Quando o modelo da humanidade disse ’Esforça-te e tem bom ânimo’ e ‘Eu venci o mundo’, não restou dúvida de que todas as adversidades, as más tendências e os procedimentos inditosos que as criaturas em evolução, carregam no arsenal de aprendizado, repositório das leis do Eterno, suportando os acúleos produzidos pela mágoa, a raiva, o ódio e toda sorte de desaire feita pela escolha do mau caminho, essas dolorosas experiências têm lenitivo seguro no reto cumprimento das leis do Altíssimo.
O ódio é gerado por situações que vão literalmente contra os anseios das criaturas em trânsito pelas provas e expiações, colocando-se contra os interesses das pessoas, gerando desconforto e oposição, sem se ouvir as razões dos que pensam e têm sentimentos contrários; a contrariedade é manancial de conhecimento para solução diversa, quiçá uma melhor exegese em benefício da solução para o conjunto.
Em síntese apertada pode-se compreender o ódio como um sentimento de profunda antipatia, desgosto, aversão, raiva, rancor, inimizade ou repulsa contra uma pessoa ou causa como também algo de que se tenha experienciado na condição de vítima, assim como o desejo de evitar, limitar ou destruir o seu objetivo, tendo sua gênese nos desejos conscientes e inconscientes dos viajantes do planeta Terra.
É indispensável para aplacar o ódio, a raiva e as más tendências que se encontrem a desgoverno no espírito na sua caminhada evolutiva, as memoráveis lições do mensageiro do amor em todas as suas virtudes.
Sem contradita essa é a razão, motivo e causa porque a virtude do perdão é o instrumento eficaz para a abolição definitiva do ódio que ainda grassa nos corações entibiados, que ainda não despertaram para a oportunidade de regeneração ou o estágio de elevação do próximo em direção a única fatalidade aceitável que é em essência os páramos celestiais.
A elevação espiritual ora pontuada para se alcançar a bem-aventurança do perdão pode ser retratada por um fato atribuído a Mohandas Karamchand Gandhi, também conhecido como Mahatma Gandhi. Conta-se que certa feita, ’alma grande’ foi procurado por um de seus discípulos, que houvera na noite precedente realizado o exame de consciência ensinado por Santo Agostinho, conforme consta na questão 919 de ’O livro dos Espíritos’, concluindo que não tinha procedido com dignidade com o seu mentor; foi até ele para pedir perdão sendo surpreendido pelo seu instrutor de que não poderia conceder-lhe o seu perdão.
Admirado questionou ao seu tutor a razão desse paradoxo, uma vez que ele pregava os ensinamentos de Divino Galileu, com ênfase para o sermão do monte em todo o seu esplendor, máxime o perdão das ofensas. A resposta, além de esclarecedora desvendava sublime ensinamento sobre o perdão das ofensas, que não significa esquecimento, mas consciência do estado de elevação espiritual do ofensor.
Por isso Gandhi teria respondido que não poderia perdoar ao seu ofensor, porque, muito embora recordasse das palavras malsãs que lhe foram dirigidas, ele não se ofendera porquanto compreendia que aquele que procedera com desalinho, ainda não alcançara o apogeu da elevação espiritual. Oh! Meu bom Deus. Quantos viandantes em provas e expiações, ainda se melindram por questões de somenos importância, de tudo fazendo uma tempestade num copo d’água.
Sob esses cânones, se faz de uma simples troca de palavras uma verdadeira guerra e um holocausto, tudo por não entenderem a necessidade de abolirem com toda veemência o aborrecimento que tarda em transformar o ódio em campos de paz, aplicando as lições do mensageiro do Senhor da Vida, o perdão incondicional.
Da mesma sorte, aqueles que transformam uma simples querela em um tormento, olvidam os ensinamentos de inesquecível Francisco Candido Xavier, quando interroga as consciências dos justos, o que seria melhor, ’ofender ou ser ofendido’, quando se sabe muito bem que o perdão é bom para aquele que o concede e não para aquele que o recebe, pois este continuará devedor com o equilíbrio do universo, e, mais cedo do que imagina, em atendimento a lei de justiça terá que resgatar o desequilíbrio provocado na harmonia do universo.
Diante dessa realidade, não seria justo deixar de anotar o sentido do verdadeiro perdão atentos a elevação espiritual daqueles que estão no caminho certo do verdadeiro sentido das lições do Divino Jardineiro para abolir o ódio e plantar no jardim da vida, o amor como o instrumento do perdão incondicional.
Por isso, diga-se que o mundo se estarreceu quando o ódio e a violência, na noite de 13 de novembro de 2015 tomou conta na cidade luz, pelas mãos dos terroristas, assassinando a sangue frio dezenas de pessoas no Bataclan, uma barbárie sem precedentes, levando-se à saciedade aos gritos, estorcegarem-se os anelos para apreenderem como fazer para perdoar atitudes desse jaz e abolir o ódio.
Como se entendesse os sentimentos da humanidade naquela ensancha, na sorrelfa da noite, pelo triste episódio que se experimentava, Antoine Leiris, que ’perdeu’ a mulher naquele massacre, a Sra. Helen Muyal-Leiris, no atentado ao Bataclan, escreveu aos ofensores insensatos uma carta aberta, afirmando que não daria aos bárbaros a ’satisfação’ de os odiar e que ele e o filho são ‘mais fortes que qualquer exército do mundo’. Foi mais longe a sua compreensão e sua elevação espiritual quando afirmou em rede social, ipsis verbis:
‘Eu não sei quem vocês são e não quero saber, vocês são almas mortas. Se este vosso Deus por quem matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher é uma ferida no seu coração’. Por isso não, eu não vou dar-vos a satisfação de vos odiar. Vocês querem isso, mas responder ao ódio com raiva seria ceder à mesma ignorância que vos tornou naquilo que são’.
Sob esse pálio, é também de magna importância registrar que após o fatídico dia 12 de novembro de 2015 pp. em Paris, no teatro Bataclan, quando ocorreu o reprochável massacre no Boulevard Voltaire, muitas criaturas de Deus resolveram abolir o ódio, plantando o jardim da esperança em substituição ao ódio. Foi o que se viu quando um pianista anônimo ousou trazer seu piano de cauda para a rua, posicionou o instrumento em frente ao local onde as vítimas tinham perecido e tocou aos corações que ali se encontravam a linda melodia de John Lennon, ao comovente som de imagine, fazendo com que as lágrimas se misturassem a sorrisos através da arte.
Foi um momento de êxtase, que fez com que todos refletissem sobre o futuro, sobre a vida bela, colorida e consentida e os objetivos maiores da existência, porque nos dedos do pianista misterioso não havia ódio nem desejo de vingança, mas ao contrário, existia empatia para com a dor de seus conterrâneos e um profundo desejo de paz em nome do amor, o amor profundo de Jesus, fazendo com que onde houvera tanta dor e aflição provocado por tiros e bombas cruéis que ainda ecoavam naquele logradouro, sobre seus escombros, predominasse a melodia do amor.
Ponto finalizando, parafraseando o Divino Mestre, a caridade é luz no caminho, e não obstante os acúleos e abrolhos da estrada, Jesus asseverou que ’No mundo tereis aflições’, e que a estrada das provas e expiações foi muito difícil para os apóstolos e os discípulos do Senhor, especialmente para o Cordeiro de Deus, pois todos padeceram agruras, e aflições, e sem exceção foram perseguidos, mas em suas advertências está nas palavras que não se calam, mostrando a face do amor.’Esforça-te e tem bom ânimo’. ‘Eu venci o mundo’.
Sob esse díptico, recebam os amigos o ósculo e a oblata da fraternidade em nome do Divino Jardineiro, com votos de um final de semana de muita paz e amor.
Do amigo de sempre.
- Jaime Facioli -