Ah! Como seria alvissareiro se a trajetória existencial da vida fosse uma belíssima viagem de veraneio. Tudo seria um mar de rosas, onde o perfume haveria de sobressair e seu aroma perfumaria as existências. Não por outra razão, com forte desejo nessa ideia o povo cunhou uma expressão para definir quando os projetos e os sonhos estão em plena realização levando as criaturas aos píncaros a glória.
O belíssimo planeta Terra, destinado às provas e expiações dos filhos do Eterno, pela sua própria natureza, oferece o tatame adequado aos compromissos assumidos pelas criaturas, nada obstante as tempestades da reencarnação que se enfrenta no bom combate, proposta por Paulo Apóstolo em sua primeira epístola aos corintos, ensejou aos viajores o conhecimento de que as criaturas carregam as suas obras nesse trânsito da lei de progresso.
No enfrentamento das adversidades do caminho, os raios caem rasgando o céu e os trovões ressoam sacudindo os suportes daqueles que navegam pelos oceanos bravios da existência em provas. São os ventos que carregam tudo que se lhe opõe à trajetória, como se o céu fosse desabar, diante do seu barulho ensurdecedor. Diante dessas ocorrências, vez que outra o desânimo pode tomar conta do ânimo necessário para a contenda, parecendo à saciedade que nada será capaz de impedir o desastre dos projetos existenciais.
Entretanto, sabe-se que na retórica do eminente espírito benfeitor da humanidade Emmanuel, tudo passa, e ao final das tormentas simbolizadas nos problemas do cotidiano, esses também passarão. Os antigos diziam que as chuvas lavam o céu e a natureza também é capaz de levar os sentimentos que entristecem as pessoas.
Igualmente, nas provas da vida, quando as dificuldades parecem invencíveis e tudo parece desabar sobre a cabeça dos candidatos à felicidade, é a hora de se pôr as virtudes da fé e da esperança de prontidão, porque não foi sem objetivo que o Divino Jardineiro convidou aos viandantes a não turbarem o coração.
De fato, o coração humano vive inquieto e aflito, precisamente porque carece de fé, a virtude que gera e mantém a serenidade de espírito, a segurança inabalável, qualquer que seja a conjuntura em que se encontre o candidato à felicidade. Por essa razão, o médico do corpo e da alma preceitua o remédio que cura todas as tribulações ao convidar os viajantes a acreditar N’ele, quando diz: “Crede em Deus, crede também em mim”.
Crer em Deus é crer na vida, no testemunho positivo, concreto e real do Universo, desse Universo do qual fazemos parte integrante; é crer na infinita criação, nos mundos e nos sóis de todas as grandezas cujo número é incontável; é crer, em suma, nas realidades externas e internas, isto é, na vida que nos cerca e na vida que palpita em nosso eu, onde fala a inteligência, onde se manifesta a vontade, onde vibra o sentimento.
A fé que o Mestre recomenda a seus discípulos é aquela que se funda na aprovação de fatos incontestáveis, visíveis e palpáveis, que afetam os sentidos e a razão, as restritas possibilidades do homem e as imensas possibilidades do espírito.
Essa fé conduz ao caminho da verdadeira vida em expansão infinita. É nessa ilimitada expansão da eterna manifestação, que a vida revela o seu objetivo, para conduzir as criaturas ao Criador, mediante a lei incoercível da evolução. De fato, as tempestades morais são necessárias para o despertar dos filhos de Deus, contribuindo para o crescimento espiritual, conduzindo as criaturas a passarem pelas provas e delas saírem fortalecidos. A natureza se renova constantemente, e os temporais funcionam como limpeza, purificando o ambiente e levando o que precisa ser retirado.
Da mesma forma, as tempestades emocionais ajudam a olhar para dentro, como propôs Carl Gustav Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço que fundou a psicologia analítica, desenvolvendo os conceitos de personalidade extrovertida e introvertida, arquétipo e inconsciente coletivo; o olhar para dentro, detecta sentimentos negativos, vícios e defeitos que devem ser eliminados.
Muitas vezes, as imperfeições estão tão arraigadas que somente um forte temporal poderá retirá-las. À medida em se progride, deixa-se para trás o orgulho, o egoísmo e tudo o que atrasa a evolução dos que estão a caminho do progresso e as tempestades serão cada vez mais amenas, mais breves, menos assustadoras. A fé e o amor ao próximo serão sempre a maior proteção durante as borrascas das provas ou das expiações.
Quando a natureza se manifesta com toda a sua força, faz desabar fortes aguaceiros, ensejando o aprendizado e o exercício da virtude da paciência para esperar o saneamento da atmosfera, para ao depois, recolher-se os frutos, esperando o tempo que cura as feridas d’alma. Não se pode prever o tempo de duração dos vendavais, mas é certo que ele irá passar. As tempestades emocionais são mais destrutivas do que os piores tornados, que põe fim a relacionamentos, desajusta pessoas amadas, abalam amizades, desarmoniza a autoestima, e o único lenitivo é confiança no sentimento Divino que cuida de todos os seus filhos ao teor da questão 963 de “O Livro dos Espíritos”.
Que não se turbe o coração é lição preciosa do Divino Galileu. É dever dos candidatos à felicidade conquistarem a paz, serenidade, firmeza e perseverança, crendo em Deus e no seu mensageiro, através das provas ativas que a vida, bela colorida e consentida, proporciona aos inscritos na universidade da existência.
Com espeque nessa proposta do homem de Nazaré, não será lícito que, no calor das provas, agredir a quem estiver por perto, se agarrando ao desespero, ao inconformismo e à raiva como se fossem filhos rebeldes e apavorados no oceano das provas ante a tempestade, gritando de medo, demonstrando a sua pouca fé.
Sem contradita, um dos grandes desejos dos seres humanos, quando o espírito desperta para a realidade é seguir as pegadas de Jesus. O ser humano quando atinge a idade do entardecer da vida, descobre os verdadeiros valores que merecem sua melhor atenção. Sob outra dicção, as conquistas obtidas sobre as diversas atividades da vida, sejam sentimentais, intelectuais ou nos recursos hauridos pelo nobre esforço do trabalho, tudo, mas tudo mesmo passa a ter outro significado e valoração para os seres humanos cujos cabelos começam a ficar enluarados pelas experiências transatas. Nesse momento, ele "descobre", e melhor avalia as dádivas recebidas do Senhor da Vida, razão porque a família passa a ser vista não como um escolho, mas como uma benção do Pai Celestial.
Os filhos serão tratados com amor fraterno, criaturas que Deus confiou aos nossos bons ofícios. Os amigos adquirem um significado especial na jornada. São pessoas a quem se aprende a admirar fazendo com que a criatura se sinta confortável por saber que a "qualquer momento ou necessidade" se pode contar com eles para o que der e vier.
Por essa razão, em nome da fraternidade universal cultive-se nos jardins das existências os companheiros de viagem, porque o ser humano em evolução se conhece pelos amigos que se consegue angariar na jornada, em detrimento aos inimigos do passado. Nas experiências adquiridas até o anoitecer dessa existência, não se permita turbar os corações em provas, mediante a compreensão das memoráveis lições de vida ofertadas pelo Divino Rabi da Galileia. Assim, o instrumento do perdão, começa a fazer sentido no dia a dia e hora a hora. O amor em plenitude, como Ele fez ao amar incondicionalmente, ensinou que o verbo amar significa libertar e não algemar.
Quem ama compreende e não aprisiona. Virtudes como a tolerância, a paciência, a indulgência e o respeito ao que pertence a outrem passam a fazer parte do protocolo de vida. A alma sedenta de amor pacifica-se quando ao final de um dia bem trabalhado, enfrentando o bom combate com dignidade, ao anoitecer a consciência aplaude os atos praticados.
Nesse estado dalma, o ser humano não carece mais de grandes realizações, quer no plano material, quer no plano espiritual; na verdade atinge o “nirvana” e não se permite mais turbar o coração; passa a inexistir o anseio de estruturar uma obra como a Mansão do Caminho, edificada pelo nobre confrade Divaldo Pereira Franco, pois se compreende que as primeiras pedras também são importantes na construção do futuro edifício do amor. São préstimos que se pode fazer sem nenhum esforço maior, e que é também conhecido pelo nome de caridade, ajudando os caminheiros a conquistar a paz que o espírito deseja com sofreguidão, para pôr em relevo o coração, sem turba-lo do amor na excelência da palavra.
Ponto finalizando, recebam os amigos fraternos, anelando não mais se turbar os corações, o ósculo e a hóstia da bem-aventurança em nome d’aquele que é amor por excelência.
Do amigo de sempre.
JAIME FACIOLI