É inegável que os filhos do Divino, na trajetória pelo mundo globalizado, percorreram com sofreguidão os ditames da Lei de Evolução, onde os seres humanos, exceções, desconhecem o poder das palavras destinadas à compreensão destinada à pacificação, quando não as utilizam impropriamente, resultando em agressões e ofensas que ferem os irmãos de caminhada. Em verdade, os seres letrados ou sem preparo sabem por intuição o poderoso veículo de convencimento de outrem para se comunicarem nos pontos de vista daqueles que a utilizam para o bem ou para o mal.
É dever seguir as lições do Rabino, transformando as palavras quando inadequadas no ideário dos companheiros de viagem pelo planeta de provas e expiações, assim, associamo-nos às ideias que nos chegam de todos os cantos do mundo, comprando e vendendo mercadorias, atendendo os apelos das razões, pela palavra escrita, articulada ou televisada.
Insaciável, o poderoso meio de comunicação pelas palavras serve aos despropósitos daquele cujo caráter não ascendeu à elevação moral anelada pelos candidatos à bem-aventurança dos puros de coração, e a falta de bons princípios utilizam-na para ferir, escrachar, injuriar e mascarar as intenções das pessoas, carregando o veneno mortal da desdita naquele que faz mau uso desse instrumento de amor.
É crível estar encravada no abençoado livro Seara dos médiuns, pelo Espírito Emmanuel, psicografada pelas mãos abençoadas de Francisco Cândido Xavier; é que na carta de Tiago há os três da existência em questões que não têm volta, ou sob outra dição: A FLECHA LANÇADA, A PALAVRA FALADA E A OPORTUNIDADE PERDIDA. Com efeito, pronunciada a palavra, no sentido lato, também o pensamento, não há maneira de fazer com que ela ou ele retorne, pois fogem do controle e do raio de ação.
É indispensável pensar e pesar muito bem antes de se pronunciar a respeito de um tema, uma situação ou um fato, pois é evidente que, não podendo fazer com que a palavra volte ou nosso pensamento retroceda, não há como negar, atendendo à lei de causa e efeito, que se submete a responder pela ação praticada junto à sociedade civil organizada. Indubitavelmente, é a palavra que reflete, de forma segura, o nível moral em que nos encontramos.
Com a palavra se propagam as boas obras e se acende a esperança nos corações amorosos, despertando a fé. Ao fortalecer a fé vacilante, sustenta-se a paz e, concomitantemente, a má palavra, quando empregada, serve para alimentar o vício e a delinquência.
Utilizando a palavra, o professor eleva a mente dos seus aprendizes às culminâncias do saber, ensejando aos seus discípulos descortinarem o mundo belo, colorido e consentido. Usando a palavra, o malfeitor arroja um infindável número de vítimas do não vigiar, não orar e não ter olhos para ver, para o fosso do crime. Conversando, a mãe educa e dulcifica o filho, apontando-lhe os caminhos da honra e do dever.
Usando da palavra, maus líderes editam leis espúrias, conduzem os povos às guerras cruentas, permitindo que a boca escancarada da morte ceife vidas preciosas. Na contrapartida do exercício do livre-arbítrio, os bons governantes, sinceramente preocupados com seus comandados e responsabilidades, elaboram discursos de paz e se esforçam por concedê-la. O Divino Rabi da Galileia falou e o Evangelho surgiu como a Boa Nova que todos aguardavam, sofridos e desalentados.
Antes Dele, a fim de preparar os caminhos, uma voz se ergueu desde o deserto até as margens do rio Jordão, pregando um novo tempo. Um tempo em que as veredas do Senhor seriam aplainadas e os homens poderiam ouvir o doce cântico de um Rabi. Nas tardes quentes, nas noites amenas, Jesus serviu-se da palavra para ensinar as verdades do Pai que está nos céus, para manifestar a Sua vontade generosa e curar enfermos.
Com Seu verbo e sua logística incomparável, salvou da morte por apedrejamento uma mulher que se equivocara, esquecendo-se dos seus deveres de esposa. E não se deteve, a outra ofereceu a água viva que mata a sede de saber espiritual. Serviu-Se da palavra e pediu perdão ao Pai para os que O crucificaram e, com a palavra da fé, entregou-Se a Deus. O apóstolo Paulo, pela palavra consciente e esclarecedora, levou as boas novas do Reino de Deus a lugares inimagináveis.
O Messias deixava-se inflamar pela inspiração dos céus, que seu verbo convertia multidões. Tão bem se expressava e com tal fervor que chegaram a confundi-lo com o próprio Deus. Gandhi serviu-se da palavra para convidar a todos os seus irmãos da Índia a se unirem pelo mesmo ideal, seguindo os passos de Jesus, elegeu a não violência como forma de vencer as dificuldades da vida.
Martin Luther King Jr. discursou em nome da paz, desejando que brancos e negros se sentissem irmãos. Quando a guerra civil devastava o solo americano, o presidente Lincoln usou da palavra de bom ânimo para levantar a moral dos soldados abatidos pelas derrotas e pelo abandono que acreditavam sofrer.
O verbo é sempre a manifestação da inteligência sadia ou enferma. É a base da escrita. E, toda vez que utilizamos a palavra, semeamos bênçãos ou espalhamos tempestades. Desse modo, ainda que trevas e espinheiros se alonguem junto a nós, governemos a emoção e pronunciemos sempre a palavra que instrua ou console, que ajude ou santifique.
Mesmo que a provocação do mal nos convide à desordem, a condenar e a ferir, abençoemos a vida, onde estivermos. Aprendamos a calar toda frase que destrua, porque toda palavra que agride é moeda falsa no tesouro do coração. É notória a história que se conta sobre o poder da palavra, que dulcifica os corações amorosos e os torna sensíveis ao amor, sublime amor.
Conta-se que certo dia um homem revoltado criou um poderoso e longo pensamento de ódio, colocou-o numa carta rude e malcriada e mandou-a para seu chefe da oficina de onde fora despedido. O pensamento foi vazado em forma de ameaças cruéis. E quando o diretor do serviço leu as frases ingratas que o expressavam, acolheu-o desprevenidamente no próprio coração e tornou-se furioso sem saber por quê.
Encontrou, quase de imediato, o subchefe da oficina e, a pretexto de enxergar uma pequena peça quebrada, desfechou sobre ele a bomba mental que trazia consigo. Foi a vez do subchefe tornar-se neurastênico, sem dar o motivo. Abrigou a projeção maléfica no sentimento, permaneceu amuado várias horas e, no instante do almoço, ao invés de alimentar-se, descarregou na esposa o perigoso dardo intangível.
Foi tão só por ver um sapato imperfeitamente engraxado que proferiu dezenas de palavras chulas; sentiu-se aliviado e a mulher passou a asilar no peito a odienta vibração, em forma de cólera inexplicável. Repentinamente transtornada pelo raio que a ferira e que, até ali, ninguém soubera remover, encaminhou-se para a empregada que se incumbia do serviço de calçados e desabafou. Com palavras indesejáveis, inoculou-lhe no coração da servidora o estilete invisível.
Agora, era uma pobre menina quem detinha o tóxico mental. Não podendo despejá-lo nos pratos e xícaras ao alcance de suas mãos, em vista do enorme débito em dinheiro que seria compelida a aceitar, acercou-se do velho cão, dorminhoco e paciente, e transferiu-lhe o veneno imponderável, num pontapé de largas proporções. O animal ganiu e disparou, tocado pela energia mortífera, e, para livrar-se desta, mordeu a primeira pessoa que encontrou na via pública.
Era a senhora de um proprietário vizinho que, ferida na coxa, se enfureceu instantaneamente, absorvendo a vibração amaldiçoada. Em gritaria desesperada, foi conduzida a certa farmácia; entretanto, deu-se pressa em transferir ao enfermeiro que a socorria a vibração amaldiçoada.
Crivou-o de xingamentos e esbofeteou-lhe o rosto. Rapaz muito prestativo, de calmo que era, converteu-se em fera verdadeira. Revidou os golpes recebidos com observações ásperas e saiu, alucinado, para a sua residência, onde a velha e devotada mãezinha o esperava para a refeição da tarde. Chegou e descarregou sobre ela toda a ira de que era portador: Estou farto! Bradou. A senhora é culpada dos aborrecimentos que me perseguem! Não suporto mais esta vida infeliz! Fuja de minha frente! Fez mau uso da palavra e pronunciou nomes terríveis. Blasfemou, gritou colérico, qual louco.
A velhinha, porém, longe de agastar-se, tomou-lhe as mãos e disse-lhe com naturalidade e brandura: Venha cá, meu filho! Você está cansado e doente! Sei a extensão de seus sacrifícios por mim e reconheço que tem razão para lamentar-se. No entanto, tenhamos bom ânimo! Lembremo-nos de Jesus! O uso que O Divino Jardineiro fez das palavras dulcificadas. Afinal, tudo passa na Terra.
Não nos esqueçamos do amor que o Mestre nos legou. Abraçou-o, comovida, e afogou-lhe os cabelos. O filho demorou-se a contemplar-lhe os olhos serenos e reconheceu que havia carinho materno, tanto perdão e tanto entendimento que começou a chorar, pedindo-lhe desculpas.
Houve então entre os dois uma explosão de íntimas alegrias. Jantaram felizes e oraram em sinal de reconhecimento a Deus. A projeção destrutiva do ódio morrera ali, dentro do lar humilde, diante da força infalível do sublime amor.
Com esses sentimentos d’alma, recebam o ósculo depositado em seus corações em nome da oblata da fraternidade universal, anelando que tenham uma ótima semana em nome da Excelência da boa palavra e do Amor de Jesus.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli