É singular na história da humanidade, perdendo-se na poeira dos tempos, a atitude das criaturas de chancelarem suas obras e os trabalhos realizados, não somente pela alegria que proporciona a conclusão da obra, mas também por assinalar o nascimento da sua criação, resultado do esforço de seu intelecto, noutras palavras, o exercício da inteligência concedida pela Divindade.
É tão importante o autógrafo do autor em sua obra que, buscando-se nos tempos imemoriais, nos idos do ano 1564, na Itália, na região de Florença, se saberá que o artista renascentista Michelangelo, concluído o seu trabalho de esculpir a estátua de Moisés, diante da beleza da escultura que nasceu da pedra bruta, em momento de êxtase disse em voz alta, exclamando: “parla”, convidando a estátua a falar, enquanto outros afirmam que ele interrogou a sua obra dizendo: “ por que não falas? ”.
De fato, as obras sempre levam consigo a marca da alegria que proporciona o uso da inteligência com que o Senhor da Vida agraciou as suas criaturas, para bem cumprirem as Leis do Trabalho e do Progresso, destinadas à elevação do espírito na caminhada de ascensão para os páramos celestiais.
As criaturas, sem distinção são filhas do Eterno, e nelas e em todas as suas realizações há indelevelmente grafado os sinais da Divindade, ainda que existam os agnósticos, os deístas, os teístas e inúmeras seitas e ateus.
Para sustentar a afirmativa, de que não há efeito sem causa, o axioma que convence os mais incrédulos, argamassa a retórica, na pena da narrativa com a devida licença, ao sabor da emoção do momento, colhendo-se no santuário da vida, um conto árabe que em síntese narra o seguinte:
Certa feita, um velho árabe analfabeto orava toda noite com fervor e carinho, quando um homem rico, chefe de uma grande caravana chamou-o e lhe perguntou: Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, se nem ao menos sabes ler?
O homem modesto e fiel aos seus princípios respondeu: Oh! Grande senhor, conheço a existência de nosso Pai Celeste pelos seus sinais. Como assim? Contra interrogou o chefe da caravana, admirado. O servo humilde explicou: Honorável senhor, quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu? A resposta foi imediata. Ora, pela letra.
O fâmulo voltou a interrogar o seu Senhor: E, quando o senhor admira uma joia, como é que se informa sobre a sua autoria? Ora, pois, respondeu sem delongas. Pela marca do ourives, é claro.
Diante dessa realidade, desejando enriquecer o seu propósito na verdade inafastável do tema, o pobre homem sorriu e acrescentou: Sim, mas quando ouve passos de animais, ao redor da tenda, como sabe, depois, se foi um carneiro, um cavalo, um boi? Disse o patrão admirado e com convicção, não sei aonde quer chegar, respondendo de inopino, pelos rastros, respondeu o chefe.
Foi então que o ancião crente, simples e humilde, pediu licença e o convidou para irem para fora da majestosa tenda, e ali chegando mostrou-lhe o céu, bordado de estrelas, embelezando o manto da mãe santíssima, onde a lua brilhava, cercada de luzinhas como aquelas que homenageiam Santo Antonio, São João e São Pedro nas festas juninas. O fâmulo percebendo que o fidalgo estava extasiado com a beleza do momento, disse ainda, respeitoso e fiel, “Senhor, aqueles sinais lá em cima, não podem ser dos homens”.
Oh! Meu Deus, quantas verdades que os incrédulos desatentos não se dão conta na trajetória da vida. Por isso, diz a lenda que serve de arrimo ao discurso em comento, que foi naquele exato momento, que o descrente, cedeu a realidade inafastável de que não há efeito sem causa.
Vê-se, desse modo, em todas as circunstâncias, sê procurada a causa de tudo o que não é obra dos homens, a razão responderá que a obra é de Deus, porquanto o autógrafo do Senhor do Universo está grafado com o seu sinal em todos os lugares que cercam as criaturas e por todo o Universo.
Oh! Sim. Diante da realidade de que a todo efeito precede uma causa, os orgulhosos, os agnósticos, os ateus, os deístas, os teístas, os politeístas, hinduístas, budistas, confucionistas, taoísta, xintoísta ou ainda as religiões tribais africanas ou americanas, todos são filhos de Deus, cujos sinais do Senhor do Universo estão gravados em suas almas, podendo renderem-se às evidências, como fez o descrente, ali mesmo na areia, sob a luz prateada do luar, começando a agradecer ao Pai Eterno.
Ah, Deus mesmo sendo invisível aos olhos das criaturas, deixa sinais das mais variadas formas, seja na manhã que nasce calma e silenciosa, no calor do sol que aquece seus filhos e permite a vida em mais um dia de provas e expiações, ou na chuva que molha a relva saneando a atmosfera; da mesma forma, faz a água correr nos leitos dos rios e mares refrescando as areias quentes das praias solitárias.
É inegável que os sinais de Deus estão nas pastagens verdes que alimentam o gado e na vida teimosa do sertão esturricado pelo calor escaldante dos verões, em todos os recantos do belíssimo planeta de provas e expiações, aonde também se pode ver e sentir o sinal de Deus, Onipotente, Onisciente e Onipresente.
Se anelas por ver o autógrafo de Deus, procure encontrar os sinais do Senhor do Universo, nos campos floridos, nos cantos alegres dos pássaros que despertam a madrugada, encantando-se com os sinais de Deus também, nas noites bordadas de estrelas ou nas tempestades que limpam a atmosfera com seus raios purificadores, oferecendo um esplendoroso espetáculo de beleza na natureza, para uma plateia que não raras vezes ainda dormem na busca do Altíssimo.
Em verdade, as obras dos homens, sejam nas famosas pinturas de Michelangelo de Lodovico Buonarroti, que pintou entre outras obras notáveis, "A Abóbada da Capela Sistina", ou as notáveis contribuições, para a posteridade de Vicente Van Gogh, Claude Monet, Pablo Picasso, Leonardo Da Vince, Di Cavalcante, Pierre-Auguste Renoir e tantos outros extraordinários homens, em todas as áreas da ciência, retratando as belezas da vida, são dignos de autografarem suas obras, assinando-as, para que não se confunda a autoria, conscientes de que realizadas pelos homens sob a inspiração de Deus.
A produção Divina, dispensa o autógrafo, porquanto somente Ele é capaz de realizar, pintar ou bordar a natureza, os rios, os mares, as estrelas, o azul do céu, a chuva e os ventos que sopram, e ninguém sabe de onde vem ou para onde vai, pois tudo por Ele foi criado, dispensando assinatura, porque cogente é olhar os seus sinais, como esclarece o apólogo anotado alhures, registrando as marcas indeléveis e inconfundível em tudo o que existe.
Não há contradita, todas as criaturas, sem distinção, têm um programa de vida adredemente traçado na pátria espiritual. Não é, e nem será jamais, o fato de se lograr êxito nesse ou naquele projeto que fará os viajantes das estrelas felizes ou infelizes.
Da mesma sorte, o resultado das circunstâncias também não significará proteção ou desamparo, porque, em verdade é o Senhor da Vida que provê tudo o que seus filhos necessitam, até mesmo quando dormem em berços esplendidos, é a mão invisível da Divindade quem está presente nas vidas de suas criaturas, conforme lecionou o peregrino Jesus de Nazaré, para não se turbar os corações, porque para hoje bastam as preocupações do dia.
O amanhã a Deus pertence. O ontem já teve o seu propósito de ensinar o caminho em busca da porta estreita que leva a resignação e ao bem proceder anelando no porvir os páramos celestiais. Com fluxo no princípio de que não há obras sem autoria, tudo o que não é obra do homem, só pode ser obra de Deus, ou como asseverou na paráfrase o poeta francês Victor Hugo, Deus é o invisível evidente.
Ponto finalizando, sedimenta-se a retórica, na resposta oferecida pelos espíritos venerandos ao ínclito codificador, quando cumpriu a promessa do Nazareno de que não deixaria órfãos os seus irmãos menores, conforme dispõe a questão número quatro de “O Livro dos Espíritos”, no momento em que se procurou saber aonde está a prova da existência de Deus? E, os Espíritos venerandos responderam “ipsis verbis”:
"Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá."
Envolvidos nesses sentimentos pulcros, recebam os amigos, com confiança, a presença do Senhor do Universo, na vida, bela, colorida e consentida, repleta de esperança, trabalho, saúde e paz, junto com o ósculo que se deposita em seus corações com a oblata da fraternidade, por intercessão do Divino Jardineiro, com votos de um ótimo fim de semana.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli