Vive-se nessa época o dia de finados e de todos os Santos, mais precisamente no dia 1º de novembro e no dia que se lhe segue, dia dois de novembro o chamado dia dos "mortos", ou o dia de Finados. Trata-se em verdade, da efeméride da celebração da vida eterna, porque se homenageia as pessoas que já fizeram a grande viagem, ou na linguagem popular, já faleceram, resultando ser esse o dia dedicado ao amor, porque amar é sentir que aqueles a quem devotamos nossa estima jamais morrerão.
Celebra-se assim a vida cristã, vida essa que simboliza a comunhão íntima com a Divindade agora e para sempre. Historicamente desde o alvorecer da era cristã se criou o hábito de visitar os túmulos dos mártires nas catacumbas para rezar pelos que morreram. Foi sob os auspícios dos chamados Papas Silvestre II, João XVIII em 1009 da era cristã e Leão IX que a fé religiosa criou o dogma da reza pelos mortos, no dia 2 de novembro, o dia seguinte da festa de Todos os Santos.
É assim que no dia de Todos os Santos, a celebração é dedicada aos que morreram em estado de graça e não foram canonizados, enquanto que no dia de Finados é dedicado aos que morreram e não são lembrados na oração dominical. Fatos históricos à parte, a questão em apreço é que ao se utilizar o passaporte para o além, na grande viagem, se recorda também dos que morrem, todos os dias de orgulho, na ignorância, na fraqueza dos sentimentos dalma, e nos vícios de toda natureza. Sob outra dicção, são aqueles que no dizer de Albert Schweitzer, morrem dentro dele, ou seja; “é a tragédia do homem que morre dentro dele enquanto ele ainda está vivo”.
Nada obstante, esses renascem no outro dia sem terem alcançado os esclarecimentos da vida além da vida. Mas, esse morrer é como se morresse a semente pelo nascimento da flor, aonde outra nascerá, pois, o homem na viagem comemorativa do dia dos Mortos nasce para Deus, como se a anunciar que em toda morte há vida nova e vida em abundância como anotou o homem de Nazaré.
Aceita-se que triste não é a partida dos entes queridos que voltaram à pátria celestial. Em verdade, tristeza é ver gente morrendo por antecipação, de desgosto e de solidão, matando-se no fumo, na bebida, nos maus procedimentos, acabando com o corpo, ferramenta concedida por Deus para a grande travessia do mar bravio da existência, de sorte que devagar e lentamente se suicida, pois, essa gente vai morrendo um pouco a cada dia que passa sem aproveitar a bendita oportunidade da reencarnação.
Por isso, asseverar que a efeméride desperta naqueles que ficam, o desejo de abraçar os que partiram, e outra vez, rasgar o infinito para descobri-los, na imensa vontade de retroceder no tempo assegurando a jornada da reencarnação, de maneira a se tocar nos que partiram, máxime porque o espírito é composto de matéria na quintessência, mas a sua presença se pode sentir ao se comunicar na intimidade das almas, sob o auspício da questão 459 de “O Livro dos Espíritos”.
Quiçá, não seja por outra causa, o ideário do Padre Juca onde se dessedentam esses pensamentos, quando declama em prosa e verso, em linhas gerais que:
"Essa lágrima cristalizada, distante e intocável, essa saudade machucando o coração, esse infinito rolando sobre a nossa pequenez, e esse céu azul e misterioso simboliza àqueles que já partiram e que viveram entre nós. Que encheram de sorrisos e de paz a nossa vida. Foram para o além deixando este vazio inconsolável que a gente às vezes disfarça para esquecer.
Deles guardamos até os mais simples gestos. Sentimos, quando mergulhados em oração o ruído de seus passos e o som de suas vozes. A lembrança dos dias alegres daquela mão nos amparando, daquela lágrima que vimos correr, da vontade de ficar quando era hora de partir.
Essa vontade de rever novamente aquele rosto. Esse arrependimento de não ter dado maiores alegrias. Essa prece diz tudo. Esse soluço que morre na garganta, e há tanta gente morrendo a cada dia sem partir. Esta saudade do tamanho do infinito caindo sobre nós. Essa lembrança dos que foram para a eternidade. Oh! Meu Deus. Que ausência tão cheia de presença. Que morte tão cheia de esperança”.
Com esse sentimento e arrimo nesse ideário, considerando que na vida nada acontece por acaso, mas por uma causa, o certo é que a efeméride em análise é a celebração da vida eterna, porque o Senhor da Vida concede às suas criaturas tudo o que necessitam e não aquilo que desejam. Nessa reflexão, vale sonhar que se um dia acordássemos e encontrássemos ao lado de nossa cama um lindo pacote embrulhado com fitas coloridas, provavelmente o abriríamos antes mesmo de nossa higiene matinal, para saciar a curiosidade.
Entretanto, pode ocorrer que se encontre ali, algo que não se aprecie. Nesse caso, guardaríamos a caixa, pensando o que fazer com o presente aparentemente inútil. No dia imediato, nova cena e nova caixa, com nova sede de abri-la com sofreguidão, resultando encontrar um objeto de nossa predileção. Uma lembrança de alguém distante, uma roupa que nos encantamos na vitrine no dia que nos antecedeu ou a chave de um carro novo, um ramo de flores demonstrando o afeto de alguém que nos tem apreço.
Viva a vida, pois a vida é isso mesmo. Todos os dias recebemos um pacote embrulhado com alegrias e tristezas.
Não sabemos o que vai nos acontecer nas horas que se seguirão, no nosso dia a dia e hora a hora, mas a Providência Divina nos convida à oração matinal, com confiança nos seus desígnios para celebrarmos a vida, bela, colorida e consentida, pois somos eternos e quando acordamos encontramos nossa caixa de presente pronta para as provas e as expiações.
Em verdade é uma caixa de presente surpresa enviada por Deus, contendo um dia novo, inteirinho, para se utilizar da forma que o livre arbítrio escolher. Não se pode esquecer de que às vezes os dias vêm cheios de problemas para se resolver, uma doença a enfrentar, uma partida a experimentar, uma dor pungente de uma separação material, coisas que estiolam os sentimentos d’alma com tristeza e decepção.
Outras vezes o dia vem repleto de boas surpresas, alegrias, vitórias, notícias alvissareiras, conquistas que ofertam o doce perfume da vida. Bem por isso, na alegria ou na dor, o importante é que todos os dias Deus prepara aos seus filhos, enquanto "dormem", o presente do dia seguinte, com fitas multicoloridas para que suas criaturas despertem com um PRESENTE.
O presente do verbo presentear no nosso tempo presente, não será o que mais se quer ou se deseja para melhor atender a vaidade ou o egoísmo que ainda grassa os viandantes, mas será o presente que seus filhos mais necessitam para atender a lei de progresso. Assim será o mimo que enriquecerá os viajores do tempo, na linha da generosidade, da caridade, da solidariedade, servindo de arrimo para o crescimento, moral, ético e espiritual em direção aos esplendores celestes.
Sob esses cânones, as oportunidades ensejam examinar com cuidado o PRESENTE DA DIVINDADE, recebendo-o com amor, resignação e alegria, porque Deus não comete enganos na remessa de seus presentes. Se hoje não veio o presente que se esperava, certamente é o exercício da paciência que dará a oportunidade de aguardar o novo alvorecer trazendo aquilo que acalentará os corações em busca da felicidade.
Com essas reflexões, segue nosso ósculo depositado em seus corações, em nome da oblata da fraternidade, com votos de que a passagem do dia de Todos os Santos e do dia de Finados seja em verdade a Celebração da Vida em nome de Jesus de Nazaré, que venceu a “morte” para entrar na vida eterna.
Do amigo de sempre.
Jaime Facioli.