A estrada de provas e expiações é repleta de acúleos, abrolhos e pedras e cada uma delas tem o seu grau de dificuldade para se ultrapassar. Não por outra razão é notório que cada viajor enfrente o caminho das pedras de uma forma diferente. O distraído tropeça na rocha, o bruto a utiliza como arma e o empreendedor utiliza-a para construir; o camponês faz do calhau um assento, e nas mãos de Michelangelo, a pedra se transforma numa escultura; por isso, se sabe que com a pedra Davi matou o gigante Golias e Jesus mandou remover a pedra para ressuscitar Lázaro.
É assim que na trajetória da existência das provas e expiações, atentos ao sentido do apólogo que vivifica a alma, não se pode fazer ouvidos moucos as dificuldades existenciais, máxime porque nesse universo infinito pessoas há que veem nas dificuldades momentos de dores e sofrimentos, cujos acúleos existenciais têm o propósito de ferir suas vidas, enquanto, no outro pólo, existem os felizardos, os bem-aventurados que tudo têm e tudo gozam prazerosamente.
Que não se engane a rasa e vã filosofia dos desalinhados. Reconstruir é preciso ... O olhar do Eterno tudo vê e o livro da vida tem os registros que conduzem as criaturas para o repositório das leis Divinas, consoante a questão 621 de “O Livro dos Espíritos”, de forma a acertarem os passos em direção aos páramos celestiais. Os que sofrem, experimentam na dor as lições memoráveis que o tempo exerce como professor sem palavras para apresentar as preleções de crescimento moral e espiritual.
É sabido que toda pessoa é dotada de sensibilidade, carregando no imo d’alma a capacidade de sentir, de amar, de odiar, de ter saudade, de apreender através do relacionamento interpessoal sob os cânones da lei de progresso, conscientes de que foram criadas cada uma no seu tempo. Certamente, essa é a gênese que dá azo à matrícula na universidade da vida, para reconstruir os equívocos sob o olhar de misericórdia e amor do Eterno, matrícula por óbvio, em épocas diferentes, razão porque os viandantes têm valores desiguais uns dos outros.
Nesse considerando, é notório que as conquistas do esforço pessoal obtidas em reencarnações pretéritas, faz o homem transportar em seu bornal a soma dos conhecimentos adquiridos. Não se negue que no mesmo cabedal de conhecimento, o homem moderno vive em uma sociedade marcada pelo capitalismo pela busca do dinheiro, onde o rápido e o eficiente prevalecem.
Da mesma sorte, experimenta-se constante tensão em razão do açodamento para se cumprir as tarefas por todos cobradas, a exigir atuação como se o ser humano fosse máquina. Trata-se de metodologia em desequilíbrio com os propósitos da paz anelada por aqueles que anseiam bem viver e entender o próximo, sob os conselhos e os princípios da doutrina espírita, onde Léon Denis aprofunda o bisturi da compreensão sobre as questões que desafiam a mente humana na evolução do pensamento sobre o problema do ser, do destino e da dor.
Inegavelmente, o homem em sociedade necessita pôr em relevo a inteligência do seu espírito eterno, utilizando-se do instrumento da indulgência, do perdão, do auto perdão, da mansuetude e todas as virtudes ensinadas pelo Missionário do Senhor da Vida, em nome do amor em plenitude, ainda que o estiolamento da sociedade civil contemporânea, destrua para depois ter que reconstruir, o fato é que se apura que há desencontros e desejos de atirar pedra nos viajores em busca da felicidade.
Entretanto, mesmo diante do chamado do mundo, não se pode deixar escapar a dimensão do essencial, que é o relacionamento humano; assim também não se pode perder o Endereço da Inteligência Suprema Causa Primeira de Todas as coisas. O Cristo de Deus não atirava pedra. Conquistava as pessoas, e aqueles que dele se aproximavam encontravam N’ele um grande amigo, refúgio e solução para as experiências do momento. Por isso, nada obstante o proêmio em questão, será de bom alvitre aprofundar o bisturi sobre o tema da destruição, para ao depois melhor explorar a proposta da reconstrução sob o olhar do Eterno; Trata-se da linha condutora dos sentimentos do articulista, com fulcro no artigo colhido na Redação do Momento Espírita de 01.03.2018, que se solicita vênia para parafrasear.
Nesse sentir, viajemos ao passado não muito distante; é o dia 26 de agosto de 2017, no Centro Nacional de furacões, nos Estados Unidos, se registrou uma onda tropical sobre a costa ocidental africana e nas horas que se seguiram ela foi classificada como uma tempestade tropical, recebendo o nome de Irma, que logo se transformou num furacão devastador, um ciclone tropical que deixou em seu rastro a destruição e morte. A onda chegou nos Estados Unidos e, como em outros lugares por onde passou, houve a mesma atitude de revolta de um planeta que procura sobreviver, apesar dos maus tratos que tem recebido dos seus habitantes.
Previamente anunciado, o acontecimento gerou pânico; os postos de gasolina, supermercados, e as lojas de materiais de construção não conseguiram atender inusitada demanda. Faltou de tudo para a subsistência, a começar pela água e os alimentos. A passagem de Irma deixou uma parcela da população americana carente de tudo, e mais de um milhão de pessoas ficou sem eletricidade.
Nos casos mais graves, houve perdas de vidas, o maior patrimônio. Não houve quem conseguisse controlar as lágrimas que vertiam ante as cenas de desolação. Árvores arrancadas, casas danificadas, destruição por toda parte. E, como sói acontecer nesses flagelos, nos corações em desespero havia a incerteza de como estariam os entes queridos. Foi nesse momento, quando vizinhos e desconhecidos foram se encontrando nas ruas, que a Face de Deus se manifestou, mesmo para aqueles que nem creem em Sua existência. Fosse em nome de Jesus, de Krishna, Buda, Jeová ou simplesmente pelo sentimento de solidariedade, Deus estava presente nas suas atitudes.
Nos dias de dificuldades que se sucederam, o que se observou foram as pessoas se dispondo a auxiliar, cada qual como podia e com o que dispunha. Havia braços que se ofereciam para um simples corte de uma árvore caída, até doações de alimentos, de água para os abrigos preparados para pessoas e animais.
No entanto, foi no rastro da destruição que se podia ouvir a música do coração humano e o despertar das consciências, nos acordes da melodia dolorida e enérgica, trazendo na sua musicalidade o ritmo do trabalho, do apoio na reconstrução, atentos a lição de Jesus, para fazer-se ao próximo aquilo que se deseja para si.
Nesse momento, como tantos outros na vida do dia a dia, nas provas mais amargas que podem ser encontradas pelos candidatos à felicidade, seja na dor da partida do ente querido, na perda do emprego, na saúde debilitada, em qualquer circunstância aziaga, que não olvide a rasa filosofia, o olhar da Consciência Cósmica que a tudo via, vê e protege, também viu quando brilharam os olhos de suas criaturas, demonstrando a potencialidade do Eterno.
Sem contradita, trata-se de prova contundente de que a Lei de Destruição não é mero acaso, mas por uma causa; trata-se da lei que atende ao comando maior, que estimula o despertar das criaturas em trânsito pelo planeta de provas e expiações, para o renascimento e regeneração.
Cabe anotar por isso, que o se se chama de destruição, é a transformação com objetivo de renovação e melhoramento dos seres vivos. Sim, tudo se encaminha na vida para uma tomada de atitude diferente, para se sair do comodismo em busca da reconstrução. O furacão Irma apresentou a sua face do terror, e no meio do caos, se pode contemplar a Face de Deus nas Suas criaturas.
De outro lado, sem nenhuma dúvida, há também formas de se ver a bondade do Criador, auxiliando suas criaturas a reconstruírem os desalinhos dantanho, pela prática do amor. De fato, em publicação da revista Veja do pretérito, colhe-se reportagem sobre Bill Gates e Melinda, sua mulher, onde o nobre homem concede 458 milhões de dólares americanos para aplacar a fome e a miséria das áreas mais sofridas do planeta.
Propõe ele um desafio à ciência para que ela busque com os recursos que ele oferece, exames mais rápidos de laboratórios, visando conter as doenças. Descobrir a vacina contra a AIDS, combate à malária, combate à dengue etc. Trata-se de um projeto para mudar o mundo, reconstruir e transformar os corações aflitos. No Brasil, viu-se entre outros, Antônio Hermínio de Morais, Francisco Cândido Xavier, exemplos de trabalho em prol de uma sociedade melhor. Em todos os rincões desse planeta vicejam almas nobres vocacionadas para o bem do povo com o caráter de impessoalidade, isto é, fazer o bem a todos de forma indistinta.
Sob o olhar da Consciência Cósmica, há responsabilidade dos que muito tem, dos que governam e o compromisso de todos, para não se esquecerem dos fracos e dos oprimidos, dos que carecem do amor e da fraternidade daqueles que estão na abundância, para reconstruírem, sempre que necessário, ao depois de extraída as lições que as calamidades trouxerem.
Nessa óptica, se concebe que as pedras do caminho, na dor que visita pela doença, pela partida de um ente querido em sua jornada de retorno à pátria espiritual, na perda do emprego, no filho pródigo que abandona o lar, naqueles que sofrem diante das drogas que viciam seus familiares ou aqueles que recebem no lar um filho com idiotia ou síndrome de Down, seja como for, deve considerar os percalços da vida como estimulantes ao crescimento, pois, se se considerar juntar essas pedras do caminho, vê-se o olhar da Potestade em sua misericórdia infinita orientando a construção do porvir, oferecendo um castelo de alegria e felicidade nos esplendores celestes, quando bem se cumpre a missão propostas na Pátria Espiritual.
Ponto finalizando, com esses sentimentos d’alma e na esperança de bem reconstruir os projetos de vida, deposita-se o ósculo com a oblata da fraternidade universal em seus corações, anelando um ótimo fim de semana na paz e em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli –