O NASCIMENTO DO AMOR.
Há, na história da humanidade, uma questão que os filhos de Deus procuram com sofreguidão resolverem, ou sob outra dicção, seria possível se saber quem inventou o amor e para que serve a virtude de amar, cantado em prosas e versos, desde os primórdios dos tempos, até se perder na poeira do tempo em busca da gênese do amor.
Quando as criaturas anseiam por dessedentar a sede de conhecimento sobre a excelência do amor, buscam com sofreguidão entenderem o significado desse verbo em sua mais pura acepção, uma vez que os profitentes do termo em apreço encontram invariavelmente na palavra amor o símbolo da posse que se tem pelos bens materiais, e ou pelas pessoas, não raras vezes enamorando-se ’perdidamente’.
Nesse ponto, atribui-se ao verbo em apreço declamações e juras de amor, compondo belíssimas poesias para conjugar em todos os tempos, modos e pessoas o verbo amar, apesar de não raras vezes, pasmem-se, chegam ao absurdo de matar o ser ‘querido’, pretextando o ato transloucado, ’que se amor não lhe pertencer, também não será de mais ninguém’.
De fato, estão presentes na sociedade civil organizada os homicídios passionais, aqueles crimes que se comete por paixão, paixão esta, entendida como uma forte emoção, que pode comportar às vezes um sentimento platônico e outras vezes se identifica o ser agressivo, possessivo, dominador, mas jamais o amor verdadeiro, nascido nos recônditos d’alma. A ninguém será lícito justificar-se nesse conceito quando é notório que o amor verdadeiro nasce e significa desalgemar, soltar as amarras, libertar, entregar-se, doar, perdoar, ser indulgente, benevolente, caridoso, tendo como referência do amor na excelência da palavra, tudo, mas absolutamente tudo, o que o Divino Messias ensinou aos seus irmãos menores, bastando uma consulta à boa nova para se ter o arrimo indispensável do bem proceder.
Compreendida a expressão em estudo, como o dever das criaturas diante da existência de provas e expiações, não se justifica o desapreço ao amor, praticando agressões em seu nome, tergiversando o verbo. A experiência tem demonstrado à saciedade que o mau praticado em nome do amor, vestindo-se de vingança com o manto de justiça, é subterfúgio para aplacar a sede de paz e de amor, não faz nenhum sentido, quando a bandeira desfradada no monte gólgota pelo Divino Jardineiro, estabeleceu a virtude do perdão como lenitivo para as dores físicas e das almas.
Oh! Meu Deus. Será possível que no alvorecer do mundo de regeneração, os candidatos à felicidade ainda não compreenderam que sem a bandeira branca, hasteada por Jesus de Nazaré, não haverá o amor pleno; da mesma forma não será reprochável asseverar que tanto no plano material, como no mundo espiritual, grande quantidade de Espíritos equivocadamente ainda se enraízam no ódio, na revanche, na raiva, na indignação e na mágoa, crentes de ser o revide a solução que irá lhes acalmar o íntimo desequilibrado.
Não. Isso não é a verdade. É a face do amor que é o lenitivo, único e eficaz para curar todas as dores do mundo; bem por isso, exorta o Messias a irem até ele, em Mateus 11,28-30: ao declamar a eterna poesia do amor, sublime amor, único e autêntico remédio para as dores do mundo, curando o ódio e a vingança, ao poetizar para os viandantes cansados dizendo:
‘Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve. ‘
Sim. Sem dúvida o caminho é a prédica do Homem de Nazaré. As lições do sermão da Montanha, em todo o esplendor das bem-aventuranças, não deixam dúvida sobre a estrada a ser seguida, sem ódio e sem revanche, razão porque Mohandas Karamchand Gandhi exarou seus sentimentos sobre os conceitos do cristianismo dizendo que: ’se toda a literatura ocidental de perdesse e restasse apenas o Sermão da Montanha, nada se teria perdido’.
Com efeito, o Cristo de Deus, subiu num monte e sentando-se aproximaram-se dele os discípulos e Ele disse: ’Bem-aventurados os pobres de espíritos porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram e sofrem, porque serão consolados; bem-aventurados os mansos e pacíficos, porque eles herdarão a terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de Justiça, porque encontrarão a Justiça; bem-aventurados os misericordiosos, porque encontrarão a Misericórdia; bem-aventurados os puros de coração, porque verão a face de Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da Justiça, porque deles é o Reino dos Céus; bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem, perseguirem e mentirem, dizendo todo mal contra vós por minha causa.’
Nesse sentido, ainda que seja difícil aprofundar o bisturi da compreensão sobre a origem do amor, não há dúvida de que é ele que faz morada nos espíritos afetuosos, principalmente quando se exercita o perdão e a compreensão, para albergar o amor por excelência nos corações, perdoando sempre. Dessa maneira, é o nascimento da face do amor chamada para fazer frente ao ódio; será a face dos braços abertos que aceita, frente à intolerância que repudia; também será a face da caridade que constrói frente às bombas que despedaçam; da mesma sorte será a face do amor que jamais se entrega a indiferença, antes a ação inteligente no bem, pois se o mal é ardiloso, perspicaz, sorrateiro, o bem é articulado, amoroso e vigilante.
Desse modo, quando se é atacado, ofendido, enganado ou iludido, em nome do amor, será de bom alvitre apresentar uma face diferente daquela que feriu os mais puros ideais, porquanto o ódio e a violência podem persistir por um tempo, mas não resistem ao poder absoluto e superior da gênese do amor.
Parafraseando o Divino Mestre, a caridade é luz no caminho, e não obstante os acúleos e abrolhos da estrada, Jesus asseverou que ’No mundo tereis aflições’ e que a estrada das provas e expiações foi muito difícil para os apóstolos e os discípulos do Senhor, especialmente para o Cordeiro de Deus, pois todos padeceram agruras, e aflições, e sem exceção foram perseguidos, mas em suas advertências está nas palavras que não se calam, mostrando a face do amor. ’Esforça-te e tem bom ânimo’. ‘Eu venci o mundo’.
Com esses considerandos, é crível esclarecer a origem do amor, seu autor e seu propósito, seja o amor de pai, de mãe, de filho ou de um amigo, pois o amor tem inúmeras maneiras de se expressar, e todos os viajantes da felicidade, de alguma forma o sentem, oferece e recebe. Sua ventura foi concedida pelo Eterno, ínsito nas almas no momento da criação pelas mãos generosas do Pai Celestial, e o exercício dessa virtude é opção que se faz pelo treinamento do livre arbítrio, porquanto não há sentimento que habite a alma que não seja fruto do esforço e aprendizado pessoal.
Ipso Facto, pode se dizer que o amor está nas criaturas da Potestade, a semelhança da árvore que se encontra na semente; a semente, sem ser provocada, estimulada, sem ambiente propício, será apenas semente. No entanto, ser semente não tira dela a capacidade de se tornar arbusto e depois, árvore majestosa; reside no seu imo, esperando ser despertada pelo solo fértil, pelo sol que a fortalece, e pelo adubo que a alimenta. Da mesma sorte, o amor também é assim, porque em cada criatura, há em sua natureza, imensa capacidade de nascer e de despertar o amor. Diz por isso, que ao se ver uma simples bolota do carvalho, difícil se entender, a semelhança do nascimento do amor, que dali surgirá a árvore frondosa, sólida, de profundas raízes. De igual forma, os filhos do Eterno, trazem em sua intimidade o potencial de amar.
Inegável que para que cresça, o necessário estímulo, a vontade de querer. É cogente que se tenha o propósito de aprender a amar aquilo ou aqueles que ainda não se ama no semelhante; para esse mister, tem-se que ter claro que amar é como o sereno que cai de mansinho, devagar vai se aprofundando até a umedecer o solo fértil numa explosão, porque será nesse momento que se exercitará o amor em forma de paciência; será, pois, quando se faz silêncio perante alguém em profunda irritação, porquanto esse proceder é amar, na modalidade do amor compreensão; quando perante alguém em dificuldade, se é capaz de parar os afazeres para estender a mão, exercita-se o amor solidariedade.
Desse modo, a proposta de Jesus de amar aos inimigos, fazer o bem a quem se odeia e orar por quem nos persegue, tem esse viés; trata-se do ’carpe diem’ diante de um desafio de aprender a amar mais, de estender o sentimento em campos ainda não experimentados, aprofundando as raízes da semente que recém desabrochou, conscientes de que o amor é a essência da natureza, quanto mais se expressa, quanto mais se oferece essa dádiva, maior será a felicidade, a alegria e o bem-estar.
Argamassando a retórica em apreço, anote-se que o amor é a escolha do caminho, exercício do livre arbítrio, na opção para viver deixando pegadas luminosas na passagem por onde se transita, como as estrelas que apontam o rumo da felicidade, pois esse proceder é a opção segura para os que se esforçam para ter puro o coração, não desperdiçando o tempo na ociosidade e ou nas filosofias em descompasso com os sentimentos d’alma.
Com essas reflexões, anelando votos de que o amor em plenitude seja descoberto e fortificado nos corações em provas e expiações, segue o ósculo depositado em seus sentimentos em nome da oblata da fraternidade, desejando o exercício do verbo amar agora e para sempre.