Não há como negar, no mundo globalizado, agora experimentado pelos filhos de Deus no caminho percorrido com sofreguidão, sob os ditames da Lei de Progresso e na evolução dos seres humanos, indistintamente sujeitos ao báratro das provas, com raríssimas exceções, se conhece a essência do poder das palavras, meio de comunicação que se utiliza pelo veículo de convencimento e esclarecimento de outrem com o objetivo de comungar-se pontos de vistas enobrecedores.
Sim. Pela palavra, escrita ou articulada, pode-se transformar o ideário dos irmãos de caminhada, associando-se às ideias que chegam de todos os cantos do mundo, e, por esse meio também comprar e vender mercadorias, sem prejuízo de atender aos apelos da razão, seja para os estudos empíricos ou utilizando-a para esclarecer, ensinar e consolar os entibiados no curso da jornada de provas e expiações, anotando que se a palavra for má empregada, a ciência da observação dirá que ela pode ferir mortalmente a honra e a dignidade das criaturas em provas e expiações.
Inquestionavelmente, a palavra é o poderoso meio de comunicação que serve aos despropósitos daqueles cujos caráteres não ascenderam a elevação moral anelada pelos candidatos à bem-aventurança; por isso, quando a utilizam para ferir, escrachar, injuriar e mascarar as intenções das criaturas, carrega-se o veneno mortal da desdita pelo mau uso desse magnífico instrumento.
Para sedimentar o prólogo, vale a advertência para se ter extremo cuidado, senão examinarem no livro Seara dos médiuns, pelo Espírito Emmanuel, Ed. Feb, cap. 14, na carta de Tiago, quanto o conceito de três questões que não têm volta: A Flecha lançada, a palavra falada e a oportunidade perdida. Sim. Pronunciada a palavra, no sentido lato, mobiliza-se também o pensamento, e não há maneira de fazer com que eles retornem ao ponto de origem, pois fogem ao controle do raio de ação da fonte geradora num átimo de segundo. Cogente, pois, é meditar sobre o que vai se dizer antes de se pronunciar a respeito de um tema; que se lance previdentemente o olhar nos conceitos do filósofo ateniense.
Nesse caso, impõe-se àqueles que intentam a comunicação por esse método, o dever de zelar pelas palavras, tanto como os pensamentos, atentos à lei de causa e efeito ao fazer qualquer julgamento, via de regra sem conhecer todos os fatos, razão de se evocar as lições do Divino Jardineiro para não se julgar. Argamassando a retórica sub-oculis, Sócrates, o filósofo da Grécia antiga, fundador da filosofia ocidental, entre os inúmeros relatos de sua sabedoria, há um que serve ao propósito desse opúsculo, no relato das três peneiras, que a oportunidade enseja na emoção da pena sob a seguinte narrativa: Conta-se que certa feita um rapaz o procurou dizendo que precisava contar-lhe uma ocorrência; o filósofo ergueu os olhos da leitura que realizava indagando do interessado:
– O que você vai me contar já passou pelas três peneiras? – Três peneiras? – Indagou o rapaz. – Sim! A primeira peneira é a VERDADE. O que você quer me contar dos outros é um fato? Caso tenha ouvido falar, mas não tem certeza da sua veracidade, a coisa deve morrer aqui mesmo. – Suponhamos que seja verdade. Deve, então, passar pela segunda peneira: a BONDADE. O que você vai contar é uma coisa boa? Ajuda a construir ou destruir o caminho, a fama do próximo? – Se o que você quer contar é verdade e é coisa boa, deverá passar ainda pela terceira peneira: a NECESSIDADE. Convém contar? Resolve alguma coisa? Ajuda a comunidade? Pode melhorar o planeta? Arremata Sócrates: – Se passou pelas três peneiras, conte! Tanto eu, como você iremos nos beneficiar. Caso contrário, esqueça e enterre tudo!
Inconteste, pois, que o objeto dessa epístola é a palavra que reflete, de forma segura, o nível moral em que se encontram os viajores das estrelas na turnê de aprendizado. É inegável, que com a palavra se propagam as boas obras e se acende as esperanças nos corações amorosos, despertando e fortalecendo a fé quando vacilante, porque sustenta a paz e, o desarrimo da palavra má empregada que se utiliza para alimentar o vício e a delinquência.
Utilizando a palavra, o professor eleva a mente dos seus aprendizes às culminâncias do saber, ensejando aos seus discípulos descortinarem o mundo belo, colorido e consentido. Usando do verbo, o malfeitor arroja infindável número de vítimas do não vigiar, não orar e não ter olhos para ver, levando-os para o fosso do crime. Por outro lado, conversando, a mãe educa e dulcifica o filho, apontando-lhe os caminhos da honra e do dever. Usando da palavra, maus líderes editam leis espúrias, conduzem os povos às guerras cruentas, permitindo que a boca escancarada da morte ceife vidas preciosas. Em contrapartida, quando no exercício do livre arbítrio, os bons governantes, sinceramente preocupados com seus comandados e as responsabilidades assumidas elaboram discursos de paz e se esforçam por concedê-la.
