O EXERCÍCIO DO ALTRUÍSMO.
As lições evangélicas oferecem com segurança o modo de caminhar aos interessados na universidade da vida, para alcançarem a felicidade. O incomparável pedagogo da humanidade, o missionário do amor por excelência, o Homem de Nazaré em suas prédicas teve ocasião de recomendar para brilhar a vossa luz, eis que na qualidade de filhos da Divindade, em essência, suas criaturas são luzes que se devem permitir brilhar essa luz que mostra a gênese da vida; para ligar a tomada que aciona essa luz, o altruísmo é o caminho.
Sob o pálio dessa reflexão, vale recordar episódio colhido no santuário da vida, na Redação do Momento Espírita, com base no artigo de um notável músico, publicado no Boletim semanal Luz do Evangelho, datado de 10.03.2001, com publicação em 12.12.2019, cujo apólogo, fiel em sua essência, ainda que relatado ao sabor da emoção do articulista e na verve da pena que o anota, se diz que:
Luiz Moreau Gottschalk, célebre pianista e compositor, visitando a cidade de Kingston, na Jamaica, entrou em um templo exatamente no momento em que se realizava um culto. O pastor falava a respeito da caridade. Pintava com imagens fortes o estado a que tinham ficado reduzidas algumas famílias de uns pobres náufragos perdidos, naqueles dias, durante uma grande tempestade no mar. O ministro usava toda a sua eloquência para comover o auditório, pedindo contribuições para remediar tanta desgraça.
Oh! Meu Deus. Tratava-se de crianças órfãs, sem alimento; viúvas sem abrigo, mães idosas, sem apoio. O compositor comoveu-se ante a lhaneza da rogativa, acercou-se de um órgão, num dos ângulos do templo, sentou-se e deixou correr as mãos sobre o teclado. Uma melodia de sabor religioso, tênue, triste, apaixonada, que parecia um coro sublime dos anjos, começou a envolver a assembleia.
Doutro lado, a suavidade da composição era de tal magnitude que não impedia que a plateia continuasse a ouvir a voz do pregador que dominado pela inspiração da música, ardorosamente foi tecendo imagens, evocando Jesus e a necessidade de se amar o próximo. Assim, foi que sob a luz do Rabi da Galileia e da suave melodia que o arauto do bem concluiu sua retórica, não sem ficar fascinado, como todos os que ali se encontravam, levados pelas profundas e harmoniosas melodias que nasciam do órgão, mansamente submergindo em notas divinas para terminar a sinfonia celestial.
Foi sob essa forte emoção, que o próprio pianista tomou seu chapéu, nele depositou algumas moedas, percorreu todos os bancos, recebendo da assistência valiosos donativos, de sorte que quando chegou ao último banco, no fundo do templo, viu uma senhora idosa, alquebrada pelos anos, trazia o rosto sulcado por lágrima, o que disparou no musico o coração aos prantos e a se perguntar. Oh! Quem seria? Talvez a mãe de um dos náufragos? Quem sabe outra aflita? Uma viúva sem eira nem beira?
Sua consciência respondeu de imediato; quem quer que seja, era o seu próximo, merecedor de sua atenção, estima e consideração, por isso, sem mais delonga, esvaziou o chapéu das oferendas, naquela altura recheado de espórtulas, colocou tudo no colo da senhora e desapareceu, sem que ninguém soubesse o paradeiro do benfeitor, gesto de altruísmo como ensinou o Divino Jardineiro, atendendo a máxima de que a mão esquerda não saiba o que a direita faz.
Considere-se por isso, que o manto da caridade, está estendido por todos os lugares, desde que os benfeitores distendam as mãos generosas para aplacar a miséria, pois esse é o momento de uma atitude ativa que ensaia os acordes musicais celestiais, por impulsos do amor, incentivando campanhas de benemerência a favor dos necessitados, irmãos em sofrimento, ainda que se encontram distantes, sentados, deitados ou caídos, na rua, numa seita, na igreja ou qualquer doutrina religiosa de que seja devoto, pois todos são irmãos, sem se esquecer de examinar ao derredor, porque existem pessoas por onde se moureja, vivendo na amargura, necessitadas, mas que sofrem caladas, constrangidas de expor as suas dificuldades.
Não por outra razão, o exercício do altruísmo se encontra ficado em todas as bandeiras religiosas e nos corações das criaturas da Consciência Cósmica, de tal sorte que no evangelho redivivo há uma página lirial sobre o verdadeiro homem de bem, como sendo aquele que vai ao encontro da necessidade, sem esperar que a miséria lhe bata à porta.
Sob esse arrimo, é indispensável ter sensibilidade, voltar os olhos para os palcos do sofrimento, conscientes de que criaturas existem que por sua própria condição nas provas e nas expiações, que não podem sequer estender as mãos para pedir, diante do quadro de sofrimento em que os braços estão paralisados.
Oxalá os irmãos altruístas, não se olvidem de que existe viajores do caminho que sequer podem erguer a voz para suplicar, porque tem afogada na garganta, as lágrimas da dor que não cessa à espera do benfeitor, em nome da virtude da misericórdia. Da mesma sorte há os que desejariam alcançar alguém que os auxiliasse, entretanto, as pernas lhes impedem de andar.
A obra do bem, em favor de todos aceita os braços fortes daqueles que se esforçam para terem puro os corações, como ensinou o Homem de Nazaré; não se exige títulos universitários ou recursos financeiros, mas aguarda simplesmente, a vontade em ação, um coração que sente, uma mente que idealiza, braços fortes que ajam, desde agora, antes que a fome se transforme em enfermidade e a carência em miséria extrema.
Dessa sorte, os filhos da Providência Divina, interrogam-se quanto a proposta do Divino Messias, constante em Mt. 5;16: ’Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus’. Desse modo, os filhos do Senhor do Universo, foram por Ele criados simples e ignorantes ao teor das questões 115, 133 e 804 de ’O Livro dos Espíritos’, donde se concluir que receberam ao serem criados à benção da luz.
Com escusas da atrevida linguagem poética, pede-se licença para dizer que logo depois da criação, o Senhor do Universo, onipotente, onipresente e onisciente, diante da escuridão do infinito, salpicou o céu de estrelas, nominando-as de José, Antônio, Alfredo, Maria, Joana, Elis, Elena e uma infinita multiplicidade de nomes que receberam suas criaturas, para que brilhassem no infinito caminhando pela Lei de Progresso para alcançarem os esplendores celestes.
Curioso, entretanto, é observar nessa pobre retórica, como em certas Constelações existem estrelas que brilham mais do que outras, e, como fazer para que a luz recebida seja sempre luminífera e esplendorosa.
A resposta está com a Santa Irmã Dulce, a Santa Madre Teresa em Calcutá e incontáveis missionários do amor, onde se dessedenta a sede do conhecimento nas lições do Divino Jardineiro, ao exortar que a caridade é o caminho da salvação, única e irrefutável via a ser percorrida e a mais nobre de todas as virtudes, razão porque São Paulo a imortalizou no seguinte ensinamento: (O ESE, pag.200/201)
‘Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens, e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um bronze sonante e um címbalo retumbante; e quando eu tivesse o dom da profecia, penetrasse todos os mistérios e tivesse uma perfeita ciência de todas as coisas; quando tivesse ainda toda a fé possível, até transportar as montanhas, se eu não tivesse a caridade eu nada seria. E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada’.
Ponto finalizando, anota-se que o exercício do altruísmo, integra a virtude da caridade onde estão embutidas todas as virtudes ensinadas pelo Divino Rabi da Galileia, seja a esmola, o amor, o sacrifício, a caridade moral e material, e entre outras a fé. Nesse sentir, vale insistir que a lição: ’Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus’; constata-se o entendimento de que a luz tem que ser evidenciada através da não violência como procedeu Mohandas Karamchand Gandhi ao seguir os passos de Jesus.
Nesse espeque, envolvidos pelos pensamentos do filósofo positivista Auguste Comte, diante da natureza instintiva que convida o ser humano as lições do Mestre Jesus, a se preocupar com o outro, roga-se ao Senhor do Universo que os viajantes não sejam transtorno no caminho, evitando desse modo que os viajores da felicidade fiquem a margem da estrada, consoante se vê na lição do espírito Irmão José, no livro ‘Que brilhe a vossa luz,’ pelas mãos abençoadas de Francisco Candido Xavier, cuja transcrição serve de arrimo a essa epístola.
À MARGEM DA ESTRADA: ’Não passes pelo mundo sem acrescentar o teu tijolo à magnífica construção do bem. Não permitas que os teus dias se escoem sem que algo faças de útil em benefício do próximo. Não deixes que a tua oportunidade de servir se perca no grande vazio das horas inúteis. Não consintas em viver exclusivamente para os interesses pessoais’.
Por derradeiro, deposita-se o ósculo do amor fraterno em seus corações em nome da oblata da fraternidade, com votos de um ótimo fim de semana, em nome de Jesus de Nazaré.