A EXCELÊNCIA DA VIRTUDE DO PERDÃO

O que faria se fôssemos encantados por uma circunstância qualquer e tivéssemos nas mãos a possibilidade de decidir a respeito do destino de uma pessoa que nos provocou muitos problemas? Alguém que estendeu o manto da calúnia e destruiu o bom senso perante os amigos. Quiçá um irmão que se apossou da empresa, fruto do labor de tantos anos. Alguém que tenha ferido brutalmente um membro da nossa família. Oh! Meu Deus! Será que lembraríamos da lição do perdão, ensinada por Jesus? Será que viriam à nossa mente as palavras do Mestre Galileu: Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.

Do mesmo jaez, a exortação a respeito de se reconciliar o mais depressa com o adversário, anota-se que um escravo se tornou uma pessoa de grande valor para o senhor da fazenda, devido à sua honradez e bom comportamento. Em razão do elevado esforço, alcança a mais alta posição na qualidade de administrador de suas fazendas e, em certa oportunidade, o senhor desejou comprar mais vinte escravos.

Foram juntos ao mercado e o administrador foi encarregado de observar e escolher. Deveriam ser, naturalmente, homens fortes, para poderem desempenhar bem as rudes tarefas nas fazendas. O administrador foi ao mercado e começou a sua busca. Em certo momento, fixou a vista num velho e decrépito escravo, apontando para o seu senhor e disse que aquele devia ser um dos que deveria ser adquirido. O fazendeiro ficou surpreendido com a escolha e não concordou. Ouvindo o diálogo, o negociante de escravos disse que, se fossem comprados vinte homens, ele daria o velho de graça. Realizada a negociação, foram todos levados para uma das propriedades.

O administrador passou a tratar o velho com maior cuidado e atenção do que a qualquer um. Levou-o para sua casa. Dava-lhe da sua comida. Quando tinha frio, levava-o para o sol. Quando tinha calor, colocava-o debaixo das árvores de cacau, à sombra. Admirado com aquelas atenções dispensadas a um escravo, o senhor perguntou por que ele procedia daquela forma. Decerto deveria ter algum motivo especial: é seu parente, talvez seu pai? A resposta foi negativa. É seu irmão mais velho? Também não, respondeu. É seu tio ou outro parente?

Não tenho parentesco algum com ele. Nem mesmo é meu amigo. Então, perguntou o fazendeiro, por que motivo tem tanto interesse por ele? Ele é meu inimigo, senhor. Vendeu-me a um negociante, e foi assim que me tornei escravo. Mas eu aprendi, nos ensinamentos de Jesus, que devemos perdoar aos nossos inimigos. Esta é a oportunidade de exercitar meu aprendizado.

O perdão acalma e abençoa o seu doador. Maior é a felicidade de quem expressa o perdão. O perdoado é alguém em processo de recuperação. No entanto, aquele que lhe dispensa o esquecimento do mal, já alcançou as alturas do bem e da solidariedade. Quando entendermos que perdoar é conquistar enobrecimento, nos faremos fortes pelas concessões de amor e compreensão que sejamos capazes de distribuir e na gratidão, ter sempre as mãos cheias de graça, em nome de Jesus de Nazaré.

A vida nos convida a todo o momento a estarmos atentos à questão número 625 de "O Livro dos Espíritos", ocasião em que o nosso paracleto questiona ao Espírito de Verdade. "Qual é o tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para servir de guia e de modelo", ao que respondeu o espírito venerando, "ipsis litteris": "Vede Jesus".

De fato, amigos, tendo o modelo, a referência, estaremos aptos a seguir os ditames daqueles que têm puro o coração e poderemos a qualquer momento imitar o seu gesto e seguir as suas pegadas, atendendo ao próximo, socorrendo nas necessidades da hora a hora, oferecendo o nosso ombro amigo, nosso conselho e nosso apoio.

Desse modo fala muito ao coração, recordarmos o poema enunciado na retórica de Pegadas na Areia, lavra de Mary Stevenson, escrito em 1936 e que lhe custou esforços para se ver reconhecida em 1984. Cabe, por isso, homenagear esse espírito notável, rendendo-lhe os tributos que lhe são devidos pelo momento de tão elevada sensibilidade e comunhão espiritual, transcrevendo sua poesia que nos guiará os passos na direção dessa prédica para sensibilizar os corações que anelam pelos bálsamos de amor do Divino Pastor.

DIZ O POEMA:


Uma noite eu tive um sonho... Sonhei que estava andando na praia com o Senhor, e através do céu passavam cenas de minha vida. Cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia; um era o meu e o outro do Senhor. A última cena de minha vida passou diante de nós, olhei para trás, as pegadas na areia, e notei que muitas vezes no caminho da minha vida havia apenas um par de pegadas na areia.

Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos da minha vida. Isso me aborreceu deveras, e perguntei então ao Senhor: Senhor, Tu me disseste que, uma vez que resolvi Te seguir, Tu andarias sempre comigo, todo o caminho, mas notei que durante as maiores atribulações do meu viver, havia na areia dos caminhos da vida, apenas um par de pegadas.

Não compreendo por que, nas horas em que eu mais necessitava de Ti, tu me deixaste. O Senhor respondeu: meu precioso irmão, eu te amo e jamais te deixaria nas horas das tuas provas e do teu sofrimento.

Quando viste na areia da praia as marcas, foste a mim que viste deixando marca profunda, pois carregava a ti, carregado de sofrimento. O mestre está sempre a nos amparar e se ele é nosso modelo e guia, poderemos nós também seguir suas lições, tranquilizando nossos corações para bem proceder quando alguém nos procurar com frio, porque teremos a oportunidade de servirmos de cobertor que agasalha. Se a procura vier esparzindo alegria, ofereçamos o sorriso que alegra. Se a busca de nossa pessoa for feita com lágrimas, sejamos o lenço que alivia a dor. Se o irmão trouxer versos, façamos a música para ilustrar os versos com amor e esperança.


Se o companheiro de viagem trouxer a dor, sejamos o lenitivo que cura as feridas, realizando com as palavras a oferta do ombro amigo. Se porventura ele estiver com fome, sejamos o alimento a mancheias para aplacar a fome, mas se ele trouxer beijos e afagos, estejamos certos de podermos ofertar o mel que alimenta a vida. Se houver dúvidas na sua busca, que possamos lhe indicar a direção correta para acalmar o seu espírito. Se o amigo carregar consigo o desânimo, vamos estimulá-lo para prosseguir no bom combate, como ensinou o apóstolo dos gentios Paulo de Tarso.

Se ele estiver com medo, poderá encontrar em nosso coração o amor fraterno, água da fonte inesgotável do amor do Cristo de Deus. Por isso, amigos, quando alguém nos procurar, lembremo-nos de que ninguém chegará até nós por acaso, como propõe o espeque dessa semana. O Universo da Consciência Cósmica tem um propósito e o mundo está nas mãos daqueles que têm coragem de enfrentar a vida que é bela, colorida e consentida, declamando em alto e bom som:

Cada dia, Senhor, surgem oportunidades para provar que Tu és uma fonte inesgotável de poder ilimitado e eficaz que aciona minha fé. Sinto que as minhas orações são sempre ouvidas. Uma a uma, e ao seu tempo, são respondidas. E por isso confio que a porta que o Senhor vier abrir para mim, ninguém poderá fechar.

Eu confio em Ti, não temo e não vou me abalar. Mesmo que a morte venha me encarar. Pois o Teu poder e Tua graça me fazem ver que sou muito mais que vencedor, sou filho da tua Providência Divina e quando a Lua se esconder é porque o sol está para nascer e, ao nascer do sol, vejo que o Senhor não está somente do meu lado, mas sim me carregando no colo.

Ponto finalizando, no mais nobre sentimento d’alma, ciente que o Senhor da Vida cuida de todas as suas criaturas, entrego o ósculo do amor em plenitude ao seu filho amantíssimo Jesus de Nazaré, para todos os evos.


Do amigo de sempre:

Jaime Facioli.




JAIME BARBOSA FACIOLI
jaimefacioli.adv@uol.com.br