A expressão “é dando que se recebe” tornou-se popular entre os filhos de Deus, graças a mensagem oração iluminativa da lavra de São Francisco de Assis, nada obstante o ser humano na caminhada evolutiva ainda tenha muita dificuldade para dar ou para se doar. Sobre o verbo dar na sua conjugação seja na forma pessoal, singular o plural, em qualquer tempo, modo ou pessoa, a verdade é que o cristão há de estar sempre atento ao sentido nobre no qual o missionário do amor o utilizou, valendo dizer que é a entrega de algo de sua posse a outrem que necessita e não tem como suprir as suas necessidades primárias, sem perquirir a origem da desdita de outrem.
Com essa exposição, o sentido generoso, não se trata de “dar” as costas ou se fazer ouvidos moucos às necessidades do próximo, diante da elevação espiritual que há de se conquistar com a iluminação da bandeira da fraternidade é, sem contradita, o amor ao próximo. A elevação espiritual é patrimônio dos filhos da Providência Divina, no ápice do pódio que se alcança pela fé sincera, construida na abertura de sua personalíssima conquista com a verdadeira entrega aos irmãos necessitados, quer seja pelos recursos materiais, senão na área dos afetos que se deve uns aos outros em nome da mensagem inapagável do Homem de Nazaré, na mensagem sublime que ressoa há mais de dois mil anos nos ouvidos dos que tem puro os corações, convidando ao reto proceder.
Obviamente não se trata de dar coisas, mas afeto, amor, atenção, solidariedade, compreensão, entendimento, perdão, tolerância, paciência, em síntese apertada, todas as virtudes, filhas da caridade, a mais nobre das virtudes. De outro lado, a ninguém será lícito fazer-se de rogado, hipócrita ou desentendido, afirmando que não gosta de receber, de ser bem tratado. Da mesma sorte, ser considerado e honrado entre seus pares, ou admirado na sociedade onde moureja em sua trajetória por esse planeta, ora em transição para um mundo de regeneração.
Em verdade, as criaturas são espíritos de longa romagem por essa abençoada terra de Santa Cruz, a Pátria do Evangelho, Coração do Mundo, na verve das penas poéticas de Humberto de Campos, na profunda poesia que emoldura o infinito de bênçãos inimagináveis ao arrimar a filosofia da vida, bela, colorida e consentida sob o manto do Governador Planetário.
Ora! Sim. Se indistintamente se adora receber, objetos materiais, comendas, títulos e honrarias que iluminam o orgulho dos portadores da nobreza no tratamento digno ou consideração, como as láureas diante do comportamento retilíneo, porque não dar oferecendo ao próximo a nossa estima e elevada consideração, sendo mensageiro do amor na aplicação lhanozas do verbo dar, como ensina São Francisco de Assis.
É dando que se recebe, é uma proposta sincera de amor, vereda da felicidade que somente se encontra no caminho daqueles que conseguem se desprenderem do egoísmo ao iluminar-se na essência do verbo em plenitude do amor como ensina a prédica do Divino missionário. Bem por isso, a visão filosófica de Francisco de Assis, causa profunda reflexão aos irmãos de caminhada por esse planeta de provas e expiações, exarando a compreensão maior do modo como ele viveu pelos caminhos das provas e expiações. Não se trata de entregar todos os bens que o senhor da vida confiou aos seus filhos e viver na miséria, tornando-se mais um dependente social, máxime porque o homem precisa suprir-se e cumprir a sua missão sem tornar-se um peso para a sociedade onde vive.
Parodiando a lição evangélica do Divino Jardineiro, ao examinar o óbolo da viúva depositado no gazofilácio, disse Ele aos seus discípulos: Em verdade, em verdade vos digo: Ela deu mais do que todos eles juntos, pois deu do seu necessário, quando os outros deram do seu supérfluo. Assim, o missionário lançou mão de instrumentos de vida, coisas simples, consciente de que trazia ínsito n’alma o sentimento de que ninguém é possuidor de coisa alguma, mas em verdade, depositário, condição que devemos exercer com retidão para não se tornar depositário infiel. No íntimo de seu ser, encontrava a orientação segura de Jesus a propor que procurasse conquistar a si mesmo, pois aí estaria a riqueza verdadeira, a que não pode ser usurpada por nenhum viajor desalinhado com as leis de Deus e que nenhuma traça pode corroer.
São Francisco compreendeu a lucidez dessa realidade ao perceber como são fugazes os haveres materiais. São perecíveis e temporais. Sem contradita, tudo, mas tudo mesmo é perecível à ação intransigente e indomável do senhor do tempo. O “pobrezinho de Assis” clareou os caminhos dos que buscam a paz interior, mostrando que se deve encontrar em primeiro lugar os valores que pulsem no meio dessa atemporalidade, certo de que o que pertence à alma é somente aquilo que ela pode conduzir consigo onde quer que se esteja. Esses são os únicos valores passíveis de impregnar a alma, tornando-se sua parte constitutiva, como o brilho, a cor, a realidade, à luz da questão 88 de “O Livro dos Espíritos” em frequência desenvolvida através do comportamento individual.
Nesse sentir, a conclusão filosófica do emissário de Assis, é dando que se recebe, não anota qualquer coisa material, mas às doações da alma. Crível pois, pelas leis da sintonia, da reciprocidade, ou de causa e efeito, que o que parte de nós é, sem dúvida o que a nós retorna em razão de nosso proceder sem egoísmo.
A sementeira é livre, mas a colheita é obrigatória ensina o Homem de Nazaré, razão porque, ao se fechar a mão direita, nada mais se obtém, interrompendo o fluxo, das bens aventuranças que flui pela mão esquerda, entrando como benção da Providência Divina para ser repartida com os irmãos de caminhada. Indiscutivelmente, na prédica de Jesus, tudo o que se oferece ao solo, o solo devolve, ampliado, renovado, sejam o aroma das flores perfumando a vida, sejam os acúleos que ferem. Assim, é dever dos filhos de Deus semear simpatia para colher os seus frutos, pois se distribuirmos farpas, as teremos de volta por injunção da lei de atração.
A doação da esperança e da palavra que consola e no ombro amigo, indiscutivelmente nos veremos esperançados. Da mesma sorte se a doação ao irmão enfraquecido for de agonia e desprezo, o retorno será o desespero em breve porvir. Se ofertarmos tempo para atender ao próximo, ver-se-á que as preocupações do próprio coração estarão sendo atendidas. A atitude de perdoar o familiar ou aqueles que nos ofendem, concede ao ofendido por sua vez, encontrar com mais facilidade o auto perdão. Semear a paz, o otimismo, num mundo predileto pelas notícias aterradoras dos dias atuais, é colher tranquilidade em meio ao caos, da balbúrdia ensurdecedora.
É dando que se recebe. É dando-nos, doando-nos que receberemos a recompensa da consciência pacificada, cumpridora de todos os deveres para com Deus, o próximo e a nós mesmos. Amemo-nos e estaremos amando. Perdoemos e estaremos nos perdoando. Doemos e já estaremos recebendo. Experimentemos a doce exortação de Francisco de Assis e nos sintamos em paz, desde agora e por todos os evos.
Nesse repositório de pensamentos, também se colhe os espinhos do tempo, pelas situações difíceis que passamos. A desinteligência no lar, a separação judicial, a perda de um filho em tenra idade, a literal falência dos negócios. Momentos tristes há que não será necessário nominá-los. Mas tudo isso, quando olhamos pelo túnel do tempo, constatamos que entre as provas que fizemos, as alegrias que vivemos, os tormentos que suportamos com resignação, tudo, mas absolutamente tudo mesmo valeu a pena ser vivido, pois o resultado dessa caminhada é a evolução de nosso espírito, mediante a entrega do dar para receber como exortou em pérolas liriais o filho dileto de Assis.
Com essas reflexões, enviamos nosso ósculo depositado em seus corações em nome da oblata da fraternidade, com votos de um ótimo fim de semana.
Do amigo fraterno de sempre.
– Jaime Facioli –