O poeta pátrio do século XX, Carlos Drumond de Andrade teve oportunidade para imortalizar um dos seus belíssimos poemas nas penas do tempo para esclarecer, à saciedade, que na vida tudo passa, para recomeçar a vida com novas esperanças, registrando nas rochas da eternidade as criaturas do Eterno que jamais se esqueceram da fé.
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para frente tudo vai ser diferente.”
Nesse sentido, expandem-se os sentimentos dos profitentes para bem compreenderem que os filhos do Eterno, quando experimentam suas provas e expiações, passam necessariamente pela experiência da alegria através da euforia, quiçá a dor, essa dor que muitos se deixam conduzir através da desesperança.
É a partida de um ente querido, "fora da hora combinada", deixando saudades e sofrimento que parece intransponível; às vezes é a decepção com uma pessoa a quem se confiou os mais ricos sentimentos do coração; outras vezes será, quem sabe, a constatação de que não se logrou êxito num projeto das provas, verbi e gratia, um exame para a magistratura, onde um melhor preparo se fazia necessário.
Oh! Meu Deus. A perda de emprego e as doenças chegam sem avisar; a má gestão dos negócios, títulos que vão para os cartórios de protestos. Oh! Sim. Tudo isso e muito mais do que imagina a vã filosofia se encontram no caminho das provas e expiações, dando o colorido da escolha que se faz pelo exercício do livre arbítrio, sem necessidade de se fazer tempestade em copo de água, porque tudo na vida passa, tomando como referência o bom ânimo para recomeçar, pois, afinal, o Divino Pastor, apesar dos pesares, disse textualmente que venceu o mundo.
Por conta da decisão do bom ânimo e do emprego correto do verbo recomeçar, quando a dor calar profundamente nas almas em sofrimento, não se permita deixar abater no desânimo, na depressão, ou adentrar as fronteiras da crise de pânico, entibiando a vida que floresce ao derredor.
Sim. Sem dúvida. Alguns mais fracos na fé ou na religiosidade optam pelo caminho do suicídio, agravando em muito a situação onde se esperava pôr fim às dificuldades que serviam de arrimo para o crescimento espiritual e o fortalecimento das provas como candidatos à felicidade.
Consta na historiografia do saudoso Chico Xavier que em certa ocasião, procurado por uma necessitada de seus préstimos, não foi encontrado, pois estava trabalhando duro para ganhar honestamente o seu pão de cada dia. Repetida a façanha, novo desalento acercou-se da necessitada.
Quando a mulher se encontrou com esse benfeitor da humanidade, sem nada lhe dizer e guardando a mágoa de não o ter encontrado nas diversas ocasiões em que o procurou, sem outras palavras, deu-lhe um tremendo tapa na cara que o atirou ao chão. Naquele ensejo, conta-se que Chico, vendo se aproximar o seu mentor espiritual Emmanuel, questionou-o, dizendo:
Oh! Meu Deus. Não conheço essa mulher, nunca a vi, nada lhe fiz, e interrogou o nobre guia dos que têm puro o coração sobre o que fazer, e agora Emmanuel, o que faço? O mentor lhe respondeu sem hesitar: “Na vida tudo passa, isso também passará, Chico, levanta e vai atender a necessitada.”
Sem dúvida, é preciso recomeçar com bom ânimo no fluxo da esperança que jamais se abate no caminho da fé, porque tudo passa, a alegria, dor, a saudade, a falta de recursos, a doença, o desespero, tudo passa, nada fica para sempre, porquanto cada criatura tem o seu tempo para florir aos olhos do Criador.
Quem não tem na memória infinitas recordações da ribalta das provas, onde se revive a alegria incontida, como o nascimento dos filhos, dos netos, o momento da colação de grau, os afagos na querida mãezinha que já fez a grande viagem, o restabelecimento de uma amizade perdida, a compra de uma casa, apartamento, a vitória dos projetos traçados nos proscênios da existência.
No mesmo repositório de pensamentos, também se colhem os espinhos do tempo, pelas situações difíceis que se passou. A desinteligência no lar, a separação judicial, a partida de um filho em tenra idade, a literal falência dos negócios. Momentos tristes que não será necessário nomeá-los.
Em verdade, todas essas ocorrências fazem parte do protocolo das provas e expiações, mas quando se olha através do túnel do tempo, constata-se que entre as provas que se fez, as alegrias que se experimenta, os tormentos que se suporta com resignação, tudo, mas absolutamente tudo mesmo vale a pena ser vivido, pois o resultado dessa caminhada pelos abrolhos da jornada é a evolução do espírito, dando a certeza de que hoje os viandantes estão melhores do que quando se iniciou a jornada e no porvir dessa reencarnação, no amanhã melhor se estará, porquanto no rumo certo dos esplendores celestes, pois nas leis da vida não existe retrocesso.
Diante desse corolário, e nas lições de Emmanuel, onde também se dessedentam essas reflexões, há pérolas liriais de que todas as coisas na terra passam, assim como os dias de dificuldades passarão, os dias de amargura ao mesmo tempo compõem essa passagem. A solidão não se fará de rogada e também deixará para se viver as alegrias dessa transição existencial.
As lágrimas cederão lugar às estrelas que formam miríades de luz no centro da existência e, com isso, lavam a alma e também passarão. As frustrações que fazem verter as lágrimas da dor passarão.
A saudade do ser querido será suprida quando, no barco que parte nessa viagem, no outro porto, além dessa existência, estarão amigos e parentes que antecederam a tournée e agora, esperam com os braços abertos, como Jesus de Nazaré, na passagem evangélica a dizer:
Vinde a mim todos vós que estais sobrecarregados e eu vos aliviarei, tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim que sou manso e pacífico de coração e vossas almas se aliviarão, pois, meu fardo é leve e meu jugo é suave.”
Sem contradita, é por esse viés que os dias de tristeza e de felicidade são apenas componentes da existência. Seu propósito é testar as resistências e fortalecer os viandantes para a caminhada em direção aos altiplanos celestiais, e, se porventura o momento estiver repleto de nuvens obnubiladas, eleve aos céus o pensamento em busca da voz suave da mãe santíssima exortando seus filhos carinhosamente de que isso também passará.
Vivendo essas lições, guardar-se-á nesse tesouro a certeza de que, pelas dificuldades já superadas, não há mal que sempre dure e nem bem que não se acabe, pois tudo passará cedendo lugar à única fatalidade que existe, a morada preparada pelo missionário do amor, os páramos celestiais.
O planeta onde se vive pela misericórdia do Pai Celestial é semelhante a uma enorme embarcação que às vezes parece que vai soçobrar diante das turbulências das provas e do mar bravio com as gigantescas ondas em desalinho, mas isso também passará, porque Jesus de Nazaré, o amigo incondicional de todas as horas, está no leme dessa nau, como governador desse Planeta de Provas e Expiações, razão de sua assertiva: “Do rebanho do meu Pai, nenhuma ovelha se perderá.”
A contrapartida dos passageiros é estarem serenos, guardando a certeza de que a agitação das provas faz parte do roteiro evolutivo dos filhos de Deus, a quem cabe, por seu turno, não esmorecer, confiar no Senhor da Vida, com fé e esperança, aproveitando a brisa suave da viagem de provas e expiações, pois a cada segundo, a cada minuto, tudo passará; basta recomeçar com bom ânimo.
Com essas reflexões, deposita-se o ósculo da fraternidade em seus corações, com a oblata do amor de Jesus, anelando-se votos de um ótimo fim de semana na paz do Celeste Amigo, tudo recomeçando com bom ânimo no aniversário do irmão maior, o Divino Galileu, com votos de um feliz natal e feliz ano novo para todos os evos.
Do amigo fraterno de sempre.
Jaime Facioli