A virtude da Bondade.
A utilização da palavra bondade, na gramática da terra natal, pátria amada Brasil, é um termo substantivo abstrato, que se consubstancia na característica daquele que tem inclinação para o bem, qualidade das pessoas vocacionadas à prática das boas ações; atende aos ditames colhidos nos jardins dos corações inclinados ao bem proceder, ou sob outra dicção, tem origem no latim ‘bonidate’, significando a qualidade de quem tem boa índole, é benevolente e amável, procurando ajudar aos irmãos de caminhada na realização das provas e das expiações.
Sob a luz desse proêmio, assevera-se que a bondade é uma virtude decorrente do amor em plenitude, ínsito nas profundezas d’alma nas criaturas do Eterno, porquanto é certo que o Senhor do Universo, onipotente, onisciente e onipresente, não criou seus filhos para o destino do desterro, mas, ao contrário, para a morada celestial, segundo bem se vê no alfarrábio da lavra de Leon Denis, ‘O problema do ser, do destino e da dor’.
Desse modo, não obstante ouvir-se alhures e algures, vozes que se emulam para expressarem impropérios, dizendo que o mundo está perdido, fazendo ouvidos moucos às lições iluminativas de Joana de Ângelis, ao esclarecer à saciedade, que diante das fecundas concessões que chegam todos os dias a mancheias, aos viajores da felicidade, as criaturas humanas somente têm razão para agradecer, jamais reclamar; por isso assevera-se aos se deixam levar pela ignomínia, que a verdade é bem outra; o mundo vai muito bem obrigado; prepara-se os corações de bondade para a grande viagem de transição para o planeta de regeneração.
Sob esse ideário, a pena desse apólogo pede licença para utilizar-se das lições inscritas no santuário da existência, relatando ao sabor da emoção um acontecimento da liça das experiências onde a bondade se fez presente em plenitude, data venia, alargando a narrativa, para dizer que certa feita, um rapaz estava desempregado, experimentando as agruras dessa prova, como sói acontecer momentaneamente no Brasil, resultando situação de desespero com risco de perecimento da própria existência diante da fome avassaladora de que era portador.
O personagem fora despejado de sua habitação e repousava num arremedo de carro, onde de quando em quando olhava as estrelas do céu infinito; despiciendo dizer que o desempregado não tinha recursos para colocar uma gota de combustível e, com fome avassaladora e sem dinheiro desesperou-se; foi quando sob o manto da noite fria, porque o estômago fazia um barulho ensurdecedor reclamando os alimentos indispensáveis a sua sobrevivência, ele se resolveu por entrar em uma lanchonete próxima onde se encontrava ao relento para saciar a fome que o enlouquecia.
Oh! Meu Deus. Como não sabia quando seria sua próxima refeição, comeu até se empanturrar e quando chegou a hora da verdade, pagar a conta, mentiu dizendo que tinha perdido sua carteira, subterfugio de que se utilizam as pessoas em desespero de causa; para dar ares de veracidade a sua encenação, fez um barulho enorme, começando por olhar para todos os lugares, literalmente virando a lanchonete de cabeça para baixo a procura da carteira imaginária e perdida ao que insinuava poderia ter sido ali mesmo naquele logradouro.
Ora vejam! De trás do balcão o cozinheiro, dono do lugar a tudo observava com olhar daqueles que se esforçam para ter puro o coração, saiu e foi até onde estava o rapaz no seu teatro das provas, abaixou-se, fingiu apanhar alguma coisa no chão e sem que ninguém percebesse entregou ao artista que representava a trágica cena naquele momento, o objeto tão procurado. Pasmem-se. Era uma nota de cem reais e disse ao artista no palco da vida. ‘Acho que você deixou cair quando entrou’. O artista da cena cujo nome era Danilo, ficou confuso, mas agradecido a Deus, pagou a conta e saiu rapidinho do palco sob os aplausos das bem-aventuranças.
Ocorreu, todavia, que a consciência, onde estão depositadas as Leis da Potestade, como um estilete o provocou e logo ele pensou de si, para consigo mesmo: ‘Meu Deus, e se o dono do dinheiro aparecer’?; logo em sua mente criou-se um doesto e ele se perguntava enquanto caminhava pela via pública em descompasso com o reto proceder, quando inspirado pelo seu anjo da guarda, se deu conta de que na verdade, o dono da lanchonete bem poderia ter fingido ter achado o dinheiro e o socorrido em sua angústia.
Por conta desse pensamento sereno, consciente de que o Eterno não abandona nenhum de seus filhos, com o troco do ‘achado’ acabou por colocar gasolina em seu ‘carro’ e rodou para outra cidade; enquanto rodava, fervorosamente agradeceu a Deus o gesto de bondade daquele desconhecido que cumpria a missão de anjo protetor, sem ultrajar o necessitado, autêntica caridade; bem por isso, prometeu a si mesmo que tão logo sua vida melhorasse, ele faria aos outros o que aquele homem bondoso fizera por ele, nas agruras pela qual experimentara.
O tempo é como o vento, ninguém sabe de onde vem ou para onde vai, e assim os acontecimentos foram se desdobrando, como afirma o poeta pátrio Carlos Drummond de Andrade, ao estabelecer que a vida é uma sucessão de acontecimentos; destarte, assim se passaram as tristezas e as necessidades que pareciam sem fim. Os acontecimentos foram se sucedendo diante do quadro das provas, e ele teve fracassos, sucessos, reveses, alegrias e tristezas, até que afinal, as dores da pobreza foram vencidas e as tempestades deram lugar a calmaria, despertando em Danilo, o momento para cumprir-se a promessa que fizera nos tempos das vacas magras, honrando destarte a promessa do pretérito, naquela noite escura de inverno.
Com essa retórica, a fonte cristalina que corre nos corações dos altruístas, encontram água diáfana do quanto se segue na Redação do Momento Espírita, de 23.7.2019 com base no cap. O princípio do altruísmo, do livro ’Muito além da coragem’, de Chris Bengue, ed. Butterfly, esclarecendo aos profitentes da virtude da bondade que os acontecimentos ocorridos na vida de Danilo no cumprimento de sua lhanoza promessa se sucederam da seguinte maneira:
Nos anos que se seguiram, Danilo iniciou sua jornada de doações; desejava doar atento à lição evangélica da mão esquerda não mostrar à mão direita o que faz; queria dar, mas não desejava que os beneficiários o agradecessem para não os ultrajar. Iniciou então a sua tarefa de amor por identificar pessoas realmente necessitadas. Desse modo, a família de um garoto de 14 anos que sofria de leucemia quem encontrou uma larga soma de dinheiro, em sua caixa de correio; ao depois, foi a vez de uma viúva, com sete filhos e dois netos, surpreendida com várias notas, colocadas embaixo de sua porta; oh! Meu Deus. Um jovem que precisava de um transplante de pulmão, respirou aliviado quando em sua conta apareceu a expressiva soma que precisava para a cirurgia que mais não podia esperar.
Sim. Danilo pagou aluguel, prestações de carro, contas de mercado, sempre sem aviso e sem ficar por perto para receber elogios; sua alegria era a expressão no rosto dos beneficiados; feliz pela bondade que despertava em seu coração em nome do amor, sentia agora que faltava agradecer a quem o socorrera nos idos tempos da escassez; procurou pelo dono da lanchonete por longo tempo, mas o logradouro do episódio transato ficara na poeira dos tempos remotos e há muito estava fechado. Como no passado, estabeleceu uma estratégia no palco da vida, pretextou um encontro com o antigo proprietário dizendo-se historiador que desejava fazer uma matéria sobre pessoas antigas da localidade.
Sabendo que o seu benfeitor do passado vivia em estado de necessidade, chegou carregado presentes e uma grande quantia em dinheiro e foi logo dizendo: ‘Eu sou aquela pessoa a quem o senhor ajudou há 29 anos atrás; o senhor mudou a minha vida, naquela noite’. O ancião, ex-dono da lanchonete, encontrava-se aposentado, e com as forças combalidas aos 81 anos de idade, chorou compulsivamente, porque sua esposa estava doente, lutando contra o câncer e o mal de Alzheimer era sua companhia; ademais, estava atolado em contas hospitalares. Na sua fé, os recursos que lhe chegaram a mancheias foram mandados por Deus, enquanto para Danilo, tratava-se de um simples gesto de gratidão, sob a bandeira de Jesus, fazer ao próximo tudo o que deseja para si, lição da virtude da bondade, porque todo bem que se faz nessas provas advoga a favor do benfeitor no futuro próximo ou distante, diante da plantação de amor onde se colhe a felicidade.
Nesse sentimento d’alma, é crível asseverar que as criaturas foram criadas para amar, importar-se com o seu próximo para o caminho da felicidade, de tal sorte que nos pequenos ofícios encontram-se os exemplos, ao se segurar uma porta para a pessoa que vem na retaguarda, ou se oferecer uma guloseima repartindo-a com o pessoal por onde se moureja é motivo para se respirar fundo e sentir o aroma da bondade, porque a bondade é componente intrínseco da lei de amor, e Jesus ensinou: ’amar ao próximo como eu tenho vos amado’.
Com esses sentimentos d’alma, segue o ósculo depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando tenham os amigos de todo o sempre, um final de semana repleta de bondade e de muita paz em nome do Divino Pastor.