Um dos hábitos que comumente acompanham a trajetória dos viajantes pelo belíssimo planeta de provas e expiações, sem dúvida, é o costume que as criaturas têm de constatarem qual o prazo de validade dos produtos que irão adquirir.
Nesse comento, ainda que se considere outras vertentes para a análise dos motivos do exame perfunctório dos prazos de validade, não há como negar que nas provas das existências tudo tem um prazo de validade, como ocorre na natureza, tudo se transformando; não se negue assim, que segundo Antoine-Laurent de Lavoisier, o químico francês no século XVIII, considerado na literatura como o "pai da química moderna", membro da Royal Society em 1788, a criação do axioma que: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.
Sob essa diretriz, na natureza também há um prazo para se renovar, tal como acontece com as estações do ano, ensejando a preparação dos filhos de Deus para as novas temporadas do porvir. As próprias flores têm períodos específicos para desabrocharem e as plantas para crescerem, respeitando as estações do ano sob o comando do Universo do Criador.
Por essa razão, sim. Quem aprecia o jardim exuberante, põe sua atenção nas flores das estações do ano e as plantas e replanta, de forma periódica e regular, porquanto sabe do prazo de validade, e assim também ocorre com as criaturas do Eterno. Veja-se, pois, que na infância, na adolescência, e na juventude, são períodos marcantes no desenvolvimento dos filhos do Altíssimo, destinados a cumprirem o seu programa de vida, e, por isso mesmo, trazem suas alegrias, suas surpresas e descobertas como aprendiz no rumo das estrelas.
Oh! Meu Deus. Parece um contínuo e eterno desabrochar. Ao se chegar na maturidade, inicia a mudança, agora sob a melodia de Almir Sater, inicia-se o cantarolar, “ando devagar porque já tive pressa”, ou sob outra dicção, porque sente-se que a estrada percorrida no aprendizado, aproxima-se do seu anoitecer na existência bela, colorida e consentida, ou na linguagem vulgar, é a velhice, preparando-se para a grande viagem de retorno à pátria espiritual, o mundo causal.
Ah, sem dúvida é no entardecer das provas que se inicia a despedida dos compromissos transatos, com o corpo que dá sinais de que não aguenta mais tudo que suportava nos verdes dias da primavera em flor do ontem.
Sem contradita, é o prazo de validade que vai se aproximando e o coração se questionando: e agora, o que fazer? Alguns desatentos mergulham na tristeza e se deixam levar pela amargura, e pelo desânimo, colocam óculos escuros, vendo o cenário dos dias sombrios do inverno, com os vendavais que sopram sem dizerem de onde vêm ou para onde vão.
Desse modo, os filhos de Deus que elegem contar os dias, discursando sobre o passado, como se o presente não fosse tão presente, esquecem-se de que o passado foi um mestre precioso que ensinou o certo e o errado, permitindo se avançar nos caminhos do progresso. Ademais, a ninguém será lícito se permitir o desânimo pelo anoitecer das provas.
In-veritas, quando se lançam o olhar de serenidade nos frutos abençoados que estão ao redor, nos amores da vida, nos filhos, nos netos, na família, santuário de bênçãos, mostrando a beleza do envelhecer, apresentando outro colorido, nas experiências adquiridas, conduzindo consigo a alegria da sabedoria, é a hora de depositar no imo d’alma a certeza da imortalidade, filhos do Pai Celestial, herdeiros do universo, sentindo ser o momento de se ver os caminhos das estrelas abrindo-se aos filhos do Altíssimo.
Com fulcro nesses sentimentos d’alma, não será de bom senso sofrer quando as flores insinuam murcharem diante da estiagem que se aproxima, porquanto é bem possível que não se consiga com o mesmo denodo fazer o que se fez nos dias que já se passaram. De fato, o corpo impõe diminuir a intensidade e a periodicidade de certas ações, sem que isso signifique se entregar ao desânimo como se não se servisse para mais nada, diante do prazo de validade da vida física que se aproxima para o abraço da despedida, até porque, o momento será apenas o começo de uma nova jornada na eternidade dos tempos.
Da mesma sorte, por que não se desfrutar das belezas e prazeres da existência concedida por Deus, para ser vivida até o vencimento do prazo de validade, o chamado esgotamento das energias dos tônus vitais, enquanto não chega o comando do Criador, porque tudo na vida tem o seu tempo e o seu propósito.
A moderação e o bom senso é vital para o aproveitamento das provas a que se submetem os candidatos à felicidade no rumo das estrelas. Desse modo, diga não à tristeza, viva com alegria todos os momentos; se não puder correr tanto quanto antes, abrace a melodia de Almir Sater e diga a sua alma; alma minha, hoje ando devagar, porque já tive pressa.
É importante estar consciente de que andar devagar, nem que seja um passo por vez, é melhor do que submeter-se a uma cadeira de rodas; é inegável que o andar devagar, propicia o prazer de olhar as flores do caminho, incontáveis vezes vistas sem se perceber a beleza de suas cores e coloridos, postas no caminho para encantar com sua formosura a natureza e permitir aos pássaros nela fazerem os ninhos destinados a eternidade das espécies.
Sim. Que benção é o anoitecer das provas, quando se pode sentar em um banco ao sol, olhar as crianças que correm, gritando sua felicidade, ou pousar o olhar nas folhagens das árvores que principiam alterar as cores, prenunciando o outono que sinalizam a validade de seu tempo.
São tantas as belezas a se descobrir, para extasiar a alma dos viajantes das estrelas, desde o entardecer da viagem, que se porventura alguma enfermidade os alcança, estabelecendo limites, nem assim os que tem fé se amarguram, porquanto vivem cada momento em plenitude.
Para sedimentar a retórica em apreço, que bem representa o tema em comento, sobre o prazo de validade das provas da existência, é oportuno recordar a atleta pentacampeã brasileira de triatlo Susana Schnarndorf Ribeiro, que teve sua carreira interrompida quando foi acometida de uma doença incurável, conhecida pela atrofia de múltiplos sistemas, - físicos/orgânicos - aos trinta e sete anos, recebeu o diagnóstico da atrofia múltipla, doença que iria tolher gradualmente os seus movimentos e a respiração, prejudicando as demais funções do organismo, mas, mesmo assim, não se deu por vencida.
O assustador prognóstico médico era de dois anos de vida. Nada obstante ela se decidiu por encarar a finitude declarada na notícia da vida, com uma atitude positiva, encarando de frente o prazo de validade para as provas da existência, dizendo de si para consigo mesma: se o seu corpo estava parando, ela o iria utilizar enquanto isso fosse possível.
Com essa postura estoica, diante das instransponíveis limitações, reaprendeu a nadar e se dedicou ao esporte paralímpico, sendo dispiciendo dizer que foi vencedora da Medalha de Prata na Paraolimpíada do ano de 2016.
Notável, portanto, foi o exemplo para a validade do prazo da vida, seja pelo relato emocionante registrado nos anais da história, seja ainda, mais comovente a sua declaração histórica confessando que aos quarenta e nove anos, deixou de se importar com coisas irremovíveis e passou a viver a cada dia com serenidade, diante da iminência do fim do corpo físico, dando graças ao momento que vivia, enquanto aguardava a chegada da eternidade.
O tema em apreço, marcam os que amam a vida, usufruindo cada momento, cada dia, cada hora ou cada segundo, sem se deixar levar pelo abismo da depressão, ou abrigar uma crise de pânico, apenas porque caiu uma chuva torrencial mudando os planos daquele dia, esquecendo que esse mesmo impeditivo permitiu a Fred Astaire, dançar na chuva com alegria pela vida, bela, colorida e consentida.
Na realidade, a vida é muito preciosa para que os viajores permitam se perder nas contrariedades do dia a dia, mas estarem conscientes da herança do Eterno, convidando-se ao dever de agradecer o agora, o hoje, e desfrutarem da companhia que nos amam, tanto como a gratidão pela honra e a bênção de viverem, tal e qual o testemunho de Susana Schnarndorf Ribeiro.
Com essas reflexões, deposita-se o ósculo da fraternidade em seus corações, com a oblata do amor de Jesus, anelando-se votos de um ótimo fim de semana na paz do Celeste Amigo, tudo recomeçando com bom animo.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli