento, ali estão porque se deixaram levar dantanho pelos desalinhos das leis divinas resgatando agora no jardim da vida, a perda da família, o emprego, as relações sociais, nada mais lhes restando senão estender as mãos em busca da indulgência e da compaixão do próximo.
Bem por isso, o ínclito codificador procura matar a sede sobre o tema sub óculis, quando pergunta aos espíritos benfeitores da humanidade na questão 888: Que se deve pensar da esmola? É assim que bebe na ninfa cristalina a resposta às suas sinceras preocupações com o tema em apreço. ’Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseia na lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa-vontade de alguns’.
Oh! Sim. Que juízo faremos dessa realidade, aqui e agora, uma vez que não há dúvida de quantos irmãos de caminhada de uma hora para outra, não viram como se fosse num passe de mágica, secar a fonte de seu sustento pela perda do emprego, atirando-os à margem da sociedade, sem recursos para manter-se e manutenir aos seus.
Sem dúvida, são esses que estendem as mãos pela estrada da vida e que ali estão vivenciando suas dores, não por acaso, mas por uma causa, nada justificando agravar seus acúleos, passando por eles endereçando as farpas da intolerância, com as críticas mordazes dos pensamentos.
O pensamento é a força vital da vida, para externar ainda que seja, pelo adágio de que ’eles não querem trabalhar, não tem força de vontade’ e outras escusas que se cunham para evitar de ajudar, sem se dar conta da recomendação do Cristo de Deus, para se fazer ao próximo tudo o que se gostaria que lhe fosse feito, deixando no seu rastro a pergunta que insiste em não calar: Onde reside a virtude da compaixão?
Com fulcro nessa realidade, reflexione-se nas causas aterradoras desse procedimento sem cristandade. A catástrofe ocorrida em 11.01.2011, 9 graus na escala Richter, considerada o pior terremoto já registrado no mundo, seguido de um devastador tsunami; o vazamento deletério de gases radioativos de usinas nucleares afetadas e os deslizamentos destruidores, ocorridos nas cidades serranas do Rio de Janeiro, para citar algumas das ‘fatalidades’ transatas, dão a dimensão das lições de vida de magna importância, para fazer brilhar a virtude da compaixão e da solidariedade.
A compaixão, quiçá seja entre as virtudes humanas, a mais humana delas, porque não somente abre ao próximo a expressão de amor dolorido, mas ao irmão vitimado e mortificado pelas experiências e resgates necessários para o caminho da paz, causando ao benfeitor a sensação do amor em plenitude pela possibilidade de praticar a caridade sem mostrar à mão esquerda o que a mão direita está realizando.
Anote-se, por importante para o tema em exame que no caso das catástrofes, pouco importa a ideologia, a religião, o status social e cultural das pessoas, porque é exatamente na compaixão que se anula as diferenças e proporciona ao viandante aplicar a virtude da indulgência, encontrando no outro a possibilidade de servir sem humilhar, sem ultrajar, compreendendo que é o outro o instrumento que possibilita a prática da generosidade sem interesse, mas por amor na excelência da palavra.
In-Veritas, frente à amarga prova do outro, não há como se limitar em vestir o traje samaritano da parábola bíblica. A virtude da compaixão implica em assumir a paixão do outro, se envolvendo nas difíceis provas daquele resgate, e, para isso é indispensável imaginar-se no lugar do próximo, pressentindo a dimensão e o motivo porque o Divino Jardineiro recomendou aos irmãos menores: fazer ao próximo tudo aquilo que se deseja para si.
Essa prática da caridade faz abranger o padecimento deles e o seu desespero, acompanhado de gritos lancinantes que lançam ao céu, ensejando o momento em que a compaixão incorpora as demais criaturas num só sentimento de dor sem que se desfaça a devastação e a dor que se tenha que enfrentar com resignação. Registre, por isso que a compaixão tem algo de singular: ela não exige nenhuma reflexão prévia, nem argumento que a fundamente, na medida em que ela simplesmente se impõe aos filhos do Eterno, que são por essência Divina, seres com-passivos.
Em nome da compaixão se vai ao encontro do outro para salvar-lhe a vida, levar-lhe a água, alimentos, agasalhos e especialmente o calor humano. Importante nesse discurso, anotar que se colhe sobre o tema da antropogênese que os seres humanos, superado a fase da busca individual dos meios de subsistência, procuram a coletividade, diante de sua natureza eminentemente gregária, razão porque se alcança a atividade e os sentimentos de cooperação entre todos, não se afastando da realidade do que se humanizou ontem, também se humanizará hoje e no amanhã.
É o que dispõe, sob outra dicção, as questões 767 e 768 de ‘O Livro dos Espíritos’, ipsis verbis. A vida de isolamento contraria as leis naturais? Por quê? R.: Sim. Sendo por excelência um ser gregário, um animal social, como há séculos já apregoava a filosofia aristotélica, o homem não pode viver isoladamente. A vida solitária por opção revela sempre uma fuga inconcebível, porque indica infração às leis divinas do trabalho e do amor. O insulamento é incompatível com o sentimento de fraternidade que deve existir nos corações humanos.
Frente a essa realidade, é comovedor ver incontáveis viajantes em trânsito pelo planeta Terra se mobilizarem, em todas as partes desse mundo de Deus, para ajudar as vítimas e dar-lhes o que precisam, sobretudo a esperança de que, apesar das catástrofes, vale a pena viver e participar dessa vida bela, colorida e consentida, com compaixão elevada a sua potência máxima. Ponto finalizando, segue o ósculo e a oblata da fraternidade com votos de um ótimo final de semana em nome do Divino Pastor.
Do Amigo de sempre,
Jaime Facioli