Donde viemos, qual o propósito da jornada e qual o destino das criaturas do Altíssimo ao atravessar as pontes do caminho que liga os viajores de um lado a outro da existência no périplo para atender o comando das leis pétreas da existência, é a interrogação que espicaça os viajantes das estrelas na busca da felicidade.
É disso que se trata a reflexão do tema sub-oculis, razão, motivo e causa de se considerar que as divergências naturais da vida estuam no íntimo dos filhos do Eterno, pondo-se em desalinho, vez que outra, em razão das naturais diferenças de crescimento em cada espírito em evolução.
Peremptório, pois, que as criaturas do Divino se recordem que apesar de serem herdeiras do Criador, não foram criadas no mesmo instante, mas em tempos diferentes, e, por óbvio cada uma se encontra em estágio desigual, fator gerador de diferenças entre si na estrada evolutiva. Na retórica de Jesus, “o Pai Trabalha até hoje e eu também trabalho”, assegurou o Celeste Amigo, nos proscênios da história evolutiva.
Singular, portanto, se compreenda que as criaturas que estejam em níveis de evolução mais elevados, construam pontes de amor, sendo afáveis com aqueles que se encontram na ribalta da evolução, atendendo ao propósito na Lei da Divindade que coloca seus filhos juntos, para que possam progredir vencendo as diferenças existentes em cada criatura de Deus, de sorte que as mais adiantadas possam praticar a virtude da caridade mediante o auxílio ao seu próximo.
Nesse considerando, anote-se que, lamentavelmente, com honrosas exceções àqueles nimbados da luz irada na bem-aventurança e na compreensão dos desígnios de Deus, bastará um desalinho em uma família, no ambiente de trabalho, uma dissintonia que seja sobre um ponto qualquer, e lá vem briga, luta, disputa e guerra, com todos os ingredientes dos tormentos que o homem consegue impor ao seu irmão entibiado.
Nesse proceder estabelece-se o caos. Faltam alimentos, água, remédios e a miséria e o sofrimento campeiam a mancheia. Oh! Meu Deus. Nem bem termina uma disputa armada e outra já está na fila aguardando a vez. É um horror entibiando os corações. Na família, não poucas vezes, vê-se agressão no seio do clã, quando se precisa de compreensão, de amor, de fraternidade, de solidariedade. Não será demais asseverar que a família unida se fortalece e torna os vizinhos amoráveis e o bairro próspero. As famílias unidas conduzem a cidade à estabilidade financeira, possibilitando emprego a seus habitantes e facultando o amor fraterno. Os Estados, com cidades bem organizadas e com os seus habitantes vocacionados para a religiosidade saudável, conduzem a Nação à bem-aventurança que os povos buscam com azáfama, em nome da paz mundial.
O
ra! Sim. Sob o manto da verdade inapagável de que as criaturas estão em evolução, é obvio que cada um vive o seu momento de crescimento, certo de que a cada erro a dívida será cobrada no tempo oportuno, pois, desse orbe ninguém sairá até que pague o último centíl. Esse é o discurso do Homem de Nazaré, causa porque será justo arrimar a reflexão do tema nas atividades do carpinteiro, atividade primeira do Divino Galileu, para dessedentar a sede de paz, segundo propõe a narrativa do "Construtor de Pontes", com fulcro na ponte do amor.
Conta-se que dois irmãos moravam em fazendas vizinhas, separadas apenas por um riacho. Certa vez entraram em conflito no momento das experiências da vida para o crescimento indispensável à evolução espiritual. Aquele que mais sabia, não soube professorar o aluno que se encontrava na retaguarda. Assim, os dois irmãos da história entraram em desentendimento que os colocou em partilha de bens e cada um haveria de trabalhar lado a lado, divididos por um riacho, abandonando a solidariedade, pois, um insignificante desentendimento explodiu em troca de palavras ásperas, que nem sempre o coração desejou proferir, mas inadvertidamente sai das profundezas do ser atávico, preso ao passado, acabou por resultar num silêncio sepulcral entre os irmãos que parecia não ter fim.
Verdade. Os orgulhosos sempre esperam que a atitude positiva seja do outro e ninguém move uma palha em direção ao exercício do perdão, quedando-se quase sempre um a espera de que o próximo venha lhe pedir comiseração. Por isso, numa manhã de domingo, o irmão mais velho ouviu bater à sua porta. Ao atender, disse-lhe o visitante. Estou procurando trabalho. Por acaso, o senhor não teria algum serviço para mim? A resposta foi afirmativa.
Relatou-lhe o episódio de sua rixa com o irmão caçula e apontando a fazenda vizinha onde morava o seu algoz, além do riacho e disse-lhe: Não posso mais suportar a presença de meu irmão mais novo. Contrato-o para que retire e transforme aquela pilha de madeira que se encontra no celeiro e a utilize para construir um muro de arrimo, uma cerca bem alta e fechada, de sorte a dividir nossas propriedades, facilitando-me para que não o veja mais. Acertada a tarefa, o irmão mais velho foi para a cidade cuidar de suas atividades e o contratado presto, pois se a realizar a obra contratada, mediu, cortou e pregou o dia inteiro. Oh! Meu Deus. Quando o fazendeiro chegou não acreditou no que via à sua frente!
A
o contrário da cerca encomendada, como se fosse o muro de Berlim de triste memória na história da humanidade, viu à sua frente uma linda e encantadora ponte, construída com absoluto capricho e bom gosto, passando por sobre o riacho e ligando as duas propriedades como se fosse uma só.
Apesar do trabalho gracioso e esmerado, que dava um toque de harmonia ao ambiente, o primeiro impacto do fazendeiro contratante foi de contrariedade e aspereza, ocasionando expressar-se com indignação ao dizer ao contratado: Mas amigo, apesar de tudo que lhe relatei, então o senhor tem a insensatez de construir uma ponte para ligar a minha propriedade à de meu algoz?
Entretanto, sua surpresa maior ainda estava por acontecer, pois, ao olhar para a ponte novamente, viu o seu irmão mais novo se aproximando de braços abertos, imaginando, por seu turno, que o irmão mais velho havia deixado na poeira do tempo as tristezas e as mágoas e agora, ambos de braços abertos, poderiam reconstruir um porvir de amor fraterno e seguro em direção à plenitude da vida.
Tomado de surpresa com a atitude do irmão mais novo de braços abertos caminhando em sua direção, com olhar de alegria e felicidade, permaneceu imóvel do seu lado do rio, quando repentinamente, ouviu irmão caçula lhe dizer, na emoção que procedia dos refolhos de sua alma: Você meu irmão, meu camarada, foi realmente muito amigo, construindo esta ponte para nos ligar no amor, depois do que eu lhe disse e fiz.
Meu querido irmão. Sempre o admirei. Que Deus o abençoe. Nesse instante, o irmão mais velho, num só impulso correu em sua direção e abraçaram-se num só pranto de alegria no meio da ponte da esperança, em nome do amor que o Cristo de Deus legou a toda humanidade.
Sim. Vencida a emoção, ao olharem ao derredor, na alegria daquela luz aurifulgente, viram o carpinteiro que realizara o trabalho na ponte do amor, partindo levando a sua caixa de ferramentas, ensanchas em que lhe disseram "hei amigo", fique conosco, temos mais serviços para serem realizados, e como resposta do iluminado carpinteiro ouviram: Adoraria permanecer convosco, mas tenho outras pontes para construir.
A retórica convida os que têm puro os corações, a refletirem que o Mestre Jesus continua construindo as pontes que ligam as criaturas ao amor, e a fraternidade ao pai celestial, na herança da bem-aventurança.
Imaginem os profitentes do tema, se repentinamente os viajantes das provas e expiações, abolissem as cercas de arame farpados, interrompesse as brigas e as contendas para juntos terminarem as dissidências em nome da felicidade, somando forças com os companheiros de trabalho, no lar, nos fóruns da vida e nos países em guerra, para construírem pontes de amor para transitarem na busca da paz.
N
a bandeira dessas reflexões, é crível considerar que os inimigos provisórios da jornada da vida, os desatentos, os amargurados e os que transitam pela porta larga da existência desapareceriam cedendo lugar as luzes do mundo novo, sem as utopias de Aldous Leonard Huxley no seu “Admirável Mundo Novo”.
Oh, sim, nesse momento se descortinaria o Mundo à frente denominado de regeneração, alforriando aos espíritos voarem até os esplendores celestes para agradecer o Pai Celestial pela benção de amor em que os corações se eternizariam. A proposta para a construção das pontes do amor é aqui e agora deixando no poço sem fundo do esquecimento as mágoas e mal-entendidos, utilizando a ferramenta do perdão incondicional.
Deixar essas cizânias de lado é bem proceder, pois, afinal ninguém é perfeito e a vida convida dar o primeiro passo em direção ao perdão e ao amor ensinado pelo Cristo de Deus. É hora de construir pontes de amor ao seu derredor. Não se sabe a hora que se necessitara atravessá-las para não se ficar solitário, mas solidário.
Nesse sentir, com essa pequena ponte de amor, segue o ósculo depositado em seus corações com desejos de muita paz, em nome do Celeste Amigo.
Do amigo fraterno de sempre:
Jaime Facioli.