Há no axioma popular a emoção de que atirar pedra no telhado de vidro, em especial, o telhado do próximo, gera satisfação; ledo engano. Trata-se de postura daqueles que faz vista grossa aos sentimentos de fraternidade, piedade, compaixão e amor ao próximo, sem olhar o lado bom da vida. A adoção desse brocardo nega as máximas do mensageiro do amor, em especial para se fazer ao próximo tudo que gostásseis que lhe fosse feito. Ademais, ao dar impulso à maledicência põe-se em andamento o “julgamento” que se faz do irmão de caminhada, sem se conhecer todos os ângulos de questão que serve de arrimo para atirar a primeira pedra; nesse particular, é digno de registro também, a proposta de Jesus de Nazaré, recordando aos viajores que aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra.
É assim o jornadear dos filhos do Altíssimo. Nas provas, tudo tem dois lados para o exame perfunctório e as escolhas que lhes permite o exercício do livre arbítrio, tal como propõe o estudo do evangelho sobre a porta larga e a porta estreita. A opção sempre será do candidato à felicidade. É o caso em que se sustenta essa retórica.
Existe a escolha para se atirar pedra na conduta de outrem, o telhado de vidro do irmão, julgando seus atos e colocando-se na posição de severidade com aqueles que caminham pela mesma estrada do progresso, onde existe acúleos e abrolhos, dificuldades em tonalidades mil, em tudo vendo os inimagináveis transtornos; também há o caminho da claridade, para se percorrer na qualidade de herdeiros do dono do Universo; nesse trajeto, vê-se a vida bela, colorida e consentida, como concedeu o Pai Celestial, para que seus filhos sintam o aroma das flores, ao extasiarem-se com o autógrafo do Eterno, identificando sua obra no altar da natureza.
Por essas razões, sabe-se que a vida nem sempre oferece tudo que os matriculados na universidade das provas e expiações desejam, e na forma que acalentam os sonhos dos preferem dormir em berços esplêndidos, sem o esforço indispensável para não se tornarem um peso para a sociedade civil organizada ou o governo, mas manterem a sua própria subsistência, ganhando honestamente o pão nosso de cada dia, segundo os ditames ensinado pelo Cristo de Deus na imorredoura oração ao pai celestial.
Nesse sentido, as parábolas da existência, forma como o homem de Nazaré ensinava os irmãos menores, até os dias contemporâneos, dá conhecimento à saciedade dessas lições, no apólogo sob o rótulo de “a escolha dos dois caminhos”, colhidos na Redação do Momento Espírita, de 22.03.2016, sob o fluxo do poema “Telha de vidro”, de Rachel de Queiroz, em essência o seguinte episódio.
“Conta-se que Rachel, depois da morte de seus pais, deixou a cidade em que nascera para morar na fazenda, com os tios que mal conhecia... moraria na casa que havia sido construída por seu bisavô. Era uma casa antiga e os móveis eram peças pesadas e escuras. Seus tios eram pessoas simples; desconfiados com tudo que pudesse alterar a rotina que lhes dava segurança. A chegada de Rachel representou para eles um transtorno. Na falta de acomodação, deram-lhe um quarto pequeno, que ficava no sótão.
Nem o tamanho reduzido, nem o cheiro de mofo incomodaram Rachel. O que a entristecia, naquele quartinho abafado, era o fato de não ter janelas. Não se podia ver o sol, nem o céu, nem as árvores do quintal ou as flores do jardim. A luz limitava-se a entrar timidamente pela porta. A falta de claridade parecia encher ainda mais de tristeza o coração dolorido da moça. Um dia, depois de muito ter chorado em silêncio, decidida a voltar a sorrir, ela pediu que lhe trouxessem da cidade uma telha de vidro.
Ainda que desconfiados, seus tios acabaram cedendo. Daí um milagre aconteceu. Mesmo sem janelas o quarto de Rachel, antes tão sombrio, passou a ser a peça mais alegre da fazenda. Tão claro que, ao meio-dia, aparecia uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos que, só a partir de então, conheceram a luz do dia. A lua branda e fria também se mostrava, às vezes, pelo clarão da telha milagrosa. E algumas estrelas audaciosas arriscaram surgir no espelho onde a moça se penteava.
O quartinho que era feio e sem vida, fazendo os dias de Rachel cinzentos, frios, sem luar e sem clarão, agora estava diferente. Passou a ser cheio de claridade, luzes e brilho. Rachel voltou a sorrir. Toda essa mudança só porque um dia ela, insatisfeita com a própria tristeza, decidiu colocar uma telha de vidro no telhado daquela casa antiga, trazendo para dentro da sua vida a luz e a alegria que faltavam”.
Sem contradita, lamenta-se registrar que ainda há criaturas que preferem atirar pedra no telhado do próximo, em detrimento a iluminação dos caminhos que levam à felicidade; é o que se constata no seio da sociedade contemporânea; são criaturas que incontidas vezes se algemam a hábitos desairosos, deixando no fundo do poço da desdita os hábitos salutares e as verdades que os tornariam felizes.
É preciso urgentemente, nos cômodos d’alma, quando sem janelas e obnubilando a existência em provas e expiações, pelas sombras do pessimismo e da falta de fé, colocar-se um telhado de vidro que afaste as sombras, permitindo a alegria de viver e o sorriso de imensa satisfação por saber-se filho do dono do universo, criador do céu e da terra, que garante em seu legado os páramos celestiais.
Não se pode permitir a acomodação, ou aceitação de estruturas arcaicas, sem nada fazer para alterá-las, sob o pretexto de que sempre foram assim, e por consequência desarrimar lei do progresso. Mudanças e reformas são necessárias e sadias. Nem todas dão certo, sem que isso iniba de se avaliar a realidade e traçar metas para enfrentar os desafios que convidam os viandantes do planeta Terra a buscarem as melhorias que os corações desejam e as almas anseia com sofreguidão. Nesse caminho do reto dever, não se pode esquecer, que a busca dos sonhos de felicidade não permite passar por cima do direito dos outros, como leciona a proposta do Divino Jardineiro, sob a égide da boa nova, para não fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem.
Sob o fluxo desses ideais, almejando o bem viver e o reto cumprimento dos deveres, na opção de colocar o telhado de vidro iluminando as criaturas, uma das questões que incomodam a consciência dos filhos do Senhor do Universo, é sem dúvida como proceder diante dos desacertos dos irmãos de jornada em trânsito pelas provas e expiações, inscritos na universidade da vida com destino aos páramos celestiais.
É sabido que toda pessoa é dotada de sensibilidade, carregando no imo d’alma a capacidade de sentir, de amar, de odiar, de ter saudade, de apreender através do relacionamento interpessoal sob os cânones da lei de progresso, conscientes de que foram criadas cada uma no seu tempo, ensejando matrícula na universidade da vida em épocas diferentes, razão porque os viandantes têm valores desiguais uns dos outros, máxime considerando as conquistas do esforço pessoal obtidas em reencarnações pretéritas, transportando o homem em seu bornal a soma dos conhecimentos adquiridos.
Contemporaneamente, vive-se em uma sociedade marcada pelo capitalismo, pela busca do dinheiro, onde somente o rápido e o eficiente prevalecem; da mesma sorte, experimenta-se constante tensão em razão do açodamento para se cumprir as tarefas por todos cobradas, a exigir atuação como se o ser humano fosse máquina que precisa produzir, cada vez mais e melhor para poder sobreviver.
Ora, essa metodologia está em absoluto desalinho com os propósitos da paz anelada pelos que anseiam bem viver, e entender o próximo, sob os ditames e os princípios da doutrina espírita, onde Léon Denis quando aprofunda o bisturi da compreensão sobre as questões que desafiam a mente humana na evolução do pensamento sobre o problema do ser, do destino e da dor.
Inegavelmente, o homem em sociedade necessita pôr em relevo a inteligência do seu espírito eterno, utilizando-se do instrumento da indulgência, do perdão, do auto perdão, da mansuetude, e todas as virtudes ensinadas pelo Missionário do Senhor da Vida, em nome do amor em plenitude, ainda que o estiolamento da sociedade civil contemporânea, mostre que há desencontros e desejos de atirar pedra nos viajores em busca da felicidade, e, em meio a tantos afazeres, não se pode perder a dimensão do essencial, que é o relacionamento humano.
Na análise sub óculis dos relacionamentos, vê-se que estes estão pautados em superficialidade, onde não existe interação e sim, representação. É urgente não perder o endereço do Pai Celestial e manter acesso à figura de Jesus, consciente de que Ele sempre foi, é, e será o professor dos relacionamentos humanos em busca da plenitude. O Cristo de Deus, não atirava pedra. Conquistava as pessoas, e aqueles que se aproximavam encontravam N’ele um grande amigo, refúgio e, solução para as experiências do momento.
Sob esse díptico e os sentimentos d’alma, na esperança de bem proceder com os companheiros de jornada, deposita-se o ósculo e a oblata da fraternidade universal em seus corações, anelando um ótimo fim de semana na paz e em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre,
- Jaime Facioli –