O Divino Rabi da Galileia falou e o Evangelho surgiu como a Boa Nova nas palavras que todos aguardavam, sejam os sofridos ou desalentados. Antes Dele, a fim de preparar os caminhos, uma voz se ergueu desde o deserto até as margens do rio Jordão, pregando um novo tempo. Um tempo em que as veredas do Senhor seriam aplainadas e os homens poderiam ouvir o doce cântico de um Rabi. Nas tardes quentes, nas noites amenas, Jesus serviu-Se da palavra para ensinar as verdades do Pai que está nos céus, para manifestar a Sua vontade generosa e curar enfermos.
Com o Seu verbo e sua logística incomparável salvou da morte por apedrejamento uma mulher que se equivocara, esquecendo dos seus deveres de esposa. Não se deteve, ofereceu a outra, a água viva que mata a sede de saber espiritual. Serviu-Se da palavra e pediu perdão ao Pai para os que O crucificaram e com a palavra da fé entregou-Se a Deus. O apóstolo Paulo, pela palavra consciente e esclarecedora, levou as boas novas do Reino de Deus a lugares inimagináveis.
Gandhi serviu-se da palavra para convidar a todos os seus irmãos da Índia a se unirem pelo mesmo ideal, e seguindo os passos de Jesus, elegeu a não violência como forma de vencer as cizânias da vida. Martin Luther King Jr. discursou em nome da paz, desejando que brancos e negros se sentissem irmãos. Quando a guerra civil devastava o solo americano, o Presidente Lincoln usou da palavra de bom ânimo para levantar a moral dos soldados abatidos pelas derrotas e pelo abandono que acreditavam sofrer. O verbo é sempre a manifestação da inteligência sadia ou enferma. É a base da escrita. E, toda vez que se utiliza a palavra, semeia-se bênçãos ou espalha-se tempestades. Cada um escolhe pelo livre arbítrio o que semear.
Com esses sentimentos, ainda que trevas e espinheiros se alonguem junto dos que governem ou eduquem são seus os deveres de pronunciarem sempre as palavras que instruam ou console, que ajude ou santifique. Sem contradita, ainda que a provocação do mal convide à desordem, a condenar e a ferir, abençoemos a vida, e onde se estiver apreenda a calar toda frase que destrua, porque toda palavra que agride é moeda falsa no tesouro do coração. Concluindo a narrativa, no âmago da palavra como instrumento de amor perene, é indispensável expor uma história que dulcifica os corações amorosos e os tornem sensíveis ao amor, sublime amor, dizendo que:
Certo dia um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou–o numa carta rude e malcriada e mandou-a para seu chefe da oficina de onde fora despedido. O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. O diretor do serviço leu as frases ingratas que ali se expressava, acolheu-a desprevenidamente, no próprio coração, e tornou–se furioso sem saber porquê. Encontrou, quase de imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo. Foi a vez do subchefe tornar-se neurastênico, sem se dar conta do motivo. Abrigou a projeção maléfica no coração, permanecendo amuado várias horas e, no instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível, tão só por ver um sapato imperfeitamente engraxado, proferindo dezenas de palavras chulas, após o que se sentiu aliviado; a mulher por seu turno passou a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço dos calçados e desabafou, com palavras indesejáveis inoculando-lhe no coração o estilete invisível.
Oh! Meu Deus, agora, era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se de velho cão dorminhoco e transferiu-lhe o veneno imponderável num pontapé de largas proporções. O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera, e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública.
Era a senhora de um vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu instantaneamente, nada obstante a vibração amaldiçoada, possuía força maléfica, e em gritaria desesperada, foi conduzida a farmácia, quando deu-se pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração indesejada, ao ponto de crivar-lhe de xingamentos. O rapaz prestativo e calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu alucinado para a sua residência, onde a devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde. Ao chegar descarregou sobre ela toda a ira de que era portador, dizendo: __. Estou farto! __ bradou __ a senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem! Não suporto mais esta vida infeliz! Fuja de minha frente! Fez mau uso da palavra e pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou colérico, qual louco. A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com brandura:
- Venha cá, meu filho! Você está cansado e doente! Sei a extensão de seus sacrifícios por mim; reconheço que tem razão para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo! Lembremo-nos de Jesus! Afinal, tudo passa na Terra. Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou. Abraçou-o, comovida, e afagou-lhe os cabelos. O filho demorou-se na contemplação de seus os olhos serenos e reconheceu que havia tanto carinho materno, perdão e entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas. Houve então entre os dois uma explosão de íntimas alegrias. Foi quando jantaram felizes e oraram em sinal de gratidão a Deus. A projeção destrutiva do ódio morrera, ali, dentro do lar humilde, na luz aurifulgente da palavra infalível do sublime amor.
Com esses sentimentos, recebam os amigos o ósculo em seus corações com a oblata da fraternidade universal, anelando que tenham um ótimo fim de semana em nome da Excelência do Amor de Jesus.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli.