A CRENÇA NA PREDESTINAÇÃO.
Uma das questões que assombram a consciência dos que têm sede de conhecimento, é saber se a predestinação existe; em outras palavras, se existem seres predestinados, criaturas da Potestade com destino final ao céu ou inferno; será que estão previamente programados os cataclismas, as tempestades, os tsunamis, a queda de aeronaves, ou as ocorrências de acidentes de todo jaez na vida dos viajores em trânsito pelo planeta Terra?
Com fulcro no axioma do pensador Voltaire ao estabelecer o que a paráfrase retrata nessa oportunidade, é possível não se concordar com uma só palavra que for dita, mas deve se respeitar o direito de se expressar as convicções até a morte; com esse sentimento anote-se sobre o tema em exame, que pesa acima de tudo a verdade de que a predestinação não existe. É importante registrar, ainda, que existe uma minoria daqueles que vestem a toga de agnósticos, ou acreditam na predestinação, mas acima de tudo reina a verdade de que na visão cristã não existe a predestinação, e os filhos do Eterno não foram por suas mãos criados para o destino final do céu ou inferno.
Aceitar a premissa adrede de planejamento, será admitir que os filhos do Senhor do Universo estão previamente acertados para serem ricos ou pobres, preto, branco, deficiente ou sadio; ora esse proceder deixaria reduzido ao niilismo o instrumento precioso do livre arbítrio, concedido pelo Senhor do Universo aos seus filhos, para as escolhas dos viajantes da felicidade em direção ao progresso e a elevação espiritual. In Veritas, não há céu e nem inferno, não se recebe prêmio ou castigo, mas assume-se responsabilidade diante dos atos, das ocorrências ou das situações aprazíveis ou desagradáveis das quais são autores os inscritos na universidade das provas e expiações, razão porque há que se respeitar o resultado dos atos praticados, e, quando desatendidos os ditames da Lei Divina, devem reequilibrar as violações cometidas contra o Universo da Divindade.
Em exame perfunctório da Bíblia, não se encontram fundamentos objetivos para se sustentar a crença do anunciado céu ou inferno, nada obstante saiba-se que a reforma da Igreja, nos idos tempos, sobretudo com Martinho Lutero e Calvino, possibilitaram a expansão do pensamento sobre a existência de pessoas predestinadas à salvação e outras predestinadas ao inferno. Nesse sentido, cabe também anotar que a doutrina protestante teve o mérito de chamar a atenção para o exagero que se cometia naquela oportunidade, no sentido de que tudo era mérito das pessoas, o que em verdade não era bem assim.
Entretanto, foi graças à luz produzida pela reforma protestante dantanho, e os estudos sobre o tema sub oculis, que houve espaço para os estudos desses acontecimentos, e por consequência do livre arbítrio, diante da serena compreensão da responsabilidade personalíssima de cada uma das criaturas perante as livres escolhas, libertando-se os pesados grilhões do passado remoto, onde os sonhos não realizados eram castigos do Criador, e as conquistas o prêmio dos vencedores, nada restando à livre escolha.
Objetivando aclarar o tema em sua essência, não será reprochável servir-se de um conceito teológico a respeito do tema em apreço. Ao se programar uma viagem de qualquer natureza, pode-se pretender que o ponto de chegada seja o do Rio de Janeiro; portanto, em tese, o destino traçado será o do Estado da Guanabara. Esse projeto, entretanto, pode ser alterado, seja porque se decidiu retornar, seja porque se recebeu uma notícia que o impedia de prosseguir a viagem em razão de um acidente logo à frente, ou mesmo a chegada de uma comunicação de um parente que partiu na grande viagem; ora, essas circunstâncias alteram completamente o roteiro programado.
Nesse sentido, são incontáveis as possibilidades que podem afastar o viajante do seu destino, mas a escolha será sempre da criatura e os resultados também de sua lavra. Assim também se vê os esclarecimentos de Paulo, o apóstolo aos coríntios, na paráfrase em que os homens carregam consigo o resultado de seus atos. Seguramente por isso, se dizer que na grande viagem de provas e expiações, os filhos da Potestade, aqueles que em tudo veem a mão de Deus, são capazes de colocar todas as coisas nas mãos do Criador.
Sob o fluxo dessas reflexões, a vida dos cristãos é similar. Não há um destino previamente traçado, senão nas linhas centrais, escolhas dos próprios viajantes em busca da felicidade. Em verdade, melhor empregada a palavra será a da destinação, e, não destino, uma metáfora, como sintetizado por Santo Agostinho: ’o nosso coração não repousa enquanto não encontrar o Senhor’.
Sabe-se que não é certeza absoluta que todos cheguem à meta traçada, máxime porque tudo dependerá das escolhas que se faz nos caminhos das pedras, acúleos e abrolhos; de qualquer sorte, ao teor da questão nº 963 de ’O Livro dos Espíritos’, consta que o Pai cuida de todas as suas criaturas’, e, assim sempre as acompanha iluminando as mentes dos espíritos para optarem pela correta direção até aos esplendores celestes. Em síntese apertada, é crível não se admitir o ‘destino’ como fatalidade, previamente estabelecida pelo Senhor do Universo, caso em que suas criaturas não seriam mais do que uma marionete, sem vontade própria, vivendo uma fatalidade inadmissível. Em verdade, tratam-se de opções que as criaturas fazem, para se colocarem em direção ao seu aperfeiçoamento moral, escolhendo a porta estreita proposta por Jesus de Nazaré, de tal sorte que a única fatalidade que o bom senso admite é que cedo ou tarde todos chegarão aos páramos Celestiais.
Ponto finalizando, não se imagine que a culpa ou as fatalidades sejam sempre obras do destino. Não. Repita-se uma vez mais, não estão essas ocorrências previamente estabelecidas pelo Senhor do Universo ou pelos astros, decifráveis através dos jogos de búzios ou pelo tarô; e, com isso, desprezando-se a vontade dos filhos da Inteligência Suprema Causa primeira de Todas as Coisas, porque em verdade a predestinação não existe, e, oportunizando o momento vale recordar as lições do Messias ao dizer que os filhos do Altíssimo são Deuses.
Assim, em qualquer circunstância de tempo ou lugar, em claro céu ou sombrio firmamento, na saúde ou na doença, na realização ou na queda, no poder ou na dependência entre amigos ou adversários para a tua plenitude e perfeita paz, é oportuno reconhecer que essas ocorrências não foram previamente programadas.
Na realidade, as situações sempre oferecem o ensejo para carregar no coração a certeza de que como filho do Eterno, são Deuses e podem escolher as suas obras para colherem os frutos de seu plantio, preferencialmente amando muito mais e distendendo sempre mais amor em todas as circunstâncias, porquanto só o amor tem a substância essencial para traduzir a realidade do Pai Celestial nas vidas de suas criaturas.
Com esses sentimentos d’alma, segue o ósculo depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando tenham os amigos de todo o sempre, um final de semana de muita paz em nome do Divino Pastor.