Não é desconhecido o axioma proposto pelo espírito benfeitor da humanidade Joanna de Ângelis ao asseverar que “Diante das concessões fecundas que lhe chegam todos os dias, o homem somente tem razões para agradecer, jamais para reclamar”. (in vigilância, pág. 31) Todavia, inegável a força dos atavismos que carregamos como fardo pesado do aprendizado pela vida, pretendendo ter tudo do bom e do melhor sem a prática da lei do esforço para se alcançar os propósitos anelados. Em verdade, não é assim que se operacionaliza a dinâmica da vida e o amor é o ícone que dará a direção certa para a elevação espiritual. Bem por isso, diga-se “an passant”, que é preciso primeiro dar para depois receber, tornando-se merecedor do recebimento; sugere-se que ninguém se engane a respeito deste vetusto axioma, pois todo bem que se planta aqui, na lei de ação e reação se recebe o equivalente acolá.
Recomenda a doutrina da boa nova que os filhos da Consciência Cósmica afastem a preguiça da liça existencial, adotando com lhaneza de propósito, o preceito evangélico do dar para receber, conceito constante também da oração de São Francisco de Assis, após decantar em prosas e versos a sua mensagem de amor, declarando que é dando que se recebe consoante a belíssima oração poesia que se transcreve:
Senhor fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver ofensa, que eu leve o perdão; onde houver discórdia, que eu leve a união; onde houver dúvida, que eu leve a fé; onde houver erro, que eu leve a verdade; onde houver desespero, que eu leve a esperança; onde houver tristeza, que eu leve a alegria; onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado. Pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna.
Sob o arrimo desses pensamentos, imagina-se qual será a melhor definição da virtude do desprendimento, do verbo doar, sem preconceito do objeto da doação, da raça, ou da cor, aprofundando o bisturi dos sentimentos d’alma para conduzir a generosidade à plenitude do verdadeiro gesto de nobreza. Oxalá um círculo possa oferecer a dinâmica do dar e receber, porquanto se todas as criaturas de Deus oferecerem suas mãos em fraternidade, umas com as outras, formando um círculo, observar-se-ia que ao se formar uma roda de amor, como hoje se faz nas igrejas, as pessoas dando as mãos para formar uma corrente de amor, às palmas das mãos ao segurarem a mão de outrem que está a sua direita e a sua esquerda de sorte que uma das mãos fica voltada para cima e outra para baixo, sem dúvida concebe-se a plenitude da ideia do dar e do receber.
Indiscutivelmente, o círculo, a roda ou o anel são formas perfeitas, onde dois pontos se encontram formando um elo, uma corrente, uma união, indistintamente, colaborando uns com os outros, ninguém ficando atrás ou na frente. É assim que o círculo simboliza o evangelho do dar e recebe a perene bem-aventurança proposta pelo Divino Galileu para a fraternidade universal, oferecendo com uma das mãos e recebendo com a outra, a proposta do amor, imbatível amor.
Sem contradita, interrompido o fluxo dessas bem-aventuranças, fechando-se uma das mãos, certamente nada mais se receberá da outra. É por isso, que ao se formar um círculo, se deve oferecer as mãos com a palma da mão direita voltada para baixo e a da esquerda voltada para cima, gesto de generosidade e gratidão. A mão direita representa a força, a capacidade de ação no mundo para tornar melhor o orbi onde habitamos e isso, faz os viandantes se sentirem mais fortes e em contradita, os mais fortes podem socorrer os mais fracos, estendendo as mãos como Jesus fez para amparar os caídos pelo caminho, os fracos e os oprimidos.
É de bom alvitre ter-se em mente que a mão esquerda é a mão do coração, representa o lado frágil sendo indispensável todo o apoio dos irmãos de jornada, seja pelas mãos abençoadas, seja pelas palavras dulcificadas ou no abraço de fraternidade da grande família universal, em síntese a maior virtude material ou moral que as criaturas podem oferecer em nome do amor do Divino Jardineiro.
Nessa prédica, não se olvide que há criaturas que sabem dar e receber e outras que recebem sem nada ofertarem; outras sabem dar, mas o orgulho as impedem de receber. Da mesma sorte,
há pessoas que dão esperando receber algo em troca, - são os mercantilistas - como tem pessoas que recebem e nada dão. Por outro, lado há quem nada oferece com medo de dar e lhes faltar o chamado necessário; também é certo que existe criaturas que estão sempre dando e nunca lhes falta nada, e, como milagre da vida, estão sempre em estado de abundância e gratidão, como fez o Cristo de Deus na multiplicação dos pães e dos peixes.
O ponto de equilíbrio entre dar e receber está no amor incondicional. Quando se liga no sublime amor a outro ser humano, algo sutil e precioso acontece e a energia flui intensamente, passando a fazer parte de um só movimento, o movimento da entrega ao fluxo da energia que rege o universo da Potestade. É nesse espeque que se passa a conhecer a medida das coisas, sabendo ouvir as próprias necessidades e as necessidades dos outros, sem contabilizar, sem cobrar de outrem a contribuição. De fato, o gesto de cobrança de um benefício atirado no rosto, não passa de uma ofensa e perde o sentido da caridade.
Em síntese apertada, será nesse instante sublime da elevação da alma que se passa a entender profundamente cada instante de vida e a importância de cada pessoa, assim como são, e nessa fonte se dessedenta os verbos dar e receber. Para consolidar essas reflexões, há uma metáfora que se ajusta a um apólogo sobre um estudante universitário que saiu um dia a dar um passeio com um professor, a quem considerava amigo devido à sua bondade. Enquanto caminhavam, viram na trilha por onde seguiam um par de sapatos velhos e calcularam que pertenciam a um homem que trabalhava no campo ao lado e que estava prestes a terminar o seu dia de trabalho. O aluno disse ao professor: Vamos fazer-lhe uma brincadeira. Vamos esconder-lhe os sapatos e escondemo-nos atrás dos arbustos para ver a sua cara quando não os encontrar. Meu querido amigo, disse o bondoso professor, nunca se deve divertir à custa dos outros, muito menos dos pobres. Tu és rico e podes dar uma alegria a este homem que Deus colocou em nossos caminhos.
Aproveitemos sua ideia e coloquemos uma moeda em cada pé de sapato e depois escondamo-nos para ver a reação do camponês quando os encontrar. Feito isso, todos se esconderam no meio dos arbustos aguardando os acontecimentos. O pobre homem terminou as suas tarefas diárias e caminhou até aos sapatos rotos para calça-los e para voltar para sua modesta casa. Ao chegar junto dos sapatos deslizou o pé no sapato, mas sentiu algo dentro deste. Baixou-se para ver o que era e encontrou a moeda. Pasmado perguntou-se o que havia acontecido. Olhou a moeda e voltou a olhá-la. Olhou à sua volta, para todos os lados, mas não via nada nem ninguém. Guardou-a no seu bolso e foi calçar o outro pé de sapato.
Sua surpresa foi ainda maior quando encontrou a outra moeda. Oh! Meu bom Deus. Seus sentimentos derramavam lágrimas em abundância, quando pondo-se de joelhos, levantou os olhos ao céu, e em voz alta fez um sentido agradecimento, falando de sua esposa doente e sem ajuda, e de seus filhos que não tinham pão, mas, agora devido a mãos generosas e desconhecida não morreriam de fome. Obrigado Senhor. Tua misericórdia não tem limite. Abençoe àqueles que souberam a quem dar em nome de Jesus.
Os que assistiam a cena ficaram profundamente emocionados e os olhos cheios de lágrimas. Agora, disse o professor, não está mais satisfeito com esta brincadeira? O jovem respondeu: oh! Professor, ensinaste-me preciosa lição. Agora entendo o que não entendia: É melhor dar que receber.
Em síntese apertada, no jardim da vida se colhe os frutos da semeadoura. É dever de todos semear boas sementes não olvidando de regá-las com amor para apurar as mais belas flores. Nesse sentido, no percurso do dia a dia e hora a hora, cada ato, cada palavra, cada sorriso e cada olhar sereno oferece o fruto do poder sedutor para bem-aventurança.
A força desses pensamentos cai no território dos corações humanos germinando em nome do amor, e o amor em plenitude com as palavras dulcificadas desfaz os espinhos das amarguras, transformando os calhaus do caminho em trigo que alimenta os espíritos para a grande jornada pelos túneis do tempo até os páramos celestiais.
Com esses sentimentos d’alma, segue o ósculo depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando tenham os amigos de todo o sempre, um final de semana de muita paz em nome do Divino Pastor.
Do amigo Fraterno de sempre.
- Jaime Facioli -