Historicamente, as criaturas do Eterno aspiram pelos sentimentos de pulcritudes para atenderem aos desejos do coração; nesse sentido procuram o espírito da letra que vivifica; no apólogo dos talentos, explicitados na parábola do Cristo de Deus, objetivamente se referindo a uma espécie de peça de ouro ou de prata muito valiosa. Dessa forma, invariavelmente as criaturas ao ouvirem falar em talentos, ligam-se de imediato ao valor dos amoedados, fato anotado na historiografia mundial na singular parábola do Divino Galileu.
Naquela oportunidade, o querido mestre fez daquele momento, a narrativa memorável de um homem rico dos valores materiais que necessitava se ausentar de seu país, razão porque chamando alguns de seus servos lhes deu os necessários talentos para que administrassem suas propriedades enquanto estivesse fora.
A cada um de seus fâmulos deu uma quantidade de recursos. Ao primeiro deu 05 talentos, ao segundo concedeu dois talentos e ao terceiro coube apenas um talento. (Mt 25.15). Transcorridos o tempo de seus afazeres, retorna o senhor as suas propriedades, e como sói acontecer com os depositários dos bens de outrem, busca com os seus servidores acertar as contas e tomar ciência dos resultados obtidos junto aos que ficaram encarregados de administrar seus bens.
Sabe-se que os dois primeiros responsáveis pelas tarefas de gerenciamento das riquezas, bem administraram seus negócios, o primeiro multiplicou seus talentos e entregou em suas contas com 10 talentos, o segundo da mesma sorte, tendo colocado os recursos nos bens à coletividade, prestou as contas com o seu amo restituindo os talentos recebidos em dobro, ou sob outra retórica, aqueles que maior quantidade de talentos recebeu, desempenharam com zelo e proveito a missão recebida.
Todavia, aquele que recebeu apenas um talento, alegando ao seu senhor que teve receio de malbaratar o “depósito” a ele confiado, máxime porque o conhecia como severo, capaz de colher onde não plantou, justificou-se enterrando o talento com receio de eventuais represálias. O servo mal e infiel por esse proceder, foi duramente criticado e punido, lhe asseverando o seu Senhor que deveria ter deixado o “dinheiro” nas mãos dos banqueiros que melhor proveito teria feito, rendendo-lhe alguma coisa e não deixando os talentos improdutivos e sem nenhum proveito à coletividade. Os profitentes da doutrina espírita, senão qualquer criatura de Deus, nos dias atuais, após o advento do consolador prometido pelo homem de Nazaré, têm consciência de que o Mestre falava por parábolas e imagem para deixar entender no tempo oportuno a sua lição.
Nesse sentido, é crível interpretar as lições do Divino Pastor sobre os talentos sob a égide de que o senhor da vida concede infinitos dons em forma de capacidade, possibilidades, oportunidades, saúde, família, inteligência e outros tantos dons, segundo a necessidade de elevação espiritual de cada um dos seus filhos, sendo indispensável, todavia, cultivar o jardim das provas e expiações para lograr êxito nos propósitos abraçados na pátria espiritual.
Trata-se de oportunidade redentora de resgate das faltas cometidas na ribalta das existências transatas, as quais lamentavelmente não se têm “tempo” para se ver as primeiras horas da manhã o esplendoroso espetáculo que oferece o sol do novo dia que se inicia. Cultivar o jardim da vida, significa assumir responsabilidades e essas segundo a capacidade de cada uma das criaturas, mas nenhum filho de Deus recebe pouco, senão o necessário para que multiplique essas bênçãos a favor do próximo em amor na excelência da palavra.
O Senhor da Vida exorta suas criaturas, pelas lições memoráveis do Divino Jardineiro, a multiplicar e fazer frutificar os dons recebidos em forma de talentos, para que no acerto de “contas”, não haja servo infiel; uma vez recepcionado os talentos, o que se examinou naquela ensancha, foi a fidelidade no uso daqueles recursos: “Então, aproximando-se o que recebera cinco talentos, entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor. ” (Mt 25.20-21)
Sob esse díptico, obviamente não será reprochável asseverar que a Providência Divina, pelas suas Leis naturais e imutáveis, cobrará pelo que cada viajor fizer dos recursos e responsabilidades colocados à sua disposição, para as provas, seja os recursos amoedados, seja na família abençoada, seja nos filhos a quem se confiou a proteção e guarda; por isso, cabe educar aqueles colocados sob a tutela do pai ou mãe, ou naqueles que a qualquer título estejam sob a proteção dos mais esclarecidos; da mesma sorte, nas atividades subalternas qualquer que seja, nos fóruns da vida, na política proba para o gerenciamento de uma sociedade civil organizada e benfazeja em nome do amor e justiça em plenitude.
Tenha-se vivo na consciência, na parábola em comento, que todos os três homens que receberam os talentos foram cobrados pelo que fizeram com eles. Receber talentos é também receber responsabilidades. O último, apesar de ter apenas conservado o talento, recebeu dura cobrança por não o ter multiplicado.
Em síntese apertada, registre-se que os homens têm diferentes talentos e habilidades, razão porque um excelente matemático talvez tenha dificuldade com o domínio dos verbos da língua pátria. Da mesma maneira, podem-se encontrar pessoas com extraordinária vocação nas finanças sem que seja um bom administrador de recursos humanos. Com esse sentimento é crível imaginar-se que um notório empresário, em tarefas de outra envergadura não consiga nem minimamente desenvolvê-la. Hás os que dançam tão bem que são conhecidos nos meios musicais como “pés de valsa” sem que, entretanto, saiba cantar. O domínio da gramática, máxime para escrever, não alforria o dom de falar em público.
Justo, pois que se entenda que a pujança de uma sociedade reside na diferença existente entre os talentos e responsabilidades equanimemente concedidos em forma de dons pela Consciência Cósmica as suas criaturas. Das divergências nascem as reflexões e o aprimoramento para o entendimento das dissintonias convidando os profitentes ao bom combate, refletirem sobre o aprimoramento da caminhada rumo ao progresso.
Concebível com essas considerações que sendo as criaturas dotadas de livre-arbítrio pela Divindade, com os dons que receberam para exercerem cada uma das responsabilidades, escolha o caminho de vida que mais lhe fale ao coração, trazendo do resultado dos erros e acertos transatos, experiências acumuladas nos talentos, agora desenvolvidos para o plantio no jardim das provas e expiações. Que ninguém se deixe enganar pela vã filosofia. Deus criou os Espíritos perfectíveis, mas não perfeitos. Assim, é natural que se erre até encontrar o zênite de seu caminho, cultivando no jardim da vida, pois é notório que o aprendizado, procede do excelente mestre que pela vereda do erro conduz os interessados aos acertos.
Por mais que se esforce, não se consegue convencer a razão daqueles que estudam a questão em apreço, que uma criança não cai ou tropece antes de aprender a andar. O que se vê no caso em comento é que o erro não é inconcebível perante as Leis Divinas, mas tão somente caminho para o acerto, e todos quando erram necessitam exercitar a virtude da humildade reconhecendo a sua pequenez e tendo a coragem para assumir a responsabilidade e reparar os danos.
Inegável que de todo embate surge à experiência, e para que amadureça a boa semente, não se pode permitir o direito de se esquivar dos enganos que devem ser reparados, valendo recordar que os filhos da Providência Divina, sempre terão disponíveis os recursos necessários, ao tatame da existência pela Inteligência Suprema, segundo dispõem a questão 963 de “O Livro dos Espíritos”.
É de bom alvitre parodiar a realidade para anotar que muitos espíritos atravessam séculos entre equívocos e desatinos, cometendo erros e violações contra a Lei Divina, em desprezo as sementes recebidas do Pai Celestial, para plantar no seu jardim da existência, conforme anotado na consciência do infrator consoante dispõe a questão 621 do mesmo “Códex” em estudo. É por isso que, enquanto a reparação não ocorre, o jardim do filho de Deus em desalinho, permanece em desequilíbrio, não obstante incontáveis vezes aparente tranquilidade, sempre experimenta o desconforto íntimo, fobias e bloqueios psicológicos ou uma insaciável sede de paz.
Com a graça do Eterno, sempre soa o instante em que, cansado de fingir e sofrer, os desalinhados se resolvem por enfrentarem a própria realidade íntima, e nesse momento de luz, decidem trabalhar no bem, dando um basta no egoísmo e se interessando pelo cultivo no jardim das provas e expiações, assumindo a sua responsabilidade na sociedade, na família, no trabalho, enfim por onde moureje tratando a terra com o adubo do amor, a si, a família e a vida, bela colorida e consentida. É nesse momento que constata a iluminada e exuberante beleza contida no adágio bíblico ensinando que “O amor cobre a multidão de pecados”.
O “start” ansioso da paz enamora-se da prática das mais sublimes virtudes. A criatura nesse estágio, dotada de todos os talentos que desenvolveu ao longo de sua jornada, torna-se um dedicado agente do progresso. Com esse proceder, repara os erros do passado e se prepara para as etapas superiores da vida imortal. Todos que anelam pela paz, não podem desprezar as sementes recebidas do Senhor do Universo, pois tudo o que delas se fizer, será eternamente responsável, na dialética de Antoine de Saint-Exupéry, “tu serás eternamente responsável por ludo que cativas”.
De posse dessas sementes, cabe aos depositários o dever de utiliza-las no plantio de um mundo melhor, seja na fortuna para gerar empregos, amparar a miséria e secar as lágrimas do mundo inteiro, ou na inteligência que traz a bolota do carvalho com o caráter de melhorar as condições físicas e morais do planeta.
Nesse contexto, cumpre aos viajores cuidarem com zelo e dedicação do jardim da vida, expandindo os frutos da existência com que se foi brindado, seja no uso da palavra para disseminar ideias de solidariedade e pureza, tanto quanto nos círculos em que se movimenta, enaltecendo o trabalho, a honestidade e a compaixão, oferecendo exemplos de conduta reta e digna. Seja pai responsável e amoroso, esposo dedicado e fiel, um patrão justo e bom.
Quaisquer que sejam o seu jardim simbolizado na aptidão, utilize-o para promover o bem. Eles são o resultado das experiências que já se desenvolveu n’alma; constituem recursos de que dispõe para se tornar um homem pleno de paz e bem-estar. É indiscutível que das mãos do Divino Jardineiro, as sementes da vida são dispersas, sempre e sem cessar. O eterno, ao criar seus filhos, lançou-os na terra fecunda de Sua obra, para oportunizar as suas criaturas a serem jardineiros, concedendo um terreno especial, na própria intimidade. Nesse sentido, atentos, contemplemos o horto que há em nossa paisagem interior. Não se olvide de semear as exuberantes flores para nascerem nos jardins de onde se colherá o resultado das boas sementes.
No outro pólo, as ervas daninhas que neles despontam são consequência do descuido e das más escolhas. Um jardineiro atento, continuamente observa a terra que cultiva. Colhe os bons frutos, inebria-se com o doce perfume das flores. É dever de todas as criaturas de plantar as sementes de amor, de perdão, de gratidão, de fé, de gentileza. A terra dos corações é fértil e receptiva às sementes que nela se plantar. Plantando amor, ter-se-á um jardim colorido, vivo, de uma paz sublime e duradoura. Na justiça divina, há a responsabilidade de colher os frutos que livremente se decide semear.
Nesse sentimento d’alma, para que o jardim da vida floresça, há que renascer a cada dia que amanhece; sentir a pureza do amor, purificar os pensamentos com sentimentos nobres logo nas primeiras horas da manhã; substituir o homem velho, retirar-lhe a poeira do tempo, das palavras inadequadas e os rituais ultrapassados, para deixar as flores desabrocharem diante da nova criatura entusiasta pela vida, bela, colorida e consentida; desejar ardentemente que a alma renovada pelo repouso do corpo, desabroche do sono como a rosa do botão, para surgir como a aurora no oceano, ao sorriso dos lábios e no gesto da esperança, para engrinaldar os sentimentos do coração, em renovada festa de encontro com a felicidade dos herdeiros do universo.
Ponto finalizando, com os desejos de que os jardins da vida sejam floridos com a hóstia e o ósculo da fraternidade, enviamos aos amigos fraternos, votos de um bom fim de semana e muita paz.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli –