Uma das nobres virtudes do coração, sem dúvida, é a gratidão. Inegável, sob a claridade dessa luz, que o beneficiado não necessita esperar com sofreguidão agradecimentos do seu benfeitor, ainda que a atitude do beneficiado seja a da ingratidão, porquanto nada obscurece a fraternidade empregada no caminho daquele que olvidou do socorro recebido. Nesse sentido, o farol do axioma popular esclarece que, na prática de todo o bem que se faça, o gesto de benemerência advogará alhures e algures a favor daqueles que se dignam a auxiliar o seu próximo.
Sim. Sob a luz diamantina sentida pelo coração amoroso, o Divino Jardineiro escreveu nas pedras dos tempos, para que não se apagasse jamais a importância de se amar ao próximo como a si. Nada obstante, a pena que anota o assunto em questão, não se exime de registrar, em nome da hilianina verdade, que o discurso sub-óculis, no tocante à ingratidão, seja dos filhos, da esposa, do marido, familiares, amigos, senão dos companheiros da grande viagem nas provas e expiações, propalam aos quatro cantos do mundo como aos ventos o gesto de nobreza praticado.
O reverso da medalha é verdadeiro. É certo que há honrosos comportamentos na área do dever onde a grande maioria dos filhos do Eterno praticam o gesto de ternura com os corações se abrindo para a prática do bem, sem necessitar de agradecimento e sem cantar em prosas e versos a realização do ato generoso, a fim de dar a conhecer o ato de benemerência a toda a sociedade, consciente de que o Senhor da Vida, onipotente, onipresente e onisciente, tudo sabe e tudo vê.
Insista-se: Não será necessário proclamar aos quatro cantos do mundo, as atitudes daqueles que se esforçam para terem puros os corações, porquanto no livro da vida de cada um dos filhos da Potestade tem anotado as ocorrências das provas. Portanto, inegável que somente ao Pai Celestial interessa a atitude de suas criaturas, registrando-se que entre as prédicas do Divino Jardineiro está grafada a lição evangélica para que a mão esquerda não saiba o que faz a mão direita.
Cogente, pois, que é o espelho do bem que reflete a nobreza dos que trabalham pela pureza dos corações, causa porque se roga licença para anotar apenas alguns arautos das virtudes desenvolvidas no coração, como registra a história da humanidade, o nome da Santa Madre de Calcutá, Santa Irmã Dulce, o do Dr. Adolfo Bezerra de Menezes, cognominado o médico dos pobres, Mohandas Karamchand Gandhi, o líder espiritual da Índia, que libertou o seu país do julgo dos poderosos pela não violência, sem olvidar do modelo e guia da humanidade, o Governador do Planeta de provas e expiações, Jesus de Nazaré.
Com a claridade do candieiro nas vidas dos que têm puros os corações, que não se enganem os filhos do Eterno vocacionados para o reto proceder, porquanto, na palavra serena do ínclito Divaldo Pereira Franco, “Nunca houve Terra como hoje. Nunca houve tanta gente dedicada ao bem, abnegada no silêncio do anonimato sonhando com um mundo melhor.”
Desse modo, sob a emoção da pena que realiza o apólogo evangélico, a paráfrase objetiva dizer que, de longe, nas terras distantes de Cesareia de Filipe, procedente da Decápole, chegava à mulher tida como impura, que padecia há doze anos de um fluxo sanguíneo, anátema do corpo, com a alma em desespero, levaram-na a recorrera todos os métodos possíveis, ansiando pela cura.
É vero. Tudo fora infrutífero. Seu mal era um sinal de desventura; naqueles longínquos tempos, diziam ser um castigo de Deus. Após ter dilapidado o que possuía na busca da cura, a “sofredora” se resolvera ir para a cidade de Cafarnaum, onde ouvira falar das curas do Nazareno, o que fez brotar em seu coração a esperança de um remédio, quiçá um médico ainda não consultado, um milagre que aliviasse o seu sofrimento.
Foi nesse cenário de dor que chegou à cidade no momento em que o sublime profeta de Nazaré acabava de chegar nas brancas areias das praias de Cafarnaum. Meu Deus! O acontecimento foi como se fosse “obra do destino”; a mulher hemorrágica pelos caminhos percorridos, tinha notícias do homem santo, pela boca dos que tinham sido abençoados por suas mãos dadivosas a restituir-lhes a saúde. Com efeito, frente a essa realidade, sua esperança se renovou, e quando o povo se comprimia. Almejando chegar mais perto do missionário do amor Divino, ela adotou a mesma postura.
No olhar, via-se a figura majestosa de Jesus na sua simplicidade com luz luminífera, se destacando na multidão; vestia túnica branca tecida sem costura, que simbolizava o objeto inteiro e indivisível; sua indumentária compunha-se de um manto quadrangular de bordas tecidas em fios de linho. A mulher necessitada tentava se aproximar do Mestre e o seu coração parecia lhe saltar do peito e pensava consigo mesma: o que lhe dizer? Como falar de sua premente necessidade, sem expor a intimidade que já lhe custara imensa amargura, e, logo no meio de tanta gente.
Oh! Meu Deus! Logo ela que já fora marcada e humilhada, máxime porque o estigma orgânico do qual era portadora denunciava a sua enfermidade em sua profunda anemia. Sim. Em verdade, apesar de seus íntimos pensamentos, alguma coisa naquele cenário, fazia com ela acreditasse no arauto do amor, e, parecia mesmo que a necessitada sentia uma força extraordinária se desprendendo dele.
Sim. De fato, Nele tudo inspirava calma, luz, serenidade e compaixão, razão porque almejava gritar a sua alegria e esperança do momento. Foi nesse êxtase, quando se encontrava em devaneio que a multidão a derruba no chão e ela em um impulso d’alma, é estimulada a tocar em suas vestes, porquanto em sua incontida fé, esse proceder seria suficiente para que Ele a curasse.
Milagre, diriam os que não compreendiam os fenômenos das energias que envolviam o Divino Pastor, porque foi nesse instante, enquanto a multidão se adensava cada vez mais, que ela, não obstante caída no chão, alongou os braços esquálidos e lhe tocou as vestes com a ponta dos dedos.
Na admiração do povoléu a exclamação era de uma só voz. Que benção! O sangue estancou de imediato, a dor se foi e uma sensação de alegria a dominou, fazendo-a sentir-se renovada, no deslumbramento daquela hora.
Não houve dúvida. O Mestre parou o séquito, e apesar de saber adredemente a ocorrência, interroga a Simão Pedro, fazendo sua voz se destacar na multidão: Quem me tocou? Por seu turno, os discípulos alegavam ser impossível saberem, pois todos se apertam e se comprimiam junto a sua figura majestosa; a beneficiária da graça ela por seu turno, se atira aos pés do Divino Missionário e diz com alegria incontida: “Fui eu, Senhor”. De fato, ela albergava em seu coração a certeza de que, tocando as vestes do Galileu, recuperara a saúde. Jesus a envolveu em Seu olhar e a tranquiliza dizendo: “Filha, vai em paz. A fé te salvou. Fica livre do teu mal”.
Oh! Sim. Cabe anotar o insensato proceder daquela época: Não muito tempo após esses acontecimentos da prática do bem, aquele que veio para ser o modelo e guia da humanidade foi preso e iniciou o seu calvário sem clamar por gratidão dos que veem na retaguarda. Desse modo, iniciava-se às horas de angústia e incerteza do destino (físico) do Divino Pastor, que se seguiu a via-crúcis na subida íngreme até à Colina do chamado monte da Caveira, também conhecido a como monte Gólgota. Sob o peso do madeiro infame, enfraquecido do injusto “castigo”, ato de extrema crueldade na flagelação, Ele cai.
Santa gratidão, numa das vezes em que o benfeitor da mulher hemorrágica de outrora tomba, ela não se contém, embaça a vigilância dos soldados e corre-lhe ao encontro do Mestre com uma toalha branca, limpa-lhe a face ensanguentada e dorida, quando surpresa constata que o rosto D’Ele estampara-se com fidelidade na peça de linho que lhe servia para enxugar o seu rosto angelical, tingido pelo sangue do justo, e ouve de seu benfeitor: “Vai em paz! Lembrar-me-ei de ti...”
No epílogo, a emoção convida as criaturas em provas e expiações, diante do caminho a seguir, agradecer as infinitas bênçãos de que fala a benfeitora Joana de Ângelis esclarecendo que: “a criatura humana diante das fecundas concessões que lhe chegam todos os dias, somente tem motivos para agradecer, jamais para reclamar”. Coloque-se em posição de respeito e intimidade com sua alma. Agradeça e Jesus falará na acústica de sua alma sedenta de gratidão e Ele falará: “Vai em paz! Lembrar-me-ei de ti...”
Escuta o teu coração em gesto pulcro d’alma proclamar aos quatros cantos do mundo, apesar da soldadesca em fúria e daqueles que ainda não despertaram do sono para a elevação do espírito, guardarem a humildade para se envolver no olhar amoroso D’Ele, induzindo aqueles que o seguem a seguir em paz, porquanto seu semblante estará para sempre impresso com sangue da dor e do perdão na toalha alvinitente da gratidão e do amor, sublime amor.
Com esses sentimentos d’alma, segue o ósculo do Nazareno depositado em seus corações, com a hóstia da fraternidade universal, anelando uma semana de muita paz em nome do Divino Pastor.
Do amigo de sempre.
Jaime Facioli