A vida não é segredo. Navega-se na imensidão de espinhos, universidade de aprendizado da existência. Com essa reflexão, valido associar-se ao poeta Carlos Drummond de Andrade para declarar que a vida é uma sucessão de acontecimentos, senão, em outras palavras, ocorrências tristes, na dor física ou no pungente sofrimento moral. Sim. Na grande viagem inescapável dos irmãos, amigos, parentes, pais biológicos, no dizer do poeta popular, “na partida antes da hora combinada”, há momentos de felicidades integrando a jornada por essa terra do Pai Celeste.
É o nascimento de um filho, de um neto, a união entre dois seres que se amam, a saúde do corpo físico, o reatamento de uma amizade há tanto tempo esquecida, o despertar do espírito para a realidade existencial, a bem-aventurança de conhecer o Evangelho Redivivo do Mestre Jesus. A família bem estruturada na fé. São tantas bênçãos que o infinito não alcança descrever, máxime sabendo-se que a Providência Divina também trabalha no varejo, porquanto afiançou o Nazareno que o Pai trabalha até hoje, e que também Ele trabalha até hoje.
De um conceito a outro, pesa o fato que o propósito da Divindade em nos colocar nesse mundo de provas e expiações está bem definido. Sendo Ele, Pai de amor, bondade e misericórdia, nos criou simples e ignorantes, segundo a resposta dos imortais à questão proposta pelo ínclito codificador na pergunta nº 133 de “O Livro dos Espíritos”. O Senhor do Universo, Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas, sendo Onipotente, Onisciente e Onipresente, conhece os imperativos das conquistas de suas criaturas para valorizar as vitórias das provas da jornada.
Nesse arrazoado, através do exercício do livre arbítrio, temos facultadas as escolhas da vida, sem olvidar que tudo tem um preço, considerando que a Consciência Cósmica estabeleceu Leis sábias e inderrogáveis para que se possa alcançar os parámos celestiais. Não há privilégios. Todos são iguais perante a sua justiça e lei. O Divino Jardineiro, quando de sua viagem na matéria por esse planeta asseverou que a Divindade nos concedeu como morada transitória, lecionando que há duas portas para a escolha de seus filhos para exercitarem o livre arbítrio.
A porta larga das seduções, das paixões, dos vícios, do roubo, do furto, do latrocínio, das mentiras, das falsidades e dos crimes de todo jaez. A porta estreita, por onde cada um individualmente tem que atravessar para chegar aos altiplanos celestiais. Pela porta personalíssima passam somente aqueles que praticam o perdão, a indulgência, a caridade, o amor em plenitude, a mansuetude, enfim, aqueles que procedem retamente nos compromissos da vida, respeitando as leis da divindade, inscritas indelevelmente nas consciências das criaturas, segundo os ditames da questão número 621 de “O Livro dos Espíritos”.
A bondade infinita do Pai Celestial na sua misericórdia, quando se elege o caminho dos espinhos, as dores chegam como forma de equilíbrio do Universo e pedagogia da vida, porque Ele está atento a auxiliar o projeto dos corações em transformação para a pulcritude. Para esse arrimo, Ele nos ofereceu o caminho e a luz que pode guiar seus filhos aos páramos celestiais. Trata-se de Jesus de Nazaré, o Divino Jardineiro.
É dele a prédica: “Vinde a mim, todos vós que sofreis e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós, e aprendei de mim que sou brando e humilde de coração, e encontrareis o repouso de vossas almas; porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve”. Na mesma verve do Divino Rabi da Galileia, o Rabi declara a lição do caminho a ser seguido: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai se não for por mim. Àquele que me segue jamais viverá na escuridão, mas terá toda a luz do mundo”
Nesse sentir d’alma, quando em dificuldades pelas más escolhas do pretérito das provas, na hora da dor e do resgate doloroso para o equilíbrio do Universo, apelemos ao Divino Jardineiro. Quando a alma estiver aflita, em desespero ou em desesperança para manter a fé na Divindade, apelemos ao Celeste Amigo para que nos ajude a suportar os espinhos das rosas com resignação, até sentir o suave perfume das pétalas das rosas da vida. Tu mesmo, amigo incomparável das vidas em trânsito, experimentastes quando a mulher equivocada lavou vossos pés com a essência de nardo, o suave perfume das rosas da vida, ao reconhecer a tua excelsitude.
Cogente, pois, que nos momentos de dor apelemos ao Homem de Nazaré, externando nossa súplica dizendo: Vem, Celeste Amigo, vem. Toma do nosso passo e leva-nos ao caminho do Bem. Vem Celeste Amigo, vem. Para que Te possamos servir e amar, entregues ao espírito de renúncia por fidelidade a Ti. Afinal, são tantos os que Te dizem "Senhor! Senhor", mas poucos são aqueles que Te amam verdadeiramente das profundezas de seus corações. Permite, Senhor, que em nossa noite de agonia possamos curvar-nos à dor e, sob o látego da provação, entreguemo-nos em holocausto ao Teu amor.
Dia novo de luz - hora de bênção. O Evangelho em triunfo necessita do adubo do testemunho. Somos aqueles discípulos equivocados que malogramos ontem, que nos equivocamos hoje, mas a Tua soberana misericórdia nos reconvocou. Toma de nossas mãos e leva-nos, Amigo Divino, ao caminho da libertação. Agora, amigos, é a nossa hora, não amanhã. Este é o nosso momento, não depois. Com Jesus, por Jesus e em Jesus, a nossa meta será de paz.
No advérbio do tempo, final do discurso evangélico sobre a serenidade, ponto finaliza questionando os profitentes sobre o tema de magna importância, observando como as pessoas andam pelas ruas e avenidas apreensivas. Os semblantes sempre carregados e o cenho franzido traduzem a angústia íntima, a problemática em que se encontram mergulhados. Há momentos que dão a impressão que a maioria das pessoas anda em batalha interior constante.
Oh! Meu Deus! É chegada a hora de se perguntarem, por onde viaja a serenidade, em especial para aqueles que ostentam o adjetivo de cristãos. Acaso terão esquecido a exortação de Jesus: A cada dia basta o seu cuidado?
E aqueloutra: Se, pois, Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé!
É por essa razão que, com regularidade, a Providência Divina permite que Seus missionários visitem a Terra, travestidos em corpos humanos e nas mais variadas frentes de trabalho. Anote-se: os cardeais em Roma encontraram um sucessor para Pio XII, que morrera após dirigir os destinos da Igreja Católica por 19 anos.
Aos 77 anos, Ângelo Giuseppe Roncalli assumiu o papado com o nome de João XXIII. Ângelo Roncalli era um homem que causava um impacto sempre favorável nas pessoas. Reconhecia claramente suas limitações e era dotado de um vivo senso de humor. Surpreendeu pela coragem de inaugurar debates sobre temas intocáveis até então. Em um documento, asseverou que todos os homens têm direito de escolher a sua religião.
Em 1960, num dos seus escritos, ele registrou uma página com notável sentimento de religiosidade universal. Chama-se O Decálogo da Serenidade e contém sugestões de conduta para o homem que deseja a paz. Procurarei viver pensando apenas no hoje, sem querer resolver todos os problemas da vida de uma só vez. Seja cortês, a ninguém critique nem pretenderei corrigir à força.
Hoje, apenas hoje, serei feliz, na certeza de que fui criado para a felicidade, não só no outro mundo, mas também neste. Adaptar¬-se às circunstâncias, sem pretender que sejam todas as circunstâncias a se adaptarem aos meus desejos. Hoje, apenas hoje, dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, recordando que, assim como o alimento é necessário para a vida do corpo, assim a boa leitura é necessária para a vida da alma.
Hoje, apenas hoje, farei uma boa ação e não direi a ninguém. Hoje, apenas hoje, acreditarei firmemente, embora as circunstâncias mostrem o contrário, que a Providência de Deus se ocupa de mim como se não existisse mais ninguém no mundo.
Hoje, apenas hoje, não terei nenhum temor, sou filho de Deus. Em síntese apertada, o que define as conquistas das virtudes nos esforços do presente, descobre o imenso prazer de ser bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens veem irmãos seus utilizando a virtude da serenidade em nome de Jesus de Nazaré.
Com essas considerações, recebam os irmãos de caminhada o ósculo da fraternidade em seus corações, sereno com o amor do rabone e a oblata da fraternidade em seus corações, com votos de muita paz em nome de Jesus de Nazaré.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli.