Na vida, em especial quando chegam as tempestades açodando os corações em provas e expiações, as criaturas em trânsito pelo belíssimo planeta Terra se dão conta de que as preces têm necessariamente que fazer parte do protocolo do dia e da hora, diante das circunstâncias aziagas por que se passa a enfrentar. É quando a sensação de insegurança atinge a criatura levando-as a procurarem o Eterno para fazer suas rogativas, seja pela saúde física e metal ou na realização de um sonho, depositando aos pés do Senhor da Vida as suas esperanças de verem realizados os seus desejos.
Nesse sentido, muitos dos viajores em trânsito na grande nave mãe, em razão das infinitas seitas religiosas no mundo, como a crença em nome de Jesus de Nazaré, nos vedas o Krishna, em Buda, o Sidarta Gautama, no Jeová, ou simplesmente por sentir o amor que jaz em todas as criaturas da Consciência Cósmica, se vê incontáveis mantras ou dogmas para serem seguidos em nome do Onipotente, Onisciente e Onipresente.
Nesses dogmas encontra-se a repetição das preces para se alcançar o seu verdadeiro valor em atendimento aos requerimentos feitos, sem, contudo, se compreender a essência e o real objetivo da prece, tanto como a sua dimensão e seus propósitos, situações que geram a sofreguidão para os seus pleitos, e, na pressa pelo resultado acabam acusando a Divindade ou descrendo em sua onipotência, onipresença e onisciência. Digno de nota é o registro de que Deus não atende todos os requerimentos e na forma que se deseja, mas oferece ao solicitante, tudo, absolutamente tudo o que se necessita para atender aos cânones da lei de progresso e a evolução de seus filhos em direção aos páramos celestiais.
Diga-se por isso, que as distâncias, a exemplo das horas que transcorrem obedientes ao relógio, têm a dimensão do estado emocional das pessoas que as percorrem. Quando se encontram felizes, o tempo de espera tem o marcador da paciência que aguarda com esperança o pedido ser deferido; quando notícias tristes chegam ou quando se está carregando o peso do desânimo, a desesperança torna o tempo de atendimento das preces interminável.
Em Calcutá, na Índia, Santa Madre Teresa idealizou uma maneira peculiar de marcar as distâncias para as voluntárias da sua missão: estabeleceu recitar as orações enquanto se encontrassem a caminho das tarefas a serem realizadas. Por esse método, a jovem Ananda sabia exatamente o número de Ave-Marias que cobriam o trajeto do convento-hospital; nada mais, nada menos que duzentas e oitenta ave-marias. De início, aquela recomendação lhe pareceu descabida. Ora, onde já se viu, ir recitando Ave-Marias, uma em seguida à outra, tornando a prece em uma forma mecânica de se conversar com o Criador; entretanto, logo se deu conta de que aquele recitar constante, ainda que repetitivo, mantinha sua mente elevada, ocupada em algo positivo e fazia vibrar n’ela, as energias celestes em forma de amor.
De fato, não será a repetição exaustiva das preces que irão oferecer a certeza de o pleito ser aceito pela Potestade; em verdade, é o que dela decorre, como a tranquilidade e paz que se conquista na multiplicação das preces, gerando propósitos nobres com o objetivo de se conectar a mente ao Superior. Desta forma, sem criar um doesto ao dogma das preces repetidas, uma vez aceitas, na mente desocupada nascem as palavras da saudação do mensageiro celeste, traduzidas agora em prece de louvor, acrescidas da natural rogativa pelas misérias humanas; serão frases sagradas que brotam do coração aos lábios, num murmúrio constante, preenchendo o tempo vazio com as preces que nascem no coração.
No caso de Ananda, o significado por ela descoberto na repetição das preces foi o de atingir o objetivo da caminhada com a mente higienizada por salutares vibrações, que iam ao encontro de dezenas de enfermos que aguardavam a medicação, a higiene e o consolo. E, ao depois, Ananda recomeçava suas atividades na madrugada, risonha, com mais um dia de trabalho em serviço do bem, ciente de que durante horas ela ainda andaria entre um leito e outro, num murmurar do néctar do amor, por estar conectando àquelas criaturas entibiadas, muitas delas recolhidas ali somente para morrerem assistidas em atendimento das preces repetidas, transformada em sentimentos da misericórdia Divina.
É inegável “que pela prece o homem atrai o concurso dos Espíritos bons, que vêm sustentá-lo em suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos”, como dispõe o Evangelho segundo o espiritismo, no cap. 27, item 11. Bem por isso, a prece é um diálogo com as forças superiores, porque quem se levanta com a manhã e se dedica ao semelhante está em prece. Quem toma da pena e exalta a natureza em prosa e verso, reconhecendo a grandeza da Criação ao exteriorizar em palavras a gratidão e louvor ao Senhor da Vida, buscando sintonia superior através de frases espontâneas, geradas pela fé ou pela necessidade, e, também aqueles que repetem versos, como num mantra está em oração, porque a oração é vida, é viver plenamente, deixando-a fluir sempre os sentimentos coloridos da existência consentida.
Não se olvide também que a principal qualidade da prece é ser clara, simples e concisa, sem fraseologia inútil, nem luxo de epítetos que são enfeites de lantejoulas, quando na verdade as palavras devem ter alcance próprio, despertando uma ideia para alcançar o Eterno.
O poder da prece está no pensamento. Não depende de palavras, não depende da repetição, nem do lugar, ou do momento em que seja feita; pode-se orar em toda parte, e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar e do tempo só se faz sentir nas circunstâncias que favoreçam o recolhimento.
Indispensável anotar que nada obstante o Senhor da Vida conceder aos seus filhos as rogativas que lhe são endereçadas, não como se pede, mas o que se necessita, nem por isso haverá isenção dos necessários ajustes de rumo e das provações, porque se for do necessário ao aflito que a sua prova siga o seu curso, ela não será abreviada pelo fervor da solicitação; entretanto ainda nesse caso, não se aconselha o desânimo, quando “não atendida a prece” do modo e tempo solicitado no pleito, sob pena de não ser aprovado no exame, tendo que se recomeçar as sabatinas.
É, pois, sob a bandeira desse objetivo que se deve dirigir os esforços daqueles que pedem para que os Espíritos bons lhe venham em auxílio, quer levantando-lhe o moral por meio de conselhos e encorajamentos, ou assistindo-o materialmente, se for possível. A prece, neste caso, pode também ter efeito direto, dirigindo sobre a pessoa por quem é feita, numa corrente fluídica com objetivo de lhe fortalecer o moral. No oceano mental em que avança, o homem frequentemente se vê defrontado por vibrações subalternas que o golpeiam fortemente, compelindo-o à fadiga e à irritação, sejam elas provenientes de ondas enfermiças, oriundas dos desencarnados em posição de angústia e que lhe partilham o clima psíquico, ou de oscilações desorientadas dos próprios companheiros terrestres desequilibrados a lhe respirarem o ambiente.
Todavia, tão logo se envolva nas vibrações balsâmicas da prece, erguendo-se o pensamento aos planos sublimados, recolher-se-á as ideias transformadoras dos Espíritos benevolentes e amigos, convertidos em vanguardeiros dos passos para a evolução. De fato, não há como negar no mundo globalizado já alcançado pelos filhos de Deus, no caminho percorrido com sofreguidão, sob o pálio da Lei de Evolução, que o ser humano não sinta as palavras como veículo poderoso para a comunhão dos pontos de vistas das rogativas endereçadas a Potestade.
Com esses sentimentos d’alma, recebam o ósculo depositado em seus corações em nome da oblata da fraternidade universal, anelando que tenham um ótimo fim de semana em nome da Excelência da boa palavra e do Amor de Jesus.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli