SAUDADES ... SAUDADES ... E O AMOR PERENE...
Estamos revivendo, em razão da proximidade do dia de finados, nossos entes queridos que partiram desse plano para os esplendores celestes, comovendo os corações entibiados pelas saudades daqueles que realizaram a grande viagem. No Evangelho do Mestre Jesus, entre todas as luzes rutilantes, há um tema em particular que toca o mais profundo sentimento d’alma, facultando uma avaliação serena sobre os projetos de vida, que tem o perfume da sabedoria, haurido na herança do passado, para projetar os filhos de Deus ao castelo do futuro, tornando-os mais receptíveis, a cada dia que passa, nas experiências vividas e na valoração da vida, que é bela, colorida e consentida.
Nesse sentido, há que se refletir sobre as existências e sobre as lições inscritas no evangelho redivivo do Divino Rabi da Galileia, para que se possa cumprir retamente com os deveres filiais de honrar o pai e a mãe, enquanto ao nosso lado fisicamente, a fim de que, quando a saudade tomar conta dos corações, entibiando-os, se estejam prontos para reviver o amor que eles dedicaram aos corações alegre pelos momentos vividos em sua intimidade.
A maioria dos viajantes pelo planeta Terra, certamente está sendo fidedigna com os pais. São atenciosos; cuidam deles com desvelo; curtem sua presença e tudo fazem para estarem ao lado deles, nem que seja por pouco tempo, no dia a dia e hora-a-hora. Mas, não menos verdade é que: Há filhos que quando os pais envelhecem, colocam-no nos asilos, pois lá é que é lugar de velhos, dizem.
Esquecem que enquanto "maduros" deixam que eles cuidem do crescimento e criem os netos, tomem conta da cozinha da casa, proporcionem bem-estar aos compromissos dos filhos e quando os “velhos” estão no estertorar das forças físicas, fenômeno natural pela diminuição do tônus vital que receberam ao nascerem, agora, enfrentam as dificuldades e as incompreensões com alta dose de impaciência de seus herdeiros.
Entre essas criaturas, há aqueles que dizem: “Oh! Pai. Oh! Mãe, já ouvimos dezenas de vezes a mesma história”; “Já contaram essa narrativa tantas vezes que já sei de cor e salteado” Não imaginam eles que prazer dá aos anciões falarem de suas infâncias. Relembrarem seus rostinhos infantis pedindo carinho e tolerância. Em verdade como se diz no vetusto axioma, não saiam do "rabo" da calça ou da saia. Aonde os pais íam eles iam juntos. Que alegria.
Por essa razão repetem incontáveis vezes as histórias que eles não compreendem que os corações necessitam, quando se vive a despedida física a cada dia, a cada hora, a cada minuto, e os pais sabem que não fazem por mal, mas geralmente não tem paciência necessária para esses momentos do anoitecer das provas. Os filhos na consciência do sono demoram para despertar para a realidade. Não notam que os "velhos" estão ficando cada dia mais “velho” e sem que se apercebam, vão involuntariamente exigindo mais e mais deles, sem notar que suas forças estão exaurindo-se.
A pretexto de se escusar, falam: “Ah! Eles adoram cuidar das crianças”. É verdade. Mas não é justo; saem para as atividades sociais, ao teatro, ao cinema, ao passeio e deixam os filhos com os “velhos”. A responsabilidade é nossa. A deles eles já fizeram conosco. Agora é hora de aliviar-lhes a carga. Dar-lhes carinho, atenção e amor. Deixar que eles curtam os netos, a vida, estarem com eles; ser tolerante quando eles repetem a mesma história, ter paciência quando eles não querem comer ou sentem-se deprimidos, as vezes até mesmo sem vontade de cuidar da higiene pessoal, enfim, aliviar os seus encargos da responsabilidade do lar. Fazer um pouco por eles, o que eles fizeram por nós.
Sem dúvida, cada um deve fazer a sua parte. Eles já fizeram a deles. Quantas vezes esquecemo-nos de fazer-lhe uma blandícia. Quantas outras vezes, preocupados com nossos afazeres, olvidamos de levar a eles uma xícara de café ou um suco e dizer-lhe: Oh! Pai, Oh! Mãe, quero ter o prazer e alegria de servi-lo, ou servi-la, não importa que em casa se tenha fâmulos, nossa colaboradora no lar.
Esses gestos amigos é que fazem a vida ser bela e colorida, dando-nos no futuro nos momentos de dor, a satisfação do reto dever cumprido. Não é difícil. É questão criar hábito. Criamos hábito de fumar, de beber, de falar mal dos outros, por que não criarmos hábitos saudáveis? Sabemos que somos arquitetos do futuro e herdeiros de nosso passado. Todo bem que se fizer hoje, advogará no amanhã ao benfeitor.
Nessa reflexão, não será reprovável asseverar que, tem filhos que preferem a companhia dos amigos. Não que se deva abandonar os amigos, que são indispensáveis em suas vidas para vivenciarem a fraternidade, mas devem medir o tempo administrando seus afazeres para não deixarem os "velhos" sem o seu carinho e sem a sua atenção. É preciso despertarem para a realidade, pois levar flores numa sepultura vazia não tem o mesmo sabor de haurir o amor vivido e manutenindo de "nossos velhos" em nossos corações.
É assim, não se percebe que os pais envelhecem, e quando chega esse momento, é importante que se tenha vivido intensamente as suas presenças, dedicando-lhe todo o nosso amor, toda a nossa atenção, evitando de dizer-lhe: “Meu pai não é o mesmo”, pois, nessas ocasiões tem que exercitar a virtude da paciência e compreender que de vez em quando eles não conseguem amarrar mais os sapatos, derrubam comida como se a nos provocar a lembrança das horas que eles passaram conosco ensinando as tarefas da vida ou até mesmo dando nó em nossa gravata.
Deve-se conceder a eles a carta de alforria para que eles possam repetir as suas histórias que tanto falam aos seus corações, declamando suas aventuras, suas proezas e suas ousadias. Embora se saiba o final da história, não interrompa e escute, pois, quando éramos pequenos eles tinham que contar e repetir dezenas de vezes a mesma história para que pudéssemos adormecer. Não se envergonhe deles. Eles nunca se envergonharam de seus filhos. Quando perceber que eles parecem inúteis e ignorantes diante da tecnologia, do telefone celular, da informática, não fiquem nervosos. Dê a eles todo o tempo que seja necessário e não coloquem novos acúleos em suas vidas, pois suas vistas já não são as mesmas e eles têm que buscarem os óculos e mesmo assim, não conseguem acompanhar a rapidez dos avanços tecnológicos.
Os herdeiros também não sabiam nada quando aqui chegaram. Foram os “velhos” que providenciaram tudo que necessitamos. Tiveram paciência para dar e vender. Deram-nos a melhor escola. A melhor faculdade. Noites mal dormidas e nem por isso reclamaram do tempo que levamos para apreender. Honre seu pai e sua mãe.
A proposta é evangélica. Essa postura atende aos anelos de amor do Mestre Jesus. Por isso, recordar que foram eles que nos ensinaram a comer, a nos portarmos na mesa, como nos vestir, como escolher a melhor roupa, como enfrentar a vida. Tudo que fazemos hoje é resultado do esforço e da perseverança que eles tiveram conosco. Assim, quando estivermos conversando e eles disserem, mas, o que eu estava mesmo falando? Vamos ter tolerância e auxiliá-los a se lembrarem do fio da meada para que eles possam progredir ao invés de atirar-lhes a pecha de que eles estão ficando "gagá".
E quando suas pernas falharem por estarem já cansadas e não conseguirem mais se equilibrar, com ternura, dá-lhe tua mão, teu ombro e os aparem, apoie como eles fizeram conosco quando crianças começamos a gatinhar, a caminhar, a andar nas perninhas frágeis e ainda sem resistência.
Se a casa mental deles enfraquecer, lembre-se de lhes dar o apoio espiritual, nas lições do Mestre Jesus, inscrita no evangelho redivivo do Divino Rabi da Galileia, pois nesse vade mecum contém o néctar da vida, a seiva que salva e o bálsamo que cura todas as feridas, pois a morte não é a morte é apenas a porta da vida.
Não vamos nos compadecer e olha-los com cara de dó e piedade. Vamos ofertar apenas o nosso amor e nosso coração para que eles compreendam e nos apoiem como quando necessitamos de outro tanto na infância, dando-nos coragem e forças para a caminhada existencial, pois da mesma maneira que eles nos acompanharam no início de nossa jornada eles nos pedem em verdade que os auxiliemos a terminarem a tarefa deles pelo reto dever cumprido e eles nos devolverão em lágrimas de gratidão, os sorrisos repletos de amor que sempre nutriram por nós, pois segundo Joanna de Ângelis, in vigilância pg. 31, “Diante das concessões fecundas que lhe chegam todos os dias, o homem somente tem razões para agradecer, jamais para reclamar”.
Com fulcro nesses pensamentos desejamos aos amigos dos dois planos da vida, que recebam a homenagem em memória e na lembrança daqueles que já partiram na grande viagem e aqueloutros que ainda tem a alegria de cultivar como Voyage do amor, o amor em plenitude.
Do amigo fraterno de sempre.
- Jaime Facioli -