Não há como negar no mundo globalizado, no momento já alcançado pelos filhos de Deus, transitando pelos caminhos das provas com sofreguidão, seguindo os ditames da Lei de Evolução, os seres humanos, com raríssimas exceções, desconheçam o poder das palavras. Como utilizá-las, transformando-as em instrumento de amor, eis a questão que não se cala, naqueles que persistem sob a bandeira do atavismo, senão a ausência do estoicismo, porquanto as palavras podem e devem serem utilizadas como veículos poderosos de convencimento, para transformar ideário dos desalinhados.
Foi o peregrino do Amor quem as utilizou com maestria, florindo os caminhos das provas e expiações, dulcificando-as, num tempo onde a prática do perdão era aplicada apenas para os integrantes do clã, sentido raso da tolerância, mas o Mestre utilizou as palavras com docilidade, conduzindo as mentes estioladas a associarem-se às ideias trazidas pelas boas novas, distribuídas a mancheias por todos os cantos do mundo.
Inquestionavelmente, o poderoso meio de comunicação pela palavra, serve aos propósitos daquele cujo caráter ainda não ascenderam a elevação moral anelada pelos candidatos a bem-aventurança aos puros de coração; por essa razão, usam-na para ferir, escrachar, injuriar e mascarar as intenções pulcras, carregando o veneno mortal da desdita aquele que faz mau uso desse instrumento.
Sob a luz desses sentimentos, pronunciada a palavra, e no sentido lato, também o pensamento, não há maneira de se fazer com que ela retorne a origem, máxime porque fogem ao controle e ao raio daquele que a pronuncia.
É, pois, indispensável bem considerar a palavra antes de se pronunciar a respeito de um tema ou uma situação, pois é evidente que não se pode fazer com que a palavra retroceda no pensamento. Nada obstante, atendendo à lei de causa e efeito, quem emitir a palavra articulada, escrita ou o pensamento, sujeita-se a responder pela sua atitude, porquanto é a palavra que reflete, de forma segura, o nível moral em que se encontra a criatura do Eterno.
Ah, sim. São nas palavras, nas ideias ou nos pensamentos, quando utilizados como instrumento de amor, o lugar aonde se localiza a arena propagando as boas obras e acendendo a esperança nos corações amorosos, ao despertar e fortalecer a fé vacilante ao sustentar a paz de espírito, e, concomitantemente, desassociar os maus procedimentos, ao nutrir o amor na excelência da palavra.
Utilizando a palavra, o professor eleva a mente dos seus aprendizes às culminâncias do saber, ensejando aos seus discípulos descortinarem o mundo belo, colorido e consentido. Usando do verbo, o malfeitor arroja infindável número de vítimas do não vigiar, não orar e não ter olhos para ver, o fosso do crime.
Conversando, a mãe educa o filho, apontando-lhe os caminhos da honra e do dever. Usando da palavra, maus líderes editam leis espúrias, conduzem os povos às guerras cruentas, permitindo que a boca escancarada da morte ceife vidas preciosas. Na contrapartida do exercício do livre arbítrio, os bons governantes, lhanamente preocupados com seus comandados e as suas responsabilidades, elaboram discursos de paz e se emulam para alcançarem os objetivos. O Divino Rabi da Galileia falou e o Evangelho surgiu como a Boa Nova que todos aguardavam, sofridos e desalentados.
Antes Dele, a fim de preparar os caminhos, uma voz se ergueu desde o deserto até as margens do rio Jordão, pregando um novo tempo. Um tempo em que as veredas do Senhor seriam aplainadas e os homens poderiam ouvir o doce cântico de um Rabi. Nas tardes quentes, nas noites amenas, Jesus serviu-Se da palavra para ensinar as verdades do Pai que está nos céus, para manifestar a Sua vontade generosa e curar os enfermos. Da mesma sorte, com o Seu verbo e sua logística incomparável salvou da morte por apedrejamento uma mulher que se equivocara, esquecendo dos seus deveres de esposa.
Oh! Sim. Não se deteve, e a outra mulher ofereceu a água viva que mata a sede do saber espiritual; Serviu-Se da palavra doce e pediu perdão ao Pai para os que O crucificaram ao utilizar a palavra da fé entregando-Se a Deus. O apóstolo Paulo, pela palavra consciente e esclarecedora, levou as boas novas do Reino de Deus a lugares inimagináveis. O Messias deixava-se inflamar pela inspiração dos céus, e, com o seu verbo convertia as multidões.
Mohandas Karamchand Gandhi, advogado nacionalista, anticolonialista e especialista em ética política, foi o indiano que empregou os ensinamentos de Jesus, elegendo a não violência, para liderar com as palavras, a campanha bem-sucedida que libertou o seu país do jugo da Inglaterra. Martin Luther King Jr. discursou em nome da paz, desejando que brancos e negros se sentissem irmãos. Quando a guerra civil devastava o solo americano, o Presidente Lincoln usou da palavra de bom ânimo para levantar a moral dos soldados abatidos pelas derrotas e pelo abandono que acreditavam sofrer.
O verbo é sempre a manifestação da inteligência sadia ou enferma. É a base da escrita. E, toda vez que se utiliza a palavra, semeia-se bênçãos ou espalha-se tempestades. A propósito do tema, para sedimentar a retórica, é de bom alvitre valer-se de um exemplo colhido no santuário da vida, relatada com a emoção do momento, na pena que a descreve para dizer que:
Conta-se, que certo dia um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou–o numa carta rude e mandou-a para o chefe da oficina de onde fora despedido. O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis, e, quando o diretor do serviço leu as frases ingratas, acolheu-as desprevenidamente no próprio coração, tornando-se furioso sem saber porque.
De imediato, o subchefe da oficina, a pretexto de uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que albergara no coração; foi a vez do subchefe tornar-se neurastênico, que sem se aperceber abrigou a projeção maléfica no sentimento d’alma, permanecendo amuado, como agente transmissor da maledicência.
Foi na hora do almoço, que ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível, tão somente por ver um par de sapatos fora do lugar; foi o quanto bastou para proferiu dezenas de palavras chulas, descarregado o dardo para aliviar-se; entretanto, a mulher passou naquele instante a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável.
Desse modo, repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e desabafou. Usando o verbo com amargor, inoculou-lhe no coração o estilete invisível.
Agora, era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental e que podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, considerando o enorme débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão, dorminhoco e paciente, transferindo-lhe inconscientemente o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções.
O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera, e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública. Tratava-se de uma vizinha que, ferida na coxa, se enfureceu instantaneamente na vibração amaldiçoada; em gritaria desesperada, foi conduzida a farmácia, onde se deu pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração indesejada, crivando-lhe de palavra malsã e o esbofeteou o rosto.
O rapaz por seu turno, apesar de prestativo e de índole serena, converteu-se em fera. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde. Ao chegar em casa, descarregou sobre a anciã toda a ira de que era portador, dizendo, estou farto, ao exasperar-se com a mãezinha, atribuindo-lhe as desditas a ela, como se culpada dos seus aborrecimentos, e, no tom descortês disse-lhe, não suporto mais esta vida infeliz, fuja de minha frente, e, fazendo mau uso da palavra, pronunciou nomes impensáveis, blasfemando e gritando qual louco.
A velhinha, porém, longe de agastar-se com o filho, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com naturalidade e brandura: Venha cá meu filho. Você está cansado, sinto a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para lamentar-se; no entanto, tenhamos bom ânimo; lembremo-nos de Jesus, tudo passa e esses momentos também passarão; em seguida, abraçou o herdeiro de seu amor e comovida afagou os cabelos, sepultando naquele instante pelo exercício da boa palavra, os maus procedimentos.
Foi nesse instante que o filho em desalinho, demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia no carinho materno tanto perdão e tanto entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe perdão. Naquele instante houve entre os dois uma explosão de íntimas alegrias, e ao jantarem oraram em sinal de reconhecimento a Deus, pois a projeção destrutiva do ódio morrera, ali, dentro do lar humilde, diante da força infalível do sublime amor.
Sem contradita, o emprego das palavras dulcificadas, ainda que trevas e espinheiros se alonguem junto às criaturas, cabe as criaturas do Divino, governar as emoções, pronunciando palavras que instrua ou console, que ajude ou santifique, ainda que a provocação do mal convide à desordem, a condenar e a ferir, abençoemos a vida, onde estivermos. É dever dos viajantes das estrelas, aprender com Jesus, a calar toda frase que destrua, porque toda palavra que agride é moeda falsa no tesouro do coração.
Com esses sentimentos d’alma, recebam o ósculo depositado em seus corações em nome da oblata da fraternidade universal, anelando que tenham um ótimo fim de semana em nome da Excelência do Amor de Jesus.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli