A INTERPRETAÇÃO DAS LEIS DE AÇÃO E REAÇÃO COM A LEI DE CAUSA E EFEITO.
A doutrina espírita é rica nas explicações das leis em exame, ainda que incontáveis vezes, os profitentes utilizem da mesma definição para esclarecer os acontecimentos da existência, face a realidade das ocorrências. Na sabedoria popular se diz que ‘aqui se faz, aqui se paga’, ou que se trata da lei do carma, representando o resultado das atitudes escolhidas pelos transeuntes, ou outros aforismos de igual teor, todos ensejando a contradita porque absolutamente não esclarecem bem à saciedade o ponto fulcral ou o âmago onde se situa a melhor hipótese de diferenciação.
Com a máxima vênia dos estudiosos que consideram ambas as leis como de igual entendimento, respeitada a similitude entre as leis em exame, a verdade é que entre a lei de ação e reação e a lei de causa e efeito, repousa uma análise que melhor se ajusta aos esclarecimentos que se pretende estabelecer, segundo a seguinte reflexão:
A lei de ação e reação, é uma lei da física, conhecida como a terceira lei de Newton, que estabelece a troca de forças que se apresenta sempre em pares, valendo dizer que diante de uma ação ativa há uma reação de igual intensidade. Um exemplo singular: os aficionados do jogo de tênis, ou interessados no assunto em apreço, identificam quando uma bolinha do jogo recebe a impulsão e bate no chamado paredão; ela retorna com igual força e modo, em decorrência da ação que provocou o movimento físico, e os frutos da reação são correspondentes.
Sob outra dicção, a natureza da força de reação e seu resultado é sempre proporcional à ação que foi desencadeada, o que em síntese apertada admite dizer que a lei da física não guarda relação direta com a lei de causa e efeito porque, na primeira, uma vez desferido o movimento não há retorno.
Na segunda, a lei de causa e efeito, sob o pálio dos conceitos espíritas é uma lei de Deus. Na lei de Deus, há sempre a possibilidade de correção de ajuste ou revisão dos atos praticados, resgatando-se os enganos, os desacertos e os desatendimentos à lei soberana. Sob esse arrimo, bem se vê a diferenciação entre as leis em comento. A lei de ação e reação, de natureza física, não modifica a sua gênese, uma vez praticado o ato, ela não sofrerá mais nenhuma consequência.
Na de lei causa e efeito, existe a possibilidade de retificação, de ajuste e de resgate dos atos praticados em desconformidade com o ordenamento divino, possibilitando a retomada do caminho reto, atendendo aos ditames do progresso, como bem se vê na reencarnação que oferece a benção de na gênese do engano cometido, tomar medidas de salvaguarda e correção dos erros praticados, resgatando e reequilibrando as leis do universo de Deus.
Sob esse ideário, a lei de causa e efeito, é sem dúvida uma lei divina que promove o acerto da contabilidade dos atos praticados em função do exercício do livre arbítrio, regulando tudo o que existe no universo. É sob esse prisma que cada criatura se responsabiliza pelos seus acertos e erros, tomando consciência de que seus atos carregam a responsabilidade de suas ações.
Não é fácil elaborar um estudo judicioso do tema, tendo em vista a similitude das expressões. Todavia, não será reprochável dizer que o fenômeno em apreço cuida da liberdade, pérola preciosa que a Divindade presenteou seus filhos, e, por isso, tudo o que se pensa, tudo que se faz determina a consequência da escolha, resultando sem contrariedade ser a lei de justiça que rege a existência das criaturas.
Observando as devidas proporções, examine-se que os animais agem por automatismo, sem realizar escolhas, ou seja, seu comportamento está dentro das reações do automatismo do instinto. No caso do homem, é o princípio espiritual que caminha com a criatura, quando primitiva, desabrocha com a capacidade de escolher, e, uma vez realizada a escolha, pelo exercício do livre arbítrio, o homem se algema nas suas opções, nascendo aí a sua responsabilidade.
Portanto, fazer o bem ou o mal, sempre será escolha dos caminhos a serem percorridos pelos viandantes e terá nessa causa e efeito o fator determinante que registrará o movimento da existência das criaturas em trânsito pelo planeta Terra na universidade da vida.
Em resumo, a lei de ação e reação é uma lei da ciência física, e a lei de causa e efeito é uma lei moral, dando azo à retificação do ato, à elevação espiritual, ao amadurecimento e à evolução da criatura em direção às estrelas, sendo crível dizer que, nesse ponto, apesar da similitude das expressões, uma se diferencia da outra, preponderando na lei física de ação e reação a causalidade, e, na lei moral de causa e efeito há a predominância da Lei Divina.
Sob o foco dessa luz, a lei divina, sem dúvida, permite a reparação do ato praticado, atende ao comando da lei de evolução e permite a escolha e direção a seguir, joia preciosa de opção pelo exercício do livre arbítrio, enquanto a lei da física pode ser considerada como uma fatalidade, uma ocorrência sem retorno, que não permite alternativa, porquanto toda vez que houver a possibilidade de mudança no comportamento, não cabe o fatalismo. Uma vez lançada a flecha, ou disparado o projetil, não haverá retorno.
Aos estudiosos e interessados no tema, seria de bom alvitre a leitura do livro ‘Esculpindo o próprio destino’, pelo Espírito Lucius, psicografia de André Ruiz, com especial atenção ao caso das personagens Leonor e Conceição.
Para amenizar a retórica, lança-se mão de uma pequena história, na esperança de tornar a leitura dulcificada: conta-se que na antiguidade, quando se pretendia matar um urso, pendurava-se uma pesada tora de madeira em cima de uma vasilha com mel. O urso empurrava a tora com força, a fim de afastá-la do mel. A tora voltava e o atingia. O urso ficava irritado, feroz, e empurrava a tora com mais força ainda, e esta o atingia por sua vez com muito mais força até o urso ser morto.
Em reflexão despretensiosa pode-se afirmar que as criaturas desavisadas sobre a importância da compreensão das ocorrências nas provas do aprendizado podem gerar consequências imprevisíveis, máxime porque há viandantes que pagam o mal com o mal, como se não soubessem o correto proceder.
Oh! Meu Deus.
Será que os seres humanos, dotados da inteligência e da liberdade, não podem ser mais sábios do que os ursos? Paremos de empurrar a tora cada vez com mais força, porque já se sabe que ela irá retornar e ferir o seu agente. As leis de Deus, em especial a lei de causa e efeito, revelam a sua marca inconfundível. Todas as ações são causas que irão gerar uma consequência no mundo que se vive e, quando se retribui com voz alterada e raivosa, uma palavra agressiva ferindo a outrem, se está apenas empurrando a tora, e esquecendo do mel.
A metáfora é apropriada. O mel é o entendimento com o outro, a felicidade, a paz que tanto se anela; deixe-se, pois, o procedimento belicoso dantanho, abandonemos a ulceração, as mágoas, os desgostos com que as toras da vida entretêm os descuidados com os valores da terra pelos empurrões da tora, que faz deixar de lado, o mel e a felicidade da vida bela, colorida e consentida.
Que não se engane a rasa filosofia. O objetivo do urso nunca foi o de empurrar a tora. Sua meta é o mel, o alimento. A tora é um obstáculo a contornar, um desafio. Se o animal pudesse raciocinar como o ser humano, com o uso do livre arbítrio, certamente pensaria numa forma de cortar a corda que sustenta a tora, ou por outra, retirar o pote de mel debaixo do agente agressor. Essa é a diferença que se precisa urgentemente dar à vida, as oportunidades para bem proceder na universidade da existência.
A sapiência com as questões do dia a dia e hora a hora, é dever dos candidatos à felicidade, procurando conhecer o problema do ser, do destino e da dor, consoante a literatura de Léon Denis, porque estudando a eternidade d’alma, aprende-se a não retribuir o mal com o mal; buscar compreender o momento do próximo, a dor do outro, a angústia e a infelicidade íntima.
‘In-veritas’, o conhecimento correto sobre as problemáticas da existência, não é conivente com o mal. O saber dá compreensão, tolerância, indulgência. Por esse caminho, bem se vê que a sabedoria adquirida com esforço pessoal, oferece abertura da mente para pensar em outras soluções para resolver as provas existenciais, evitando o retorno da tora ferindo tantas vezes quantas forem necessárias até o resgate do desalinho praticado.
Somente com a sabedoria se consegue eliminar os círculos viciosos nos quais se aprisionam os incautos ao longo dos milênios. Da mesma sorte, somente o conhecimento do bem em ação efetiva irá expulsar do mundo de provas e expiações a guerra, o ódio e a violência, porquanto o ensinamento do amor é soberano: ele mata o mal antes que o mal possa crescer e tornar-se poderoso, segundo as lições de Léon Tolstói, inserto em trechos do livro Pensamentos para uma vida feliz, da ed. Prestígio, colhido na redação do Momento Espírita de 10.01.2017.
Com esses sentimentos d’alma, segue o nosso ósculo depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando tenham os amigos de todo o sempre, um final de semana de muita paz em nome do Divino Pastor